16/10/11

O 15 de Outubro e o PCP

O texto da conferência de imprensa hoje dada por Jerónimo de Sousa consegue pelo menos duas coisas espantosas.

A primeira é o remate do discurso. JS consegue, em tom sério, afirmar que "saúda os trabalhadores e o povo português pelo vasto conjunto de lutas que têem vindo a realizar e que culminaram, nesta fase, na grande jornada de 1 de Outubro, destaca a importância da semana de luta decidida pela CGTP-IN a realizar de 20 a 27 de Outubro, ao mesmo tempo que salienta a necessidade de prosseguir, intensificar e alargar a luta de massas com a sua descentralização e multiplicação, com novas e mais fortes jornadas de convergência" — consegue afirmar tudo isto sem a mais pequena referência, apologética ou crítica, à jornada de ontem, 15 de Outubro de 2011. Como não é verosímil que nem ele nem os seus camaradas tenham dado pela mesma — como indica o facto de convocarem um "desfile de indignação e protesto" da sua lavra e sob a sua direcção exclusiva, iniciativa sobre a qual a Joana Lopes já disse o que há que começar por dizer —, somos já mais do que uma mão cheia deles a saber o que pensar do que significa "democracia" quando JS fala de unidade dos "democratas".

A segunda é o nacionalismo exaltado e exacerbado de todo o discurso. JS não só consegue ignorar soberanamente o internacionalismo que, à escala global, a jornada de ontem pôs em termos renovados na ordem do dia, como explicita que o seu unitarismo se resume a "um vasto movimento popular, que congregue todos os democratas e patriotas, e que tenha como objectivos centrais salvar o país, travar as injustiças, o desemprego e o empobrecimento dos portugueses" - deixando de fora todos aqueles que, como NÃO é só o meu caso, se reivindicam de um compromisso com a liberdade e a justiça democráticas estipulando a superação e o abandono das prerrogativas da "soberania nacional" no quadro de um quadro político mais vasto que implicasse o refoerço e propiciasse a extensão da participação dos cidadãos nas decisões que dizem respeito às condições colectivas da existência de todos e cada um.

25 comentários:

Anónimo disse...

Cada um exalta o umbigo que mais lhe convém e do qual mais se aproxima.
Por mim, que percorri o caminho entre o Marquês e S. Bento, prefiro exaltar a firmeza e unidade na acção.
Outros, como parece ser o caso do autor do post, não conseguem libertar-se de um estranho desejo de descobrir no PCP o seu inimigo principal.
Decididamente, assim não vamos a lado nenhum.
http://fjsantos.wordpress.com/2011/10/16/notas-soltas-sobre-o-15o/

Miguel Serras Pereira disse...

Fjsantos,
mas olhe que é JS quem fala, a 16 de Outubro de 2011, como se no dia 15 do mesmo mês nada tivesse acontecido. A tal ponto que, se não fosse o tal desfile a que me refiro no post, que é o reconhecimento indirecto de que qualquer coisa afinal se passa, se poderia pensar que o PCP não teve conhecimento da jornada de ontem.
Quanto à "unidade de acção", a verdade é que ninguém a pode desejar sem dizer de que acção está a falar , em vista de quê e em que termos. Temos de começar por nos entendermos sobre o caminho que queremos tomar - e se formos democratas teremos de o fazer em conjunto, entre iguais, e não nomeando um chefe ou direcção que decida disso por nós.
Se eu tivesse os dotes superiores da Gui, fazia-lhe um desenho. Assim, contento-me com estas razões. E espero ter sido claro q.b.

Sinceramente

msp

Anónimo disse...

Claro desde sempre, e não apenas na resposta ao meu comentário.
O argumentário anti-pcp é algo a que os seus leitores estão por demais habituados.
Se é trauma de infância, ou se as motivações são mais profundas, pouco importa.
Para mim o ponto é que o divórcio nunca tem um só culpado, mas isso é algo que ambos os membros de qualquer casal em litígio se recusam a aceitar.

Tb não tenho qualquer dote para o desenho, pelo que me abstenho sequer de tentar fazer-lhe um qualquer boneco.
FS

LAM disse...

Em vez de retratos, ou bocas, sobre os comentadores ou dos autores, todos ganhavam em discutir e/ou perceber as questões levantadas pelo post. São factos comprováveis mas que podem, e de certeza têm, diversas interpretações. Isso faz falta, o resto é fumaça.

Anónimo disse...

POis no Porto, alguns comunistas, militantes de base fizeram questão de marcar presença.

Anónimo disse...

pois em Lisboa, também muitos comunistas e militantes do PCP participaram na manifestação e na assembleia popular que se seguiu, como é o meu caso.
Joana

Anónimo disse...

secalhar devia ter levado um autocolante na testa a dizer "sou militante do PCP" ..

tiago mota saraiva disse...

Caro msp, constato o seu empenhamento em afastar o PCP do movimento. Mas eu é que sou o sectário.
De qualquer forma, tal como outros que aqui comentaram, sentindo que há um dedo em riste para com os comunistas, declaro que eu também estive na manifestação de Lisboa e que houve comunistas a intervir na Assembleia.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Tiago Mota Saraiva e outros caros comentadores,

não nego a presença de militantes do PCP no 15 de Outubro, nem me escaparam os esforços de outros que, como o Tiago, divulgaram e apoiaram a preparação da jornada. São factos com os quais me congratulo e que aplaudo.
A questão que ponho no meu post é a da atitude dos responsáveis do PCP perante a manifestação (a ignorância pura e simples, que a participação de militantes da organização torna ainda mais grave) e a concepção sectária e dirigista da "unidade na acção", do "movimento popular", etc. que o discurso de JS veicula. Além disso, num momento em que entra pelos olhos dentros a natureza europeia, por um lado, e, por outro, directamente global, da chamada "crise" - e em que devia ser óbvio que, na Europa, as acções concertadas, passando por cima das fronteiras e apostadas na criação e extensão de uma cidadania activa comum, são a via de qualquer ruptura consequente e eficaz com as políticas da oligarquia e dos "eurocratas" -, assinalei também o perigo do nacionalismo extremo da retórica de JS. E mantenho aqui que dificilmente poderia haver combinação mais desastrosa em termos de extensão e conquista das liberdades e direitos democráticos e da sua intervenção ao nível internacional e global do que a mescla de nacionalismo e dirigismo que assim deixo caracterizada. É como se dissesse ao TMS e aos outros que aqui escrevem mais ou menos o seguinte: Não me parece que seja agindo e lutando do modo que JS estipula que podemos alcançar os fins que vocês defendem e a correspondente transformação democrática radical da sociedade, assenter na gestão igualitária da economia e na participação governante daqueles a que sugestivamente os "acampados" americanos chamam os 99 por cento. Claro que o faço a partir da ideia que aquilo que importa é pôr a grande maioria das mulheres e dos homens comuns a governar em vez de lhes oferecer, subordinando-os a eles, a melhores ou mais competentes governantes. Se é esta ideia que o TMS e os outros comentadores - não me refiro ao LAM - contestam, que o digam. Se a aprovam, então terão de aceitar que se discutam os meios e as vias capazes de a actualizar e pôr em prática no "regime" do movimento que dessa ideia se reclama.

Saudações democráticas a todos

msp

LAM disse...

Não está em causa a participação individual de muitos militantes ou simpatizantes do PCP no 15-O. No Porto encontrei alguns. Na minha opinião nem sequer o chamamento direto do PCP, enquanto estrutura partidária, à participação na manifestação. Embora aqui também não gostasse de ver o PCP, a 24 horas do 15-O, e quando a divulgação era escassa passando
pouco além das redes sociais, a anunciar (6ª feira, 14 de Outubro), a sua manifestação para...3ª feira. Se, com todo o direito e talvez justificadamente, não lhe queriam fazer publicidade, também escusavam de concorrer para lhe tirar protagonismo (recordo que esse anúncio, a 24h do 15-O, mereceu honra de chamada a 1ª página no Público na internet, pelo menos), enquanto a generalidade dos órgãos de comunicação continuavam a fazer silêncio sobre o 15-O, o que só se veio a inverter no próprio dia perante o anúncio de "sangue" para abrir telejornais. O que já custa mais a entender foi a ignorância a que as estruturas sindicais votaram o movimento, portando-se como dependentes exclusivas duma única agenda partidária, o que, fosso cavado, não foi nada de bom para o 15-O, nem augura nada de bom para futuras contestações sindicais.

Anónimo disse...

Enquanto o PCP for como é, (e não há indícios de que mude) permanecerá sujeito fácil de uma velha metáfora: "Preso por ter cão e preso por não ter".

Com efeito, faz tanto sentido questionar o facto de JS não ter declarado de forma explícita a adesão do partido à manifestação de 15 de Outubro, o que é facilmente entendido como "os tipos estão contra", como faria sentido questionar se a apoiasse, o que seria entendido como "os tipos querem controlar".

Contudo, o dilema é da exclusiva responsabilidade do PCP.

nelson anjos

Miguel Serras Pereira disse...

Caro LAM,
eu também não acho que o PCP enquanto tal devesse ter apelado à participação na manif.
Mas que se fale da necessidade de reforçar o movimento popular e se apele à unidade como faz JS sem referir o 15 de Outubro é uma história muito diferente. Como a convocação de um "desfile de indignação" para terça-feira, como se nada tivesse existido no sábado.

Entretanto, na caixa de comentários do post da Joana Lopes que o meu post cita, encontramos o seguinte testemunho assinado por "Folha Seca": "ontem quando parei e fui retrocendo para tentar ver a cauda do desfile, encontrei um velho amigo dos meus tempos de militante do PCP. É um quadro destacado para uma das áreas de trabalho. Neste caso a agricultura. Entre dois dedos de conversa, não dava para muito mais. A procupação que me manifestou, foi: Mas quem é que vai liderar isto? Acho que é esta a preocupação". Ora, é no facto de a "preocupação" ser esta que o ponto bate. Porque, trocada por miúdos, o que a "preocupação" diz é o seguinte: queremos mudar isto tudo, fazer cair o governo, assegurar a soberania nacional, combater o empobrecimento, etc., etc., mas nada disso se pode fazer sem que o papel e o estatuto de quem dirige se mantenham, porque tem de haver quem decide e quem executa e nós queremos ser nós a decidir. O "nós" é, para quem assim se "preocupa", o Partido, e são, dentro do Partido, os membros da direcção. Os "divisionistas" e os "sectários" são os outros. Que não se querem deixar mandar por decisões em cuja deliberação não possam participar como iguais.

msp

Miguel Serras Pereira disse...

O problema é, com efeito, esse, camarada Nelson. Assino por baixo (ainda não tinha lido o teu comentário quando escrevi o meu anterior).
Abraço

msp

LAM disse...

Em minha opinião há duas questões que, juntas, são de difícil equação. Penso até que isto foi abordado (creio que) por aqui num post mais abaixo sobre o OccupyWallStreet: como dar perspetivas ao movimento para que não demos por nós, um pouco mais à frente, a meter lá um outro Sócrates qualquer e assim dar-mos continuidade ao vira-o-disco e toca o mesmo?
Essa preocupação passou por algumas intervenções a que assisti neste 15-O, muito justamente. O que eu pedia numa primeira fase aos partidos políticos é que o "pânico" às massas sem direção e incapazes de perspetivas políticas estruturadas, não se transformasse na menorização se não quando no boicote, a esses movimentos. Há que começar a objetivar numa base muito e cada vez mais alargada soluções políticas capazes de, com clareza, e tendo em conta as diferenças políticas e até ideológicas da massa dos descontentes, apontar caminhos que, sem tibiezas ou lacunas de discurso, apontem soluções alternativas. Os partidos da esquerda, nenhum está excluído dessa obrigação, podiam ajudar muito aí.

Miguel Serras Pereira disse...

Não me parece, camarada LAM, que os partidos de esquerda existetes possam ajudar muito, pois, para isso, teriam de começar por empreender uma autêntica transfrormação radical a nível inerno, que infelizmente não parece anunciar-se (nem no BE, nem no PCP, nem no PS - também vi que estiveram nas manifs. militantes e/ou simpatizantes conhecidos do PS…). Mas se disseres que os militantes desses partidos - e até gente que tem votado ou militado nos outros - não só pode ajudar como é absolutamente indispensável que o faça para que alguma coisa mude e se evite o pior, estou totalmente de acordo.

msp

LAM disse...

caro Miguel,

Não sou contra os partidos nem acho que os partidos sejam todos iguais como às vezes vira moda. Em muitos casos esse discurso tem partido de quem acaba não só por votar em partidos como, por essa via, lá colocar o pior que os partidos têm. Os partidos são ferramentas de expressão de vontades políticas. Se muitas vezes acabam por se fechar neles próprios, cavando vícios de estrutura e de horror às massas, é nesse "contágio" e na participação na luta cívica, na colocação de novos desafios e da resposta que lhes é exigida que podem reverter as suas práticas. Acredito que isto é uma coisa dinâmica.

Anónimo disse...

Para a próxima o PCP vai com bandeira e carro de som. Vai-se meter mesmo à frente da manif. talvez assim gostem.
O PCP apoia todos os movimentos de massas que sejam coerentes e que apresentem um manifesto que subscreva.

Não houve nenhuma "imposição" dos "controleiros" para que não se fosse a esta manifestação. Dirigentes de "topo" estiveram lá, tal como alguns deputados. Não foram com cartazes na testa, e só foram entrevistados para as TVs porque foram solicitados para isso.

QUerias mobilização geral do PCP? Se acontecesse vinhas a público a dizer que era aproveitamento politico de uma luta que não é dos partidos...

e a tua mobilização para as manifs da cgtp?

Miguel Serras Pereira disse...

Caro LAM,
não sei se me expliquei bem. Mas a minha posição não é contra a existência "dos partidos ou formas de expressão organizadas por grupos de cidadãos interessados em dar a conhecer as suas opiniões e propostas aos demais"; mas é, sem dúvida, a favor da "transformação radical das formas de organização existentes ou da criação de novas formas de associação política que nos permitam operar a substituição do voto em partidos comandados por políticos profissionais pela eleição de delegados, com partido ou sem ele, que mandatemos - possamos regularmente revogar segundo procedimentos simples e claramente definidos - e sejam responsáveis perante os eleitores e não partidos representativos no exercício das tarefas comuns cujo desempenho o exija". Ou seja, trata-se, por exemplo e entre outras coisas, de substituir "o voto que esgota, e exclui até à convocação de novas eleições gerais, a participação governante pelo voto que reforça e traduz essa participação permanente, que é uma das condições da cidadania" (Cf. http://viasfacto.blogspot.com/2011/05/reflexoes-pre-eleitorais-nenhum-partido.html).
Assim, quando digo que "Nenhum partido nos representa", não quer dizer que não reconheça a necessidade de partidos ou formas de associação política militantes - bem pelo contrário. Só que, para o efeito que é a democratização radical do exercício do poder político na cidade e na produção através da participação e do auto-governo dos iguais, nem todos os partidos ou organizações são, como já disseste e muito bem, a mesma coisa.

Abraço

msp

Anónimo disse...

Reforma ou Revolução? Ultrapassar a mistificação centralista e burocrática dos partidos ditos " operários " é condição indispensável -dinâmica e apelativa - e que mexe sem apelo nem agravo com esta ordem de questões: 1. A perspectiva de Greve Geral pode ser dinâmica se partir para a criação, ao nivel das bases- industriais,tecnicas e do Ensino- de comités de greve eleitos, revogáveis e responsáveis diante das assembleias de grevistas.;2) O peso burocrático das Centrais Sindicais é ainda esmagador, mesmo num periodo de profunda crise de modelo capitalista como o que se vive actualmente. A ausência de estruturas sindicais- autónomas e independentes- que afrontem o capitalismo e apontem para uma perspectiva real de subversão do " sistema ", acabará por " legitimar " as soluções reformistas mais ou menos " habilidosas " que forem negociadas pelas direcções sindicais com os partidos do Estado;3). Como assinala, e bem, MS. Pereira, a " participação e o auto-governo dos iguais " que fomentam e desenvolvem a " democratização radical do exercício do poder político na cidade e na produção ", parece ser a única via de libertação efectiva, prolongada e profunda dos assalariados em luta, ultrapassando os " especialistas " e iluminados que vivem com um " Comité Central " na cabeça- como dizia um grande filósofo nos seus tempos de ouro post- Maio 68.O Bloco de Esquerda tem uma grande responsabilidade histórica pela ultrapassagem ( ou não) do impasse político-organizativo,programático e de liberdade real- que impotencializa a autonomia das classes em luta pela igualdade social e económica totais. " A exploração na sociedade contemporânea realiza-se cada vez mais sob a forma da desigualdade na hierarquia; e o respeito do valor da hierarquia, apoiado pelas organizações " operárias ", transforma-se no mais decisivo apoio ideológico do sistema ", C.Castoriadis,in" Proletariado e Organização ",vol.II. Niet

LAM disse...

Miguel,

Também concordo com uma "transformação radical das formas de organização existentes ou da criação de novas formas de associação política que nos permitam operar a substituição do voto em partidos comandados por políticos profissionais pela eleição de delegados, com partido ou sem ele,". A diferença está, talvez, em que eu acho que isso se faz, ou vai fazendo, na luta diária, no combate pelas imensas causas que são comuns a gentes com partido e sem partido. E penso que essa unidade na luta é cada vez mais premente, não estando as batalhas que se aproximam em condições de dispensar quem quer que seja.

Niet,

Não sei se será o Bloco de Esquerda, concordo no entanto que a haver uma alternativa política futura, desburocratizada e capaz de congregar de forma livre projetos que "ultrapassem o impasse político-organizativo"; será qualquer coisa que, no momento actual e atendendo ao quadro geral dos partidos/movimentos políticos existentes, estará mais próxima daquilo que é o Bloco de Esquerda.

abraços.

Miguel Serras Pereira disse...

LAM, se é isso que pensas, nisso estamos de acordo. Não creio ter dito outra coisa. E, se me expliquei mal, aqui fica a emenda.

Niet,
talvez eu seja mais pessimista do que o LAM sobre o BE, mas também penso que é na área dos que têm ou votado ou participado em iniciativas suas que poderá estar parte do "sal da terra". Não só, mas também…
Mas, sobretudo, sublinho a frase do Castoriadis que citas: "A exploração na sociedade contemporânea realiza-se cada vez mais sob a forma da desigualdade na hierarquia" - é essa, com efeito, a mola real do regime daquilo a que chamamos governo e daquilo a que chamamos gestão da economia. E daí que a democratização efectiva dessas esferas deva ser ao mesmo tempo o nosso objectivo e o nosso ponto de partida.

msp

Anónimo disse...

LAM e MS.Pereira: Três pormenores sobre o estatuto dos Conselhos Operários em tempo de crise quase " sistémica " do sistema capitalista. Comentando o grande livro de Pannekoek sobre " Os Conselhos Operários ", Paul Mattick salienta três observações muito pertinentes: 1). " Toda a greve, manifestação, ocupação, toda a actividade anticapitalista que é ignorada pelas organizações operárias tradicionais e escapam ao seu controlo, tomam a forma de uma acção independente da classe operária que determina ela própria o seu modo de organização e o seu modo de existência. Podem, portanto, serem consideradas como um movimento de Conselhos "; 2). " A forma dos Conselhos Operários é a única forma de acção da classe operária possível- possível, sublinho!- nas condiçõs em que todas as instituições e organizações estabelecidas se tornaram apoios do statu quo ";3). " No interior deste processo, os operários são " organizados " em classe oposta à classe capitalista. O lugar da sua exploração é também o da sua emancipação onde,pelo menos,da sua resistência à opressão capitalista. " Organizados " pelos seus mestres em fábricas, em industrias, em grupos ou em secções separadas da classe operária, os trabalhadores apropriam-se " dessas organizações ", utilizam-nas, debaixo do seu própria e exclusivo ontrolo, nos seus esforços de se tornarem independentes. Escolhem os seus membros nas suas próprias fileiras, impondo-lhes a revocabilidade a cada instante. Deste modo, a divergência entre a classe operária e a sua (auto) organização, que se criou historicamente com as organizações institucionalizadas, acaba por ser suprimida na nova desarmando do mesmo modo a contradição aparente entre organização e espontaneidade ".
Hoje, a tradição de greves " selvagens " ou à margem das lutas economicistas " recuperadas " pelos reformistas de todos os quadrantes, ainda se verificam em França: caso da prolongada luta e ocupação durante mais de um ano de uma fábrica da multinacional alemã dos pneus, Continental, e as greves exemplares de autonomia e luta levadas a cabo pelo poderoso sindicato autónomo dos CTT franceses,o Post-Sud. A imposição da hierarquia pelo partido- normas e funcionários- aos sindicatos assumiu contornos de fatalidade histórica irrecuperáveis na Revolução Russa, logo a partir de 1918, conforme refere Castoriadis numa célebre análise-" O papel da ideologia bolchevique no nascimento da burocracia", datado de 1964, com inúmeras interferências e aproximações históricas e teóricas com as análises de Pannekoek e Mattick. Salut, Liberté et Égalité! Niet

Anónimo disse...

Clown vampiresco blinda(-se) no Blogue colectivo e ataca/persegue elementos trotskistas da revista Rubra, que colaboram no dito blogue.
Um processo político de greve vive paredes meias com estes fait-divers de muito mau gosto e futuro. Está-se para entender o alcance de " disparates " como o praticado por este arauto da falsa modernidade e do marxismo letal dos Goulags.Trata-se, efectivamente, de uma enorme provocação feita ao espírito de diálogo e de discussão fundamentais. Com certeza, Raquel Varela está a deixar passar algum tempo de reflexão para assumir publicamente uma posição clara e determinante contra a discriminação de que ela e os seus companheiros são alvo. Como assegura Pannekoek, " Quando os inimigos se apresentam travestidos em amigos e quando examinando a diversidade das opiniões, cada partido tem tendência a considerar todos os restantes como perigosos para a classe, quem deve determinar o verdadeiro e o falso? Os trabalhadores, seguramente; devem encontrar o seu caminho nesse dominio como em todos os outros: (...) Só permanecendo abertos a todas as ideias que o surgimento de um mundo novo engendra no espirito dos homens, colocando-os à prova e escolhendo as que lhe convém,, exercendo o seu julgamento e as suas faculdades mentais, colocando as suas próprias conclusões em prática, que a classe operária alcançará a superioridade intelectual necessária para dominar a potência do capitalismo e construir a nova sociedade ". Salut! Niet

Miguel Serras Pereira disse...

Niet,

não compreendi grande coisa deste teu comentário, que ma parece, de resto, postado em sítio pouco próprio.
Nada tenho a ver com o facto - se é disso que se trata - de a Raquel Varela, o Renato Teixeira e eventualmente mais alguns estarem a ser objecto de censura. Nem eu nem este blogue fomos tidos ou achados nesse episódio. Nem nenhum autor de posts censurados alhures nos deu conhecimento desse facto ou pediu a divulgação do mesmo.
Portanto, desolado, meu caro - mas, de momento, nada mais tenho a dizer, a não ser que estranho que levantes aqui esse problema.

Lucidez e serenidade, como aconselha o Luís Januário. Se queremos que a luta continue.

Salut

msp

Anónimo disse...

MS.Pereira: Trata-se de um comentário - desabafo- sobre uma situação insustentável. Também tu- como eu- não podemos comentar os dislates que são escritos por esse amanuense de péssimo recorte ético e político. Eu aguardei um post-reacção da Raquel Varela, que tarda. Por isso, enquadrei o chocante acontecimento na necessidade de liberdade e abertura totais para a autonomia do proletariado.Claro, conheço mal a Rubra- ou quase nada- e não meto toda a gente no mesmo saco. São coisas de princípio, elementares- e mesmo um fogoso trotsquista ortodoxo como o Renato Teixeira- pelo que leio- jamais lhe passaria pela cabeça de se blindar no seu espaço de comentário. Espero que compreendas o meu gesto, portanto. Salut! Niet