O Paulo Granjo anda a tentar encontrar uma desculpa comunista para poder celebrar o triunfo do Inter de Milão, mas que ninguém duvide da posição correcta. Cito a tradução brasileira dos textos que um filósofo italiano escreveu nos anos 90 para o jornal Folha de São Paulo: "Neste período muitas coisas andam arrevesadas para mim. Mas sobretudo uma: o futebol. Sou torcedor do Milan. Estou vivendo, no entanto, num cárcere romano, cuja população divide-se entre torcedores do Lazio e do Roma (os dois clubes da cidade eterna). Entre si, dividem-se, escarniçadamente dialéticos, mas quando estão diante de um milanista, unem-se, escarniçadamente hostis. Como se isso não bastasse, o meu time só faz é perder. Apesar dos nomes famosos, o Milan é a sombra do timão que já foi. Meu mal-estar está no ápice: como sobreviver no cárcere, numa situação destas? Desde que o campeonato começou, meus colegas
criminosos, "lazistas" ou "romanistas" que sejam, olham-me com comiseração, quando não com desprezo. Os meus títulos acadêmicos, minha fama na mídia, minha bonomia de cavalheiro, que de início me valeram muito respeito, como por encanto dissiparam-se na consideração de meus companheiros de desgraça. Às segundas-feiras, depois da rotineira derrota dominical de meu time, não me chamam mais "professor", mas Toni, familiar e ironicamente Toni. Não poderia haver maior humilhação, não por simplificarem tão rudemente uma relação que, de qualquer maneira, é dura, mas por eu sentir sua postura como escárnio. Nesta situação, por vezes, até penso em mudar o objeto de minha torcida. "Paris bem que vale uma missa!" Aliás, haveria boas razões para um "arrependimento": depois de ter sido o time do antifascismo milanês, e, portanto, de esquerda, o Milan foi comprado por Berlusconi, o rás da direita neoliberal italiana. Poderia, portanto, acobertar com motivos políticos a minha oportuna conversão para outra torcida. A do Roma poderia atrair-me: o Roma é o time do proletariado romano, enquanto o Lazio, seu oponente da cidade, representa antes a burguesia clerical e fascista e a aristocracia populista da província. Mas não posso. O fantasma de Giordano Bruno, milanista e europeu, queimado numa fogueira romana, aparece para me admoestar! "Non possumus." Desde criança meu pai vestia-me nas cores (antifascistas) do Milan e, mais tarde, por volta de 1968 e depois daquela data (que fique entre nós, não vão repetir isso aos juízes italianos), estive entre os inspiradores das "brigadas rubro-negras", as tropas de assalto da torcida milanista".
24/05/10
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3 comentários:
Neves,
As voltas que o mundo dá, tu a apoiares o clube do Berlusconi, porque o Negri disse que o apoiava num texto. Meu Deus!
Apesar do texto do Negri, pelo que sei o Internacional foi uma cisão do Milão de gente que aceitava estrangeiros a jogar e foi o Inter que foi obrigado a mudar de nome pelo regime do Mussolini.
Fora isso, é hoje um clube normal, mas não é facho como a Lazio, nem é do Berlusconi.
sim, mas o milan, foi semper considerado, sempre, um clube mais próximo das "classes populares".
abç
sim, mas o milan, foi semper considerado, sempre, um clube mais próximo das "classes populares".
abç
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