Um vínculo assim não é daqueles que a morte dissolve.
30/04/12
O nojo dos outros
Um vínculo assim não é daqueles que a morte dissolve.
Soberanismo e Estados-vassalo
Dando conta dos esforços do governo espanhol no sentido de obter condescendência das autoridades alemãs, El País noticia: Hasta tres miembros del Gobierno participarán este lunes en Santiago de Compostela en unas jornadas sobre Europa que contarán con la presencia del titular alemán de Finanzas, Wolfgang Schäuble, y otros altos cargos alemanes, ante quienes expondrán la agenda de reformas del Ejecutivo español.
Não é segredo para ninguém que o governo da Alemanha tem vindo a desenvolver cada vez mais abertamente uma "política de potência" que reduz à condição de Estados-vassalo os restantes membros da UE. E que nessa tarefa tem sido secundado, com mais ou menos entusiasmo e/ou resignação, por diversos governos nacionais e pelas fracções hegemónicas da oligarquia de cada um dos demais países, que, de resto, invocam abertamente a "vassalagem" e as suas obrigações como justificação das suas medidas mais antipopulares. Mas, entre os que mais ruidosamente parecem opor-se a esta situação, invocando a "soberania" e a "independência nacional", são muitos os que não compreendem que é a subsistência dos diversos Estados-nação no interior da UE, impedindo, através da oposição à integração política, a integração orçamental, fiscal e dos regimes "de segurança social", etc., etc., que permite e alimenta tanto o governo alemão da UE como a vassalagem dos restantes governos.
Ora, apesar de tudo, não é muito difícil compreender que o governo federal de uma UE politicamente integrada teria por efeito impedir situações como as que a notícia acima transcrita ilustram, e que, ao mesmo tempo, essa integração permitiria que os cidadãos das diferentes regiões da Europa pudessem responsabilizar mais facilmente os governantes, despojando-os do alibi de Bruxelas ou Berlim — o que poderia ser um primeiro passo na criação de condições mais favoráveis ao desenvolvimento de um projecto de democratização instituinte contra as oligarquias que hoje se esforçam por agravar a sua vassalagem, expropriando-os do direito de participarem entre iguais nas decisões que os governam e negando-lhes a independência democrática da cidadania activa, tanto no interior da potência hegemónica como em cada um dos seus Estados-vassalo.
28/04/12
Quando andava no liceu, uma professora contou que no tempo dela eram proibidos ajuntamentos de mais de 3 pessoas
A Polícia de Segurança Pública considera que "duas pessoas já fazem uma manifestação" e que qualquer manifestação tem de ser comunicada à Câmara Municipal. É esta a justificação dada para que a PSP tenha proibido a presença do Movimento Sem Trabalho junto de um centro de emprego de Lisboa, em Março. Quinta-feira uma das ativistas foi constituída arguida "por crime de desobediência".[Via Esquerda Republicana]
Um membro do Movimento Sem Trabalho foi chamado quinta-feira à Divisão de Investigação Criminal da PSP, constituído arguído e acusado de "crime de desobediência", porque, a 6 de março - dia Mundial do Desempregado -, participou numa manifestação de "quatro elementos que tentaram distribuir panfletos sobre as ações dos Sem Trabalho à porta do Centro de Emprego do Conde de Redondo", em Lisboa, conta Ana Rajado, uma das dirigentes do movimento criado em março.
Sintoma da maré em mudança
27/04/12
O Poder da Fontinha
25/04/12
Re: E se em 74?...
Sem 25 de Abril, o mundo não evoluiria de forma muito diferente. A guerra colonial teria de ter uma solução política, sob pena de o país acentuar a sua situação de pária à escala internacional. A então CEE e os gringos derrotados no Vietname, mas a não quererem perder a África Austral para a órbita soviética, constituiriam o isco e a pressão à negociação política. Uma evolução política à espanhola seria incontornável.É sempre complicado fazer estes exercícios contra-factuais. No entanto, uma coisa é certa: a evolução espanhola não teria sido como foi. Adolfo Suaréz teve que travar intensas batalhas com a linha dura (inclusive, uma das condições que pôs para legalizar o PCE foi que este fizesse um comunicado chamando-o de "fascista" e "reaccionário", para tranquilizar os militares), e um dos poucos argumentos que tinha disponíveis para defender a reforma era o "se não abrirmos por nós, acontece-nos como em Portugal". E a transição democrática espanhola passou por momentos tão delicados (Operação Galáxia, 23-F,...) que é legitimo pensar que bastaria algo ser ligeiramente diferente (como não terem ao lado Portugal, quer como exemplo de democracia a funcionar na Península, que como exemplo do que acontece se não abrirem gradualmente) para as forças conservadoras terem ganho.
E se a transição espanhola já de si teria sido mais lenta, é de esperar que uma hipotética transição portuguesa ainda mais lenta teria sido, já que em Portugal não havia uma coisa que houve em Espanha - um rei ao lado dos reformistas (eu tenho a teoria que um rei tem mais poder para fazer reformas que um primeiro-ministro ou um presidente da república, já que as pessoas que em principio seriam contra as reformas - e que iriam conspirar contra um primeiro-ministro ou um presidente reformista - tendem exactamente a ser aquelas com maior veneração pela instituição monárquica).
Aliás, nós tivemos a experiência de uma abertura, com a CEUD, a "ala liberal", etc. e tudo isso estava em retrocesso (ou tinha praticamente terminado) em 1974, pelo que provavelmente iria demorar algum tempo ao motor reformista voltar a pegar; e, nomeadamente na hipótese do 25 de Abril ter sido dominado (em vez de nunca ter existido), o resultado teria sido exactamente o reforço dos duros do regime (talvez com a substituição de Caetano por Kaulza da Arriaga?) - afinal, se olharmos para o PREC, a regra foi sempre essa: o golpe falhado de uma facção levava sempre ao reforço da facção contrária.
Quanto ao cenário internacional, é um pau de dois bicos: a partir de 1976, com Carter na presidência dos EUA, realmente houve uma pressão para as ditaduras do bloco ocidental se democratizarem; mas a partir da eleição de Ronald Reagan, a tendência voltou a ser a de apoiar os regimes capazes de resistir ao "comunismo internacional" - nesse tempo, a embaixadora dos EUA na ONU, Jeanne Kirkpatrick, era a grande teórica da doutrina de apoiar os regimes "autoritários" contra os "totalitários" (não é muito claro porque é que, nesse esquema, a Arábia Saudita contava como "autoritária" e a Nicarágua sandinista como "totalitária", mas isso já outra discussão). Assim, se o regime não se tivesse democratizado até 1980, provavelmente só o seria na segunda metade da década, na mesma altura em que outras ditaduras pro-EUA (Filipinas, Haiti, Brasil, Coreia do Sul, Chile, etc.).
Quanto à guerra colonial ser um peso insustentável - uma maneira de ver os efeitos que isso poderia ter, era imaginar que, na ausência do 25 de Abril, o prolongamento da guerra levaria a um descontentamento crescente entre os oficiais de baixa patente, que poderia desembocar num golpe militar tendo em vista uma solução politica para a guerra colonial, e que abriria também as portas para a democratização do regime. Eu penso que era a saída mais provável, mas diz-nos pouco acerca de como teria sido Portugal sem o 25 de Abril (na prática, apenas teria sido noutra data; é um pouco como se, numa realidade paralela em que o "golpe das Caldas" tivesse triunfado, um comentador em 2012 escrevesse uma crónica sobre o tema "como teria sido Portugal se o 16 de Março tivesse sido dominado?"); portanto, vamos imaginar outras saídas possíveis.
Um primeiro ponto - convém lembrar aos entusiastas da "via espanhola" que a descolonização espanhola (feita ainda sobre Franco) andou longe de ser exemplar nos resultados: um Timor gigante ainda não resolvido e uma das mais sanguinárias ditaduras africanas (que só não emparelha com Idi Amin ou Bokassa porque foi num país de 1 milhão de habitantes).
De qualquer forma, como é que um Portugal-sem-25-de-Abril provavelmente teria tentando resolver a guerra colonial? Pelo que se tem sabido, provavelmente a ideia seria os "novos Brasis": dar a independência aos territórios sob uma espécie de coligação entre a população branca e algumas elites nativas. Provavelmente o resultado disso seria algo entre a Rodésia de Ian Smith e a futura Rodésia de Muzorewa. Deixando de lado a viabilidade ou não de um cenário desses, não há nada aí que implicasse forçosamente a democratização da "metrópole" (afinal, Espanha descolonizou continuando a ser uma ditadura; é verdade que a área e população envolvidas eram muito menores); de qualquer maneira, os novos regimes africanos provavelmente continuariam a ser não-democráticos (se assim não o fossem, o poder cairia automaticamente nas mãos da maioria negra), quase de certeza parecidos (até pelo efeito de contágio) aos "regimes brancos" vizinhos da África do Sul e da Rodésia (eventualmente mais integrados, possivelmente dando possibilidade a negros "assimilados" de participarem também no poder). Mais cedo ou mais tarde, o poder nesses países acabaria por ir parar às mãos da população negra (como aconteceu nos casos vizinhos), mas todo o processo seria adiado: sem Moçambique a apoiar os guerrilheiros, o regime de Smith teria se aguentado mais tempo; sem a batalha de Cuito Cuanavale e o apoio de Angola à SWAPO, a descolonização da Namíbia teria levado mais tempo; sem isso tudo o fim do apartheid sul-africano também teria levado mais tempo... (embora suspeite que muitos dos que dizem "era melhor se não tivesse havido o 25 de Abril" põem a sobrevivência por mais alguns anos do regime de Ian Smith, da ocupação da Namíbia e do apartheid na coluna do "+"...).
25 de Abril em 2012 — ou da "recordação tal como cintila no momento de um perigo"
As palavras entre aspas são de Walter Benjamin. Quanto à canção, não é preciso explicar.
Miguel Portas (1958-2012)
Conheci o Miguel Portas, teria 12, 13 anos, ele 14 ou 15. Era a primeira reunião clandestina em que eu participava, apesar de a mesma decorrer a céu aberto, nas traseiras da estação de comboios de São João do Estoril, num pequeno jardim hoje cimentado e do qual sobrará talvez uma árvore ou duas. Tratava-se de uma reunião do MAEESL (Movimento Associativo dos Estudantes do Ensino Secundário). Tinha vindo gente de outras escolas (os putos dirigentes), e Miguel Portas era um deles.
O debate foi acirrado, e o assunto, quase de Estado: abaixo-assinado ou greve. O Miguel, já então na UEC, defendia, naturalmente, a posição menos radical. Eu, que nasci com mau feitio, fiquei convencida com a greve. Devo ter dito, entretanto, qualquer coisa que lhe despertou a expectativa de um recrutamento em potência, razão que encontro para, no final da reunião, me ter perguntado se podia falar comigo à parte. Lembro-me de lhe ter respondido, do alto das minhas firmes e precoces convicções: “Podes, mas não julgues que me convences”.
Não me convenceu. Nunca estive próxima dos UECs; na realidade, não os gramava nem com molho de tomate. Dele gostava. Sempre achei que possuía algo que, mesmo situando-me eu à extrema-esquerda, nunca pensei que fosse dispensável: era civilizado e democrata. Não imagino como seria visto de mais perto, mas costumo ter olho e quase nunca me enganar nas primeiras impressões. No meio da muita histeria que tomávamos então por princípios inalienáveis, o Miguel discursava e não agredia, discordava e não insultava. Mais tarde, já crescidinhos, cruzei-me com ele algumas vezes. Sempre o achei igual. Bonito, cordato, bon vivant, voz arranhada e sorriso nervoso. Sei que morreu. A morte é uma grandessíssima filha da puta.
Feriados
[Algo que me ocorre agora - ainda não vi ninguém (excluindo, claro, aqueles que defendem a abolição dos feriados em geral) a sugerir a abolição do mais artificial feriado português (o 10 de Junho) - será que todos acham que dá jeito para dar um salto ao Algarve?]
24/04/12
Miguel Portas 1958-2012
Política do cognitariado...
Rumo ao trabalho forçado
2. Na continuação, lemos o seguinte:
O Governo e vários economistas têm insistido na necessidade de baixar os custos laborais em Portugal, como forma de promover a competitividade da economia, facilitando o aumento das exportações. Dadas as medidas adoptadas pelo Governo na função pública e a tendência para a baixa de salários na contratação, é natural que no ano em curso os custos laborais baixem significativamente no país, apesar de nos anos mais recentes terem também evoluído abaixo da média da zona euro e da UE. Entre 2008 e 2011, subiram 5,2% em Portugal, face a 6,9% na EU e 7,0% na zona euro.
3. Assim, é também previsível que o próximo passo a promover pelo Governo e a justificar pelos economistas de serviço seja a do trabalho forçado — via já esboçada em certas disposições relativas ao rendimento mínimo e às situações de desemprego — ou da militarização do trabalho, em termos semelhantes aos advogados, por exemplo e não sem brio, por um Trotsky ainda armado, que o considerava um instrumento necessário e progressista durante "o período de transição para o socialismo", mas por razões que — como, em 1947, sugeria já Paul Mattick — será fácil aos economistas de serviço fazer valer para o período de transição para a completa autonomia do capitalismo, dado como já em curso à escala global.
Com efeito, nos termos do próprio Trotsky, esta militarização do trabalho, acarretando uma redefinição radical dos sindicatos — aparentemente já encetada, entre nós, nas concepções e nas práticas de destacados dirigentes da UGT—, parece ser a única alternativa para o programa de austeridade, que é "o plano económico único", inflexivelmente mantido pelo Governo e a sua base social de apoio. Ou seja, mutatis mutandis:
Sem a obrigação do trabalho, sem o direito de dar ordens e exigir a sua execução, os sindicatos tornam-se formas vazias de conteúdo. Os sindicatos são com efeito necessários ao Estado socialista [ou ao novo absolutismo oligárquico do Estado capitalista], não a fim de lutarem por melhores condições de trabalho (…), mas a fim de organizarem a classe operária para a produção, a fim de a disciplinarem, de a repartirem, de a agruparem, de a educarem, de fixarem certas categorias e certos operários no seu posto por um lapso determinado de tempo -, numa palavra, para incorporarem autoritariamente os trabalhadores, em plena cooperação com o Estado, no quadro do plano económico único.
Abstenção ao quadrado rumo a uma Frente Popular ?
Consta, entretanto, que elementos da ala esquerda do PS apoiam vivamente esta abstenção da abstenção, que consideram, tendo em conta as posições assumidas sobre o assunto pelo PCP e pelo BE, um primeiro passo a caminho de uma Frente Popular.
Donos de Portugal
23/04/12
Últimas sondagens gregas (III)
Nova Democracia..........21,5%
PASOK........................14%
SYRIZA........................13%
KKE..............................11%
Gregos Independentes....11%
Esquerda Democrática.....9,5%
Chrysi Avgi.....................5,5%
Verdes............................3,5%
LAOS............................3%
Troika: 35,5%; esquerda anti-troika: 37%; direita anti-troika: 19,5%
Últimas sondagens gregas (II)
Nova Democracia..........23%
PASOK........................14%
SYRIZA........................13,5%
KKE.............................11,5%
Gregos Independentes....8,5%
Esquerda Democrática....8%
Chrysi Avgi.....................6,5%
LAOS............................3%
Verdes...........................3%
Troika: 37%; esquerda anti-troika: 36%; direita anti-troika: 18%
Últimas sondagens gregas (I)
Sondagem publicada pelo jornal Ethnos, efectuada pela empresa Marc entre 17 e 19 de Abril (artigo original, tradução do Google):
Nova Democracia............21,9% (108 deputados)
PASOK..........................17,8% (47 deputados)
SYRIZA..........................11% (29 deputados)
Gregos Independentes......10,4% (28 deputados)
KKE..................................9,2% (24 deputados)
Esquerda Democrática........8,8% (23 deputados)
Chrysi Avgi.........................5,2% (14 deputados)
LAOS................................4,2% (11 deputados)
Verdes...............................3,2% (8 deputados)
Aliança Democrática...........3% (8 deputados)
Troika: 42,7% (163 deputados); esquerda anti-troika: 32,2% (84 deputados); direita anti-troika: 19,8% (53 deputados)
A lei eleitoral grega dá um bónus de 50 deputados ao partido mais votado (a ND segundo todas as previsões), o que aumenta as possibilidades dos partidos que apoiam o atual governo repetirem a maioria absoluta, mesmo perdendo muitos votos.
[Via Phantis]
25 de Abril: Se o governo quer proibir a manifestação, porque não quer proibir a manifestação?
Incidentes que marcaram a greve geral de 22 de março estão bem presentes na memória de quem manda nas forças de segurança portuguesas. Ordem aos agentes é para que nenhum sinal de ameaça ou desordem seja desvalorizado.
Com o 38.º aniversário do 25 de Abril a aproximar-se, assim como a celebração do 1. o de Maio, a PSP re- cebeu a orientação de impedir todos os desfiles ou ações de rua quenão obedeçam aos procedimentos legais para a sua realização. É uma reação ao que sucedeu a 22 de março, dia da última greve geral. Uma avaliação operacional feita pela PSP deu conta da desvalorização de sinais relevantes sobre ameaças à ordem pública, erro que não deverá ser repetido pelos agentes. Já numa entrevista à Antena 1, o inspetor nacional da PSP, Magina da Silva, que coordenou a auditoria à operação do 22 de março, reconhecera que “o potencial de violência e desordem não teve o tratamento necessário”. Ao mesmo tempo, alertou que a PSP terá tolerância zero para novas manifestações por parte de grupos identificados como potencialmente desordeiros.
Ora, considerando que qualquer grupo de manifestantes é, por definição, "potencialmente desordeiro", e que, como Brecht já sabia bem, a simples superioridade numérica dos manifestantes, "potencialmente desordeiros", é, para as forças policiais, um — pelo menos potencial — "sinal de ameaça", a pergunta a fazer ao governo, parafraseando agora Pessoa, é: se o governo quer proibir a manifestação, porque não quer proibir a manifestação?
Com efeito, se a ideia é, como tudo indica e com toda a clareza, proceder a mais uma demonstração de força repressiva, que continue e aprofunde a política seguida a 22 de Março último, a proibição explícita seria a via ideal, pois permitiria que, sem subterfúgios, dessa feita, as fileiras policiais atirassem a matar sobre os desordeiros, não jápotenciais mas efectivos, que insistissem — e então não haveriam de insistir, pá? — em comemorar o "Dia da Liberdade".
22/04/12
João Bernardo no Passa Palavra: a crise e os "riscos de fascização"
As dúvidas são muitas, mas o certo é que não parece possível impor um tratado de harmonização fiscal que não seja acompanhado por uma política monetária expansiva, pela criação de um credor de última instância no âmbito da zona euro e pela instauração de um mecanismo de redistribuição de rendimentos entre países membros. Com efeito, o mercado não mostra satisfazer-se com medidas exclusivamente restritivas. Ora, estes problemas não poderão ser resolvidos sem se fortalecer a soberania comum da União Europeia, com a consequente erosão das soberanias nacionais, ou seja, a conversão dos países em regiões. A perda das soberanias nacionais e a constituição da União Europeia como nação única é a medida económica mais urgente, mas ela é politicamente impossível a curto prazo. Restam, então, paliativos. E os paliativos destinam-se precisamente a não resolver nada. Para um governo, em quaisquer circunstâncias, financiar programas de longo prazo com créditos baseados em fundos voláteis corresponde a criar todas as condições para que, uma vez que a taxa de crescimento diminua ou se inverta, os fundos voláteis se retraiam ou desapareçam, o custo do crédito aumente e a crise se agrave. Ora, na penosa situação em que agora se encontram, os países da periferia meridional da zona euro têm de recorrer às instituições financeiras privadas internacionais, ou seja, tentam solucionar a crise continuando a fazer exactamente aquilo que a provocou.
A actual crise na periferia meridional da zona euro deve-se a factores de ordem institucional e a sua causa reside, em última instância, no facto de ter sido feita uma união monetária sem uma total união política. O pacto de harmonização fiscal e orçamentária assinado em Janeiro deste ano conduzirá a impasses ainda mais graves se não se prosseguir a unificação política. Só há duas saídas: ou a desagregação da zona euro, com consequências nefastas para a economia tanto europeia como mundial, ou uma considerável redução das soberanias nacionais. É certo que a União Europeia tem alguns elementos de soberania supranacional, mas conjugados com soberanias nacionais, que são em parte reais e em parte fictícias. O aspecto fictício das soberanias nacionais na União Europeia deve-se ao facto de se considerar necessário iludir os sentimentos nacionalistas do eleitorado. Assim, de agora em diante o que estará em causa serão muito menos as soberanias nacionais — que em boa medida se diluíram e obrigatoriamente se diluirão mais ainda — do que a ficção nacionalista. Isto altera bastante os termos do processo e, paradoxalmente, dará um novo relevo à instância ideológica nos próximos tempos. Quanto menos o nacionalismo corresponder a uma base prática, tanto mais procurará afirmar-se no plano ideológico.
Nestas circunstâncias a esquerda corre um grande risco de fascização, porque sempre que o nacionalismo permeia o movimento operário, o fascismo não anda longe, qualquer que seja o nome que se lhe dê.
Sujo
20/04/12
Também quero uma medalha destas!
Nada de surpreendente: a marca de alimentos caninos Friskies também é "de Confiança" – e há muita gente com ideia de que a escrita de Rodrigues dos Santos é abaixo de cão.
PS: Note-se que os jornalistas que ficaram em 1.º e 3.º lugar são as mesmíssimas personagens, com a ilustre Judite de Sousa de permeio.
19/04/12
A lição da Es.Col.A
O Alto da Fontinha visto com lentes gregas...
A TMN e o lixo estão a chamar por nós
E mais outra sondagem grega
Nova Democracia..............22%
PASOK............................14,5%
SYRIZA............................13%
KKE.................................11,5%
Esquerda Democrática.......10%
Gregos Independentes.........9%
Chrysi Avgi.........................5%
LAOS.................................3,5%
Troika: 36,5%; esquerda anti-troika: 34,5%; direita anti-troika: 17,5%
18/04/12
CISPA
As tentativas de controlo sobre o que passa na Internet sucedem-se. Depois dos pacotes legislativos SOPA, PIPA e ACTA, cujo processo de aprovação foi para já congelado, aparece o CISPA:
"The Cyber Intelligence Sharing and Protection Act (CISPA) would allow companies doing business in the US to collect exact records of all of our online activities and hand them over to the US government, without ever notifying us that we are being watched. No warrant, no legal cause and no due process required. To make matters worse, the bill provides the government and corporations with blanket immunity to protect them from being sued for violation of privacy and other illegal actions."
A assinatura desta petição poderá ajudar a parar também o processo de aprovação do CISPA no Congresso dos EUA.
Outra sondagem grega
Nova Democracia....................22,3%.....110 deputados
PASOK..................................17,8%.......48 deputados
Gregos Independentes...............9,9%........26 deputados
SYRIZA...................................9,8%........26 deputados
KKE.........................................9,7%....... 26 deputados
Esquerda Democrática..............8,6%.........23 deputados
Chrysi Avgi...............................5,7%.........15 deputados
LAOS......................................3,9%..........10 deputados
Verdes......................................3,1%...........8 deputados
Aliança Democrática (liberal).....3%..............8 deputados
Troika: 43,1% (166 deputados); esquerda anti-troika: 31,2% (83 deputados); direita anti-troika: 19,5% (51 deputados)
[Via Phantis e Keep Talking Greece]
Segundo o Keep Talking Greece, os indecisos preferem os Gregos Independentes (dissidentes anti-troika da ND), a SYRIZA (o "Bloco de Esquerda" local) e a Esquerda Democrática (mais ou menos algo equivalente a uma "Politica XXI" que tivesse abandonado o BE); não percebi se os números apresentados já levam isso em consideração.
15/04/12
Miséria da Zoofilia
We are the 99%
Some Individuals of our Countrymen, by the Smiles of Providence or some other Means, are enabled to roll in their four–wheel'd Carriages, and can support the Expence of good Houses, rich Furniture, and Luxurious Living. But, is it equitable that 99, or rather 999 should suffer for the Extravagance or Grandeur of one? Especially when it is consider’d, that Men frequently owe their Wealth to the Impoverishment of their Neighbours.[Carta publicada no New York Gazette, em 1765]
Resposta ao João Rodrigues
O João Rodrigues ficou chateado com o meu artigo. Mas eu acho que ele não tem razão. Que fazer? Comecemos pelo essencial e deixemos o acessório para o fim. O João Rodrigues acha que exagero na crítica ao seu patriotismo. A mim parece claro que a política defendida pelo João Rodrigues assume um pendor cada vez mais patriótico e cada vez menos internacionalista. Por que entendo as coisas assim? Porque vejo o João a propor uma desglobalização, quando eu sempre pensei que o problema era a globalização mercantil e não simplesmente a globalização. Desmercantilizar a globalização, claro que sim, mas desglobalizar é uma palavra de ordem muito diferente. E é uma palavra que se arrisca a por tudo no mesmo saco, o movimento de mercadorias e o de pessoas, o livre-cambismo e o cosmopolitismo, a globalização neoliberal e o internacionalismo de classe. Infelizmente o internacionalismo do João Rodrigues é cada vez mais uma forma de mediação entre sentimentos nacionais e não uma forma de ler e agir no mundo transversal a esses sentimentos. Ao internacionalismo do João poderíamos chamar um internacionalismo nacionalista. É pelo menos neste sentido que leio a sua proposta para que em vez de internacional passemos a escrever inter-nacional, isto dito entre vivas aos hinos nacionais e à soberania nacional, que me parecem querer continuar em França, via Mélenchon, o ido projecto alegrista que animou o João e os seus colegas de blogue. (Embora deva dizer que a candidatura de Mélenchon é evidentemente bem mais interessante do que a de Alegre, o que ainda assim deveria evitar histerismos personalistas que não têm cabimento em qualquer projecto de esquerda que se preze, ao contrário do que parece querer demonstrar o Nuno Teles).
Há uma outra questão importante no post do João Rodrigues que gostaria de comentar. O título do post é “Nem nada”, em referência ao título do meu artigo “Nem Crise Mundial, nem Solução Patriótica”. É um título, o do João, que é feliz enquanto sound-byte e os títulos também são isso, por certo que o são. Mas enquanto programa de argumento, é mau. É mau, em primeiro lugar, porque revela uma concepção enfraquecida do que possa ser criticar. O João Rodrigues parece exigir que eu, para criticar, tenha uma alternativa concreta a oferecer. Temo que o João esteja a aplicar a mim o tipo de argumento que os Camilos Lourenços tantas vezes aplicam ao próprio João Rodrigues e que no fundo reza assim: “falam mal do capitalismo mas não têm alternativa”. Ora, o que o João parece presumir, tal como o Camilo Lourenço e afins pressupõem em relação ao João, é que criticar é simplesmente dizer mal. Presumem que a crítica não é em si mesmo construtiva. Eu não vejo a crítica como uma simples denúncia e por isso não creio que ela seja menos construtiva do que as alternativas concretas que o João vai propondo. Depois, há aqui um segundo problema, tão grande, se não maior, do que o primeiro. É que o João Rodrigues só pode presumir que eu não procuro alternativas concretas porque ele entende que isso só se faz do modo como ele o faz. E que modo é esse? Intervindo num partido enquanto dirigente ou no espaço publicado enquanto intelectual. Eu também já fui um pouco assim e se calhar ainda sou. Mas já não acredito em alternativas concretas pré-fabricadas e creio que isso é coisa que devemos dispensar liminarmente, pelo menos no quadro de uma política democrática, defina-se como revolucionária ou como reformista. Prefiro mil vezes ouvir o João Rodrigues em detrimento do Camilo Lourenço, mas não reduzo a questão das alternativas concretas ao modo como o João entende o que possam ser lutas contra-hegemónicas.
Não vejo o meu próprio papel como o de alguém que por escrever num jornal ou ser especialista nisto ou naquilo tem mais responsabilidade em propor alternativas concretas do que os outros cidadãos. Esse papel “responsável” é o que o João Rodrigues vem assumindo, no quadro de uma sua leitura do que será um projecto contra-hegemónico. Que leitura é esta? O João dá grande importância ao confronto entre o que ele considera serem os intelectuais. A sua maneira de ver a ascensão do neoliberalismo é a esse respeito muito clara. Ele concede muita importância ao pensamento de alguns autores que há décadas terão começado a construir um programa ideológico que hoje é finalmente aplicável (a narrativa do João para a ascensão do neoliberalismo é mais complexa do que isto, claro, mas sublinha muito – em demasia, diria eu – este ponto). Eu acho que a história do neoliberalismo, não dispensando essa dimensão intelectual da história do pensamento económico e político, e devendo ser uma história das ideias, deverá sê-lo dirigindo a problemática das ideias não apenas (ou primeiro) aos intelectuais como Hayek e demais. Deverá ser também uma história social das ideias. E em consequência (ou como causa) acho que um projecto contra-hegemónico não passa tanto por criar os futuros Hayeks de esquerda mas por agir e pensar a acção política e o pensamento político aquém e além da “responsabilidade” de dirigentes e "pensadores" (e por isso não tenho simpatia nenhuma pela estratégia educação popular de Mélenchon, que o Nuno Teles tanto aprecia, mesmo se também eu votaria em Mélenchon caso pudesse votar nas eleições francesas).
Finalmente, a questão menor, que, porém, parece ser a única que verdadeiramente empertigou o João Rodrigues. Acha o João que eu deveria ter nomeado individualmente os economistas que dirigem a edição portuguesa do “Le monde diplomatique” e não simplesmente ter referido o grupo de economistas do “Le monde diplomatique”. Tudo bem. Se o João entende que isso é importante para tornar o debate mais interessante, passarei a fazer como ele manda. Seja como for, não creio que esta questão seja motivo para tanto azedume. Depois, bom, depois diz o João Rodrigues que engano os leitores ao afirmar que há uma linha dominante dessa publicação que é determinada por esses economistas quando na verdade existirá uma pluralidade de pontos de vista de esquerda expressos no jornal em questão. Sim, é claro que há outros economistas a escrever no jornal em questão (por regra o jornal tenta ter uma pessoa do PS, uma do PCP e outra do BE, parece-me), mas creio também (de facto, não fui contar) que o João Rodrigues e o Nuno Teles são os autores mais regulares do jornal e que em grande medida (foi a expressão que utilizei no artigo) marcam a linha política da publicação. Não há é qualquer problema nisto, pelo menos para quem não faz parte do jornal. Devo até dizer ao João Rodrigues e ao Nuno Teles que um dos motivos porque continuo a pensar comprar o jornal é justamente o facto de saber que aí encontro publicada, muito provavelmente, a opinião destes meus bons amigos economistas. Com os quais tantas vezes discordo mas que sempre tento acompanhar de perto.
Manuel António Pina e a "sinização"
Vale, sem dúvida, a pema ler estas "Notícias da China na Europa" — a sua mais recente crónica sobre o assunto, no JN:
Um indivíduo não eleito, que ocupa um cargo administrativo nomeado não se sabe (mas imagina-se) por que critérios, impede um autarca eleito de, em representação dos cidadãos de uma determinada cidade, visitar uma instituição pública dessa cidade.
Adivinhe o leitor onde se passou o episódio, exemplar de respeito pela Democracia representativa: na Coreia do Norte (dando crédito à noção de Democracia de Bernardino Soares e admitindo que na Coreia do Norte haja eleitos)?, em Cuba?, no Irão?, no Portugal salazar-marcelista? Não: foi em Portugal, desde há 38 anos "um Estado de Direito democrático", onde "os actos do Estado e (...) outras entidades públicas dependem da sua conformidade com a Constituição".
O que se passou foi que o presidente da Câmara de Lisboa ia já a caminho da Maternidade Alfredo da Costa para a visitar quando recebeu um telefonema da direcção desta instituição informando-o de que o administrador regional de Saúde de Lisboa e Vale do Tejo a proibira de receber o autarca, sob pena de processo disciplinar. Mais: segundo a RTP, todos os clínicos da Maternidade estão proibidos de falar com a comunicação social, isto num país cuja Constituição garante que "todos têm o direito de exprimir e divulgar livremente o seu pensamento pela palavra, pela imagem ou por qualquer outro meio (...) sem impedimentos nem discriminações".
Pelos vistos não foi só em matéria laboral que já chegamos à China.
Continuando com as sondagens gregas...
[Artigo no referido jornal; tradução do Google]
Troika: 37%; esquerda anti-troika: 35%; direita anti-troika: 17,5%
Neste momento, alguns leitores já se estarão a perguntar qual o porquê desta série de posts, com sondagens gregas quase dia sim, dia não; bem, parte da razão é que eu estou sem energia quase nenhuma para escrever posts que impliquem um esforço mental prolongado; assim, postar resultados de sondagens gregas é a maneira que arranjei de continuar a "produzir" algo para os leitores do Vias enquanto a inspiração não regressa...
13/04/12
12/04/12
Ben Bella
- O regime autoritário que implantou
- A repressão contra a minoria berbere
Pontos positivos:
- O seu papel na solidariedade internacional com vários movimentos de libertação (incluindo portugueses)
- A sua tentativa de criar um socialismo autogestionário
- Creio que, apesar de tudo, era menos autoritário do que o regime seguinte
- A sua "segunda vida politica", depois de ser libertado, que não foi propriamente um caso de sucesso mas que foi, por regra, do "lado bom"
Nem Crise Mundial Nem Solução Patriótica
(o meu artigo no i desta quinta-feira)
Há um pequeno grupo de quatro ou cinco economistas de esquerda cujo trabalho é importante acompanharmos por estes dias de crise. A melhor forma de o fazermos é seguindo a edição portuguesa do Le Monde Diplomatique, publicação que tem assumido uma linha política em grande medida determinada por aqueles economistas. Hoje em dia essa linha passa sobretudo pela defesa da seguinte ideia: uma saída pela esquerda da actual crise implica uma tomada de posição patriótica.
A hipótese desenvolve-se em cinco passos. 1) A globalização actual é uma máquina de produção de desigualdades nacionais à escala do mundo e de desigualdades sociais no interior de cada nação. 2) Deveremos por isso tomar distância em relação a essa máquina global, deixando o euro e adoptando uma moeda própria, com todas as possibilidades de política financeira e económica que daí resultam. 3) Estas possibilidades podem ser aproveitadas de modo a que, forçados pela privação resultante da desconexão parcial com o sistema mundial, desenvolvamos capacidades novas que julgávamos perdidas, para este efeito adoptando-se uma política industrial activa. 4) Ao mesmo tempo, acrescente-se, será possível irmos combatendo a desigualdade social no interior da nação, combate importante para elevarmos os níveis de confiança interpessoal da comunidade nacional e, também, para a própria regeneração da economia por via do consumo interno. 5) Finalmente, poderemos, atingido um certo nível de crescimento económico, regressar ao sistema mundial, talvez até tornando-o um pouco mais justo.
Esta é, creio, uma proposta interessante, desde logo porque tenta romper com a tendência em que boa parte da esquerda tem vindo a ser, nas actuais circunstâncias, aceleradamente atolada: a contínua defesa de direitos continuamente perdidos de luta em luta até à perdição final.
Mas é também, ainda assim, uma proposta que deve ser recusada sem qualquer hesitação.
Se me é permitido atalhar caminho, e correndo o risco de estabelecer uma comparação injusta para os nossos economistas de esquerda, diria que devemos recusar a proposta por motivos não muito diversos dos que nos levam a resistir ao argumento do governo de Passos Coelho segundo o qual as actuais políticas de austeridade são apenas medidas sacrificiais que, no futuro, e uma vez saldada a dívida, permitirão ao país recuperar a sua soberania e reactivar a democracia entretanto suspensa por ordens externas.
Em ambos os casos há uma desistência em relação à actualidade política europeia.
Passos Coelho desiste porque despolitiza a Europa obedecendo-lhe caninamente: para Passos Coelho, da Europa surgem apenas ordens que ele terá que cumprir, não se lhe ocorrendo participar politicamente no espaço europeu, por exemplo discordando do que diz ser-lhe imposto, por exemplo.
Já a proposta dos nossos economistas de esquerda acaba também por fazer acreditar que o espaço europeu não é mais susceptível de intervenção política, refugiando-se eles, por isso, no espaço nacional. Não s refugiam, note-se, por terem desistido da política em favor da economia, como Passos Coelho, mas porque querem – e bem – retomar a política como factor que determina a economia. O problema está em que desprezam a possibilidade de uma política económica europeia combater o desemprego, a desigualdade e a pobreza. Dirão os nossos amigos economistas que tal política europeia é uma utopia, mas não há nenhum motivo – pelo menos para quem não tenha uma crença nacionalista que o anime – para julgar que o tamanho dessa utopia seja menor porque a imaginamos apenas aplicável a Portugal. Se o ministro das Finanças de Portugal tem tantos laços de afinidade com o ministro das Finanças alemão, não há nenhum motivo para que os trabalhadores portugueses e as suas organizações não se irmanem com os seus congéneres da Alemanha.
E mais uma sondagem grega
Nova Democracia.............19%
PASOK............................14,5%
SYRIZA...........................13%
Esquerda Democrática......12%
KKE................................11%
Gregos Independentes......11%
Chrysi Avgi........................5%
LAOS................................3%
Verdes...............................3%
Resumo: troika - 33,5%; esquerda anti-troika - 39%; direita anti-troika - 19%.
[Via Phantis]
Como o nosso governo dá razão a Lenine...
11/04/12
A caminho do autoritarismo
"(..)a crise financeira teve lugar em 2007-08 mas a crise económica está ainda em curso – e é uma crise estrutural, a crise terminal do actual regime de acumulação, que tenderá a tornar-se cada vez mais evidente por via da agudização dos conflitos entre as diferentes forças sociais. Conflitos esses cujo palco inicial consiste, como é já bem visível, nas questões em torno da dívida (da questão do (in)cumprimento à questão da migração da dívida do sector privado para o sector público), mas que, inevitavelmente e a prazo, se deslocará para o cerne do problema (a divisão do produto social e a democraticidade da super-estrutura). Para o bem ou para o mal, “mais do mesmo” não resultará. Aquando da crise análoga anterior, na década de ’70, o campo progressista foi derrotado, talvez vítima do seu próprio sucesso anterior. Desta vez, as condições são muito diferentes, mas o embate não será menos decisivo."
aparecem sinais evidentes (via Brumas), e bem próximos de nós, de que o novo regime de acumulação (de Poder, ainda e para já no âmbito do sistema Capitalista), será caracterizado pelo autoritarismo: terminada a ilusão do consumo alimentado a crédito e da "democracia" representativa, deixará de ser possível esconder o aumento da expoliação do produto do trabalho necessário para repôr as taxas de acumulação anteriores à crise e a impossibilidade de mudar o sistema económico-social dentro da "Lei", do que resultará um aumento da conflitualidade social, apenas passível de ser contido pela via do aumento da repressão judicial e policial. Do autoritarismo ao fascismo será apenas um passo, dado quando e onde quem detém o Poder achar necessário colocar uma parte mais significativa da população a vigiar e reprimir a maioria revoltada.