Já muito foi escrito sobre a carta que o papa dirigiu anteontem aos católicos da Irlanda (na íntegra, em espanhol, aqui), a propósito de pedofilia. Que ele se diga consternado e exprima remorsos e arrependimentos colectivos por tudo o que agora vem à luz do dia, não só na Irlanda mas um pouco por todo o mundo, talvez seja importante mas diz-me muito pouco. E é certamente música para violinos de orquestras celestiais que, numa secção intitulada «Medidas concretas para abordar a situação», a primeira seja que «a Quaresma deste ano se considere um tempo de oração» (…), com um convite para que seja «oferecida para esse fim, durante um ano, desde agora até à Páscoa de 2011, a penitência das sextas-feiras».
Mas dou importância, sim, e estou 200% de acordo, com alguns porta-vozes das reacções das vítimas, que se indignam por Bento16 não ter reconhecido o papel da igreja no encobrimento de tudo isto, durante décadas ou mesmo séculos. Também quando dizem ser absolutamente inaceitável que o cardeal Brady, principal responsável da igreja irlandesa, não assuma a sua parte de responsabilidade e não resigne, e que bispos e padres implicados no escândalo continuem a exercer as suas funções.
Mais ainda, e como muito bem pergunta o incansável Hans Kung: não seria este o momento adequado para o próprio Bento16 se reconhecer como co-responsável directo, ele que foi arcebispo de Munique entre 1977 e 1982, local e época onde, sabe-se agora, houve centenas de casos de abusos?
Nada disso aconteceu ou vai acontecer. Dentro de dois meses, o papa já terá vindo a Portugal, numa vista não só religiosa mas também de Estado, que deveria, mas não vai ser, um pouco chamuscada por tudo isto.
4 comentários:
Bento16 é apenas mais um dente da engrenagem.
Acho que não há crime mais horrendo do que o crime de pedofilia.
E, provavelmente, ainda vai fazer uma homilia a criticar a pedofilia ( dos outros) e o casamento entre pessoas do mesmo sexo.
Apenas um dente, cara Bolota, mas de elefante. E por a pedofilia ser o que é, a condenação agora feita deveria ter sido mais consequente.
Pois, Carlos B. de O., é bem provável que, na vista a Portugal, não se esqueça de recomendar «bons costumes». O elogio aos valores da família não escapará...
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