«Existem agora estimativas aproximadas de que durante os cerca de três séculos da sua existência (aproximadamente desde o início do séc. XVI até ao início do séc. XIX) terão morrido às mãos da Inquisição cerca de 3 mil pessoas, 5 mil no máximo. A questão relevante a perguntar é: quantas teriam morrido se a Inquisição não existisse?
O objectivo da Inquisição foi o de impedir que qualquer heresia entrasse em Espanha e Portugal. Por isso, os alvos da Inquisição foram os protestantes e, antes deles, os judeus e os muçulmanos. A Inquisição cumpriu o seu objectivo. Quando, sobretudo a partir da Reforma protestante, a Europa se dividiu religiosamente, Espanha e Portugal permaneceram homogeneamente católicos.
E o que sucedeu àqueles países da Europa onde não havia Inquisição, e onde a liberdade religiosa era permitida? Entraram em guerras religiosas por toda a parte e que duraram quase três séculos, enquanto Portugal e a Espanha não tiveram nenhuma.
Só a Guerra dos Trinta Anos, sem contar as outras, produziu mais de 10 milhões de mortos. Alguém, no seu perfeito juizo, teria preferido isto à Inquisição? Embora sejam de lamentar os seus mortos, a Inquisição foi a solução racional às divisões religiosas que atravessaram os seus séculos de existência. Portugal e Espanha, mais uma vez, bem podem agradecer à Igreja Católica terem sido poupados a milhões de mortes.»
10 comentários:
pela mesma lógica, dir-se-ia que hitler poupou a morte a milhões.
Quanto à questão de saber se as “guerras religiosas” foram religiosas, se apenas principalmente religiosas, ou sequer nada religiosas, é matéria que deixo ao ofício dos historiadores.
Cá por mim, criticaria o Sr. Pedro Arroja apenas por ter deixado a meio a lógica relativista do seu pensamento. Não há dúvidas que, numa perspectiva de contabilidade necrológica, 3 ou 5 mil, comparados com 10 milhões, não passam de uma gota de água no oceano. Mas a análise não se pode ficar por aqui. Com certeza que, os 3 ou 5 mil hereges da inquisição foram direitinhos para o inferno. Ao passo que os 10 milhões que se bateram heroicamente – perdão: religiosamente – pelos seus credos, estarão na sua maioria, a estas horas, a gozar as delícias do paraíso. Ora, Senhor Pedro Arroja, o que tem mais valor: 3 mil no inferno ou 10 milhões no Paraíso?
nelson anjos
Uow. Muito avançado.
Joana,
há dias, o Miguel Silva gastou algum tempo a dissecar outra provocação do Pedro Arroja. Comentava depois que hesita muito "antes de escrever sobre lixo intelectual deste calibre".
http://bios-politikos.blogspot.com/2010/04/violento-e-destrutivo.html
Nunca sei se é boa ideia dar visibilidade ao que o Arroja escreve.
Mas sei que, depois de um texto como este, ou daqueloutro contra os homossexuais, nenhuma Universidade alemã (a cultura que conheço melhor) o manteria entre os seus professores. Há limites para a liberdade de expressão, e a um professor universitário do nosso tempo exige-se uma retórica baseada em firmes valores humanitários. (O Pedro Arroja com certeza concordaria com a racionalidade da decisão, porque é isso mesmo que defende no seu post: é legítimo afastar pessoas que têm ideias diferentes das defendidas pelos instalados no Poder, para evitar problemas ainda maiores...)
Olá, Helena,
Percebo perfeitamente a hesitação em prestar atenção a textos e autores deste calibre - e a divulgá-los.
Mas este senhor tem público, não só e infelizmente na Universidade, como na blogosfera.
Julgo que, episodicamente, vale a pena provocar alguma indignação junto de quem, habitualmente, não frequenta locais tão pouco recomendáveis.
Concordo com a Helena neste aspecto. É inacreditável que uma Universidade mantenha tal personagem entre os seus quadros. Não só estamos a falar de uma opinião que é considerada completamente inaceitável na sociedade (coisa que poderia ser aceitável, caso fosse sustentada por novos dados), mas por uma interpretação distorcida de factos e assente em preconceitos abertamente assumidos (contra tudo e alguma coisa que não seja masculino, heterossexual, branco e católico). Estamos a falar, no fim de contas, de uma pessoa que tem obrigação de educar parte da suposta jovem elite de um país.
Outro que ainda não entendi como continua como professor e colunista num jornal é João César das Neves. Depois dos artigos em que inventava fundações e estudos para defender os seus pontos de vista, admira como consegue ainda ser lido e ouvide seja onde for. E é esta gente que se queixa do declínio das exigências.
Pedro Arroja mais blindado- P. Arroja disse adeus ontem ao Portugal Contemporâneo Blogue. Vai fundar um novo, segundo anuncia. De destacar, no entanto, que a " metamorfose " de PA se deve à liberdade, à classe e profundidade dos comentários da famosa Zazie.Que sempre o contestou e desmascarou de forma supinamente inteligente e livre. Como diria Nietzsche, a Verdade Mata... Niet
Muito obrigada pela novidade, Niet. O post de despedida é uma ternura...
Em Portugal terão sido cerca de 2000 vítimas (executadas pelo poder secular) ao longo de 250 anos.
Podemos contar e amassar as vítimas do anti-catolicismo-clericalismo ao longo de 250 anos?
"Quanto à questão de saber se as “guerras religiosas” foram religiosas, se apenas principalmente religiosas, ou sequer nada religiosas, é matéria que deixo ao ofício dos historiadores."
Bem, os Príncipes protestantes aproveitaram a onde de puritanismo teológico para nacionalizar a propriedade da ICAR e fundar Igrejas Nacionais ligadas intimamente ao Estado. A ICAR era uma autoridade que não controlavam.
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