O pior que podia acontecer a Manuel Alegre é o apoio do PS à sua candidatura: perde as eleições e é o responsável pela reeleição de Cavaco Silva. O PS, no Domingo, através da Comissão Nacional, vai dar o abraço de urso a Manuel Alegre.
Não sei se o que Tomás Vasques (cuja aversão por Manuel Alegre é antiga e bem conhecida, honra lhe seja feita) escreveu e acima se transcreve reflecte o sentimento do aparelho dominante no PS. Parece-me que sim mas como estou de fora, também honra me seja feita, não tenho, e por isso não uso, certificado de garantia. Mas se a estratégia dúplice e cínica apontada não surpreende, o que diz muito da forma actual como o PS vê o actual momento social e político, em que as lapas socialistas agarradas ao poder não querem sair da órbita cavaquista (o núcleo do centrão), restando-lhes iludir as responsabilidades pelas opções, esta não é uma má notícia. Pelo contrário. Porque há ursos que são de papel, normalmente pardo, que em vez de cortarem respirações, trazem oxigénio de autonomia. E, neste momento, um abraço demasiado camarada do aparelho do PS, sobretudo do seu inepto, desgastado, classista e impopular governo, seria o pior que poderia acontecer à candidatura de Manuel Alegre. Contra Cavaco Silva, formal e cinicamente apoiado pelo PS (o que inibe um estribilho usado contra ele na campanha anterior, o de ser “um candidato contra o PS”), Alegre ganha espaço político para a mobilização e batalha política presidencial. Assim a esquerda, que até hoje só perdeu uma eleição presidencial, traga o movimento e a campanha de dentro das igrejas e das suas sacristias, para o adro do povo que sofre o centrão prolongado que se alimenta de uma sociedade desigual em perpétuo acentuar das desigualdades.
(publicado também aqui)
25/05/10
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5 comentários:
Caríssimo João,
mas não te parece que o candidato Manuel Alegre deveria já ter marcado claramente as suas distâncias em relação à Cúria Romana, em vez de lhe manifestar, embora sem aplauso, a compreensão que sabes?
Claro que a excomunhão do Manuel Alegre poderia sacudir um pouco a área de influência do PS - e sem que alguma coisa mexa entre a gente que constitui a base de apoio do PS, as perspectivas alternativas são bastante sombrias, a menos que deliremos.Mas digamos que se ele não a teme, como o diabo (dizem) teme a cruz, aparenta pelo menos fazer tudo o que pode para a evitar - em prejuízo, nomeadamente, da saída para o adro de que tão certeiramente falas.
Vigoroso abraço
miguel sp
João,
Em boa hora me «roubaste» o post que ia escrever, depois de ler lido o do Tomás Vasques. Facilitaste-me a tarefa.
Miguel, Cai na real... :-)
Não, não acho, Miguel (SP). Ainda falta bastante tempo e o Cavaco ainda não saltou como candidato declarado. Este "apoio do PS", se sábado tudo correr como previsto (na rua e no Rato), é o que mais interessa a Alegre. Dá o que é necessário, apoio qb = neutralização (permitindo uma sedução desinibida ao eleitorado do PS). Depois, contra Cavaco marchar, marchar. Com a maré de esquerda o mais dilatada possível (oxalá o Bloco não tenha a tentação de sectarizar a campanha). Resumindo: não ter apoio do PS seria mau (na perspectiva que a vitória é possível); ter um apoio pouco (ou nada) entusiasta da direcção do PS é óptimo. O resto faz-se caminhando, com bom senso e arte política. Naquilo que este tipo de eleições tem de específico.
Joana, fica para a troca de muitos gamanços que já me fizeste. Mas não estou a gostar nada desta unidade de pensamento e acção ...
Exactíssimo, João: «ter um apoio pouco (ou nada) entusiasta da direcção do PS é óptimo».
E «esta unidade de pensamento e acção» é excelente...
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