Hoje, a Ministra da Educação sugeriu acabar com as retenções no ensino básico.
Eu à partida tendo a discordar - afinal, se uma pessoa não aprendeu a matéria, faz sentido que lhe volte a ser ensinada essa matéria até ela a conseguir aprender, em vez de passar para a matéria seguinte.
Uma analogia - imagine-se que se está a ensinar crianças a nadar; se, ao fim de um dado numero de aulas, uma criança ainda não aprendeu a nadar, o que se deve fazer? Continuar a tentar ensiná-la a nadar, ou (mesmo sem ela saber nadar) mandá-la para aulas de mergulho sub-aquático a alta profundidade? Imagino que seguir a segunda hipótese fosse provocar muitos afogamentos...
No entanto, a minha posição sobre o assunto não é muito forte, já que a experiência empírica dos países da Europa do Norte parece contradizer o que a lógica me diz (não têm reprovações, mas têm excelentes resultados educativos). Assim, incentivo os leitores a quw discutam o assunto na caixa de comentários.
31/07/10
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
7 comentários:
O papel do professor não é reter, chumbar ou passar os alunos. O papel do professor é ensinar e avaliar as aprendizagens e se for necessário, voltar a ensinar o mesmo, usando outra estratégia ou a mesma, depende.
Se um aluno, por exemplo, não atinge o objectivo pretendido de "Saber nadar." então mesmo passando de ano, pode ser possível tornar a ensinar-lhe como se nada, contudo, para que tal seja possível é necessário uma clarificação dos objectivos pretendidos e um registo rigoroso dos que foram e dos que não foram atingidos por cada um dos alunos.
É também necessário responsabilizar mais o aluno pela sua própria aprendizagem.
No exemplo dado, o aluno não deve ser enviado para a piscina, para fora de pé, se não souber nadar, sendo essa a responsabilidade do professor, mas, digo uma vez mais, é também necessário responsabilizar mais o aluno pela sua própria aprendizagem.
Claro que na prática a tarefa do professor se torna muito mais difícil, se na mesma turma, tiver alunos que não sabem nadar, alunos que nadam mal, alunos que já nadam e até alguns que tentam atingir os mínimos para irem às olimpíadas.
Miguel,
Nós não somos finlandeses e dificilmente poderemos sê-lo do pé para a mão.
A segunda parte deste post serve para ilustrar o que penso de mais esta decisão «window dressing».,
Pois. O problema é que depois não dispomos das estruturas e do pessoal para acompanhar devidamente os alunos que teriam sido retidos, até que estes recuperem.
Também há que ponderar o facto de, retido, o aluno passar para outro ambiente (novos professores, colegas...) e isso auxiliar ao fracasso como os principais indicadores o demonstram.
O importante é, para alguns dos casos de ritmos de aprendizagem diversos, manter a estabilidade(principalmente nos níveis de 1º e 2º ciclo) e procurar transmitir o maior número de conhecimentos possíveis.
Nem todos conseguirão fazer os 100 metros em menos de 1 min, mas já é bom que, pelo menos, não vão ao fundo.
Pois eu acho que a questão não tem sido bem colocada. Imaginemos uma turma não absolutamente atípica do 3º ciclo do ensino básico, sem grande ofensa ao rigor podemos dividir o rendimento escolar da generalidade dos seus alunos em quatro grupos:
- Grupo I: alunos que obtém uma maioria de notas de 4 e 5;
- Grupo II: alunos com métodos de trabalho razoavelmente sustentados e sem grandes dificuldades em transitar de ano;
- Grupo III: alunos com métodos de trabalho pouco consistentes que encontraram algumas dificuldades para transitar de ano (muitos terminaram o primeiro ou segundo período em situação de retenção) mas que acabam por ser bem sucedidos devido a algum esforço final (normalmente este é o grupo mais numeroso);
- Grupo IV: alunos que não transitam de ano (e aqui atenção: na esmagadora maioria dos casos, falamos de situações relacionadas com défices muito importantes de trabalho, de longe a principal causa de retenção).
A discussão sobre este assunto tem-se centrado exclusivamente nas alegadas vantagens/desvantagens da retenção sobre os alunos do grupo IV, mas a existência de reprovações tem também um papel importante no desenvolvimento do trabalho dos elementos do Grupo III. Desaparecendo as reprovações, desaparece também um dos maiores incentivos ao seu trabalho; tratando-se em geral de alunos pouco entusiasmados com a escola - independentemente da culpa ser dos professores, dos pais ou dos programas…- e com transição garantida, muitos deixarão de encontrar motivos para oferecer grande dedicação ao estudo.
Já agora, não me parece que a diferença dos nossos resultados com a dos países nórdicos se justifique por aqui; segundo os resultados do PISA 2003, só 5,4% dos alunos portugueses obtiveram as duas classificações mais altas a Matemática enquanto nalguns desses países a percentagem rondou 20%; ou seja, parecem também existir diferenças significativas de rendimento entre alunos que, em princípio, nunca chumbaram
Ora cá vai mais uma achega se tiverem a santa paciência de ler mais um texto muito interessante sobre o caso.
O link é o seguinte:
http://ma-schamba.com/politica-portuguesa/reprovacao/
(via Lusofolia)
A retenção em portugal não é mais que fazer passar o aluno pelos mesmos métodos de trabalho que lhe foram danosos. Trata-se de uma técnica de ensino tentativa-e-erro e o melhor que pode acontecer a um repetente é calhar com um professor diferente. Quando tal não acontece começam os traumas.
Que a medida da abolição de chumbos seja introduzida sem mais nada é um erro. Medidas destas são normalmente incluídas num pacote com outras medidas. Como ainda não me debrucei sobre a proposta em concreto fica em aberto se a imprensa empolou esta medida em particular para agitar as alminhas tão satisfeitas com a meritocracia ou, se por outro lado, a ministra está mesmo a trabalhar para os números de forma traiçoeira (aliás, como os índices bolsistas).
Enviar um comentário