15/04/10

Conjurados

O cardeal Saraiva
Esta manhã, enquanto tentava fintar o trânsito a caminho do trabalho, ouvi na rádio as últimas declarações do prefeito emérito da inigualável Congregação para a Causa dos Santos. Em mais uma imitação bem conseguida do Diácono Remédios, o cardeal José Saraiva Martins falava, a propósito da vaga de denúncias de actos de pedofilia praticados por membros do clero católico, de uma «conjura contra a Igreja». Existe, sem dúvida, uma coincidência de provas e de acusações cujo eco nos média suscita um efeito de avalanche, mas quanto mais este estilo de reacção tem lugar, mais se percebe a necessidade de ir ainda mais fundo nas denúncias e nas investigações. Se preciso for, descendo ao universo sombrio de seminários diocesanos e colégios de meninas. Um trabalho por fazer que a hierarquia da Igreja, se não estivesse impedida de renegar o seu mundo de sombras e meias-palavras, deveria reconhecer como benéfico para um retomar da dignidade dos próprios católicos. Necessário também para atenuar, tanto quanto possível, as feridas abertas e jamais saradas no passado das vítimas. E para que, de uma vez por todas, a hipocrisia romana a em matéria de sexo e de moral possa ser colocada no seu devido lugar. Se para que tal aconteça for preciso organizar uma acção concertada – vulgo conjura – dos queixosos, dos tribunais e da opinião pública, pois que se organize.

3 comentários:

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Rui,
adiro desde já à conjura - e convido-te a aderir a outra, simultânea: a conspiração dos iguais pela destituição política da religião em geral (que o islão, os evangélicos e muitos mais também contam) e da consagração de qualquer outra doutrina superiormente autorizada acima da praça da palavra da cidadania democrática.
Vamos a isto, camarada? Multipliquemos e federemos as nossas conjuras, pois, como diria o Cesariny, há muito por onde começar a podar.

Um abraço

msp

Rui Bebiano disse...

Caro Miguel,
Não sou um daqueles fanáticos da laicidade a quem a vista de uma sotaina tira logo do sério. E esta gente «nem vale uma missa», quanto mais fazer-se-lhes o mesmo que ao Miguel de Vasconcelos... Já não direi o mesmo de quem lhes alisa o caminho por causa dos votos da cristandade. Mas sim, é importante um trabalho sistemático, conjurado, de denúncia destas posições e da cobertura acrítica que lhes é dada pelos meios de comunicação.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Rui,
perfeitamente de acordo. De resto, penso que o fanatismo converte no seu contrário, adoptando a mesma lógica que os adeptos da imposição política da verdade revelada, qualquer combate pela secularização que contamine.
Conjurado abraço

miguel