A Joana mostra bem neste post como aquilo a que Castoriadis chamava o "pacifismo zoológico" inspira a imbecilidade diplomática dos oligarcas do Ocidente. Mas, se não me engano muito, haverá na "esquerda" mais rubra quem veja nisto uma derrota, não da liberdade, mas do imperialismo — ainda mais preciosa e mobilizadora por ter por teatro a "Europa decadente".
As fotografias mostram um baixo-relevo no Palácio das Nações Unidas em Genebra, («A criação do homem», uma obra onde é representado um homem nu), tal como é, e tapado antes da chegada da delegação do Irão a uma reunião dos membros permanentes do Conselho de Segurança, para não chocar aquela delegação.
E, no entanto, se eu quiser desembarcar em Teerão, terei de o fazer de cabeça tapada – razão pela qual, até hoje, resisti a visitar um país que todos dizem ser lindíssimo.
O Ocidente rastejando, vá lá saber-se com que vantagens e para quem.
11 comentários:
Ola,
Posso fazer um comentario um pouco provocador (pergunta retorica, que não diplomatica) ?
O que a Joana Lopes pergunta é quais são as vantagems de os membros permanentes do Conselho de Segurança negociarem com uma delegação do Irão ?
Ora bem, assim de repente, ocorrem-me algumas, provavelmente em numero superior às desvantagens que adviriam de uma recusa de qualquer negociação, ainda que fundamentada nos motivos mais nobres...
Ja agora, os membros permanentes do Conselho de segurança, mesmo quando adoptam uma postura que pode parecer rastejante vista ao longe, não representam propriamente o Ocidente, com ou sem maiuscula, nem mesmo quando se reunem em Genebra...
Dito isto, é insofismavel que a simbologia é infeliz. Tal era provavelmente o objectivo dos Iranianos. Mais uma razão, a meu ver, para não nos deixarmos distrair pelo cenario, como é razoavel exigir-se de uma diplomacia que, por definição, so pode ser "humana demasiado humana"...
Abraços
Caríssimo, não me parece que a Joana ponha em causa a utilidade de negociações ou a necessidade da diplomacia. Mas isso, terás de lhe perguntar a ela.
Mas convenhamos que há uma certa diferença entre a cortesia aconselhável nestas matérias e a adulação subserviente. E o caso torna-se ainda mais - e não menos - escandaloso se tiver resultado de uma imposição dos membros do Conselho de Segurança. A sanha da oligarquia europeia contra os de abaixo - los de abajo - no seu território é directamente proporcional à sua pusilanimidade, calculismo de vistas curtas e desrespeito pelo melhor do legado ocidental na cena da política global.
Suponho que, apesar dos teus reparos, estamos de acordo quanto ao fundo do problema.
Abraço
miguel (sp)
Caro Miguel,
Concordamos. Compreendo a intenção do post da Joana Lopes e simpatizo.
No entanto faz me espécie o deslize "o Ocidente c/ o Irão" porque esta forma de apresentar as coisas oculta que o Irão faz parte das NU (que não são "o Ocidente") e que é, julgo, do nosso interesse a todos que assim aconteça, o que implica que ele continue a considerar-se parte.
Como sabemos, porque o Irão esta longe de ser o primeiro Estado a fazer este tipo de chantagem, ha limites para os sacrificios que podemos fazer. Mas, não me parece evidente que a nossa primeira inclinação va no sentido de subavaliar estes limites. Ha bons argumentos para defender que, muitas vezes, o que sucede é precisamente o contrario...
Quanto aos factos, realmente não sei o que tera estado na origem do episodio barroco a que se refere a Joana Lopes. Que pede uma explicação, parece-me obvio. No entanto, pela parte que me toca, não me vou precipitar a imputar o incidente a "subserviência", ocidental ou outra, em relação ao Irão...
Abraço fraterno
Talvez, João. Talvez… Mas seria razoável que se pusesse como condição - de orgem "ocidental" ou não "ocidental" - da visita ao Irão de uma delegação das Nações Unidas a dissimulação por meio de cortinas ou fachadas postiças da principal mesquita da cidade anfitriã? E, caso essa imposição fosse adiantada e acolhida pelas autoridades iranianas, não teríamos de interpretar esse gesto como uma capitulação ou uma cedência humilhante?
Abraço
miguel (sp)
Ola de novo,
Como disse, ha provavelmente explicações a pedir acerca do incidente que, tanto quanto percebo, é relativo ao edificio da ONU em Genebra (edificio que supostamente é também um bocadinho a casa do Irão).
Mais uma vez, as minhas reservas nada têm que ver com apego a um qualquer relativismo, completamente descabido neste caso. Apenas com o facto de estarmos a falar do Conselho de Segurança da ONU.
Vejamos as coisas sob o seguinte prisma : supondo que a alternativa a negociações de paz, que seria mandarmos ja uma força armada para o Irão para ensinar esta gente a ter modos (e por tabela a não construir bombas atomicas), parece dificilmente praticavel antes de se esgotarem todas as hipoteses de negociação pacifica, sob pena de estarmos debaixo de severas criticas, por exemplo em posts de protesto da Joana Lopes, parece que sempre temos de arranjar espaço para "esgotar todas as possibilidades de negociação", provavelmente ao ponto de fazer algumas cedências barrocas.
Ou não ?
Abraço
João Viegas, isso é o que se chama «couper les cheveux en quatre»!
Pergunta inocente: se tiver lugar uma qualquer reunião da ONU em Teerão, e se uma delegada do tal «ocidente» for de mini-saia, o governo iraniano deixa-a participar para não esgotar todas as possibilidades de negociação? Claro que não. Assim sendo, os outros devem, em paternalismo bacoco, tratar os iranianos como mentecaptos?
Not my point, cara Joana Lopes, not my point.
Que o que aconteceu foi infeliz e que é indesejavel, nada mais certo. Desejavel, seria haver verdadeira democracia no Irão (e não so), respeito das liberdades fundamentais, dos direitos das mulheres, etc.
Mas entretanto, o que fazemos ? Deixamos de negociar ? Expulsamo-los da ONU ?
E' que v. esta a partir de um principio errado : à partida, o interesse em sentar-se à mesa das negociações não é valorizado da mesma forma pelos representantes do Irão e pelos membros permanentes do CS...
E, neste caso, a negociação não é propriamente acerca de interesses comerciais...
Ha um limite à cedência perante a chantagem, todos sabemos disso e estamos todos lembrados da célebre frase de Churchill a seguir a Munique. Mas também não podemos ver um Munique a cada esquina, sob pena de estarmos em guerra perpétua contra "as forças do mal", para maior proveito destas ultimas, alias, sejam elas quais forem...
Mais uma vez, qual era a alternativa, no seu critério ?
Boas
Mas sabe se o Irão exigiu alguma coisa ou se foi pura parvoeira local? A notícia não esclarece.
Ola,
Não sei não. De facto, se se trata de uma antecipação zelosa, a initiativa seria não so infeliz, mas cretina... Como disse, eu percebo o post e acho legitimo pedir explicações.
So me pareceu excessivo falar ja em subserviência, e mais ainda no "Ocidente rastejando". Pelo menos perante os (poucos) elementos de contexto dados no artigo.
Boas
Joana e João, eu inclino-me mais — mas é um feeling — para a pura parvoeira local.
Por outro lado, se tiver sido uma cedência perante eventuais exigências iranianas, não sei se o gesto não será ainda mais lamentável. É que, tendo embora em conta todas as reservas do João, já seria cortesia diplomática bastante mudar o lugar da reunião para outro ponto da cidade, ou fazer entrar os iranianos por outra porta. Abjurar da iberdade de representação e exposição da nudez numa obra de arte icónica do melhor que uma parte do mundo produziu é ceder demasiado para o que se pode ganhar. Ou melhor, não é negociável.
miguel(sp)
As negociações do Grupo dos 5 com o Irão não podem falhar: Por causa da paulatina distanciação politica entre os USA e Israel; do crescente papel militar autónomo da Arábia Saudita no Médio Oriente, fazendo o jogo de parceria com os "falcões" de Netanyahou que, sem olharem a meios, querem destruir a Siria e o Irão, que só se podia consumar, contudo,com o aval e os meios de ataque usados exclusivamente com os aviões dos USA... Tudo isso, constituem itens pesados de uma grande alteração estratégica global no Médio Oriente, que desfavorecem e invalidam as chantagens da direita isarelita e seus aliados regionais. Só que, com a nova e crescente supremacia russa na geoestratégia do M.Oriente, e as novas linhas de força da politica internacional de Obama- que quer evitar custe o que custar dramas insanáveis como os da invasão do Iraque,os do tipo-pântano étnico, estilo Afeganistão e Libia ou os do tipo caos total que cresce na Somália ou na África Central... -acabaram por marginalizar as pulsões belicistas do PM israelita e seus apaniguados, hoje, dados como marionetes do estilo nauseabundo dos próceres do Tea Party, rumor venenoso que corre nos lounges sociais e partidários de Washington, e que faz com que as novas gerações judaicas norte-americanas se distanciem dia-a-dia cada vez mais da politica oficial de Telavive. Niet
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