Os primeiros prisioneiros políticos libertados das masmorras de Cuba já chegaram a Madrid. Outros se seguirão por “lotes” nos próximos dias até que se cumpra a meta garantida pelo ministro dos negócios estrangeiros espanhol, Miguel Ángel Moratinos, que invoca um compromisso formal do governo cubano, de que “todos os presos políticos de Cuba vão sair dos cárceres”. Esta é, naturalmente, uma excelente notícia. Relativamente à qual, não há que duvidar sobre a intenção de serem honrados os compromissos negociados entre o governo cubano, o governo espanhol e a Igreja Católica.
Mas tratando-se de uma notícia que só pode ser festejada com toda a alegria pelos que estimam a liberdade como bem supremo (uma espécie de remake para os portugueses mais velhos, os que festejaram com lágrimas de alegria incontida a libertação, no 25A, dos "nossos" presos saídos de Caxias e Peniche), e partindo-se do princípio que o governo cubano não está a esvaziar as prisões políticas para mais tarde as povoar de novo, está lançado um crucial desafio à sociedade cubana e que é a de como vai viver (ou sobreviver) sem repressão política e social e sem presos políticos. E, é claro e concomitantemente, sem perder a sua soberania e acrescentando direitos sociais aos que alcançou com a revolução e poder viver melhor, respirando os novos ventos da liberdade. Porque nada do que se consideram "conquistas da revolução" é automaticamente posto em causa por se acrescentar liberdade e democracia. Pois o maniqueísmo da falsa escolha entre liberdade e igualdade sempre foi o alibi paranóico dos dogmáticos, dos fanáticos e dos impositivos de toda a espécie. Naturalmente que não o poderá fazer sem o fim do regime de partido único, permitindo o pluralismo, a liberdade de expressão e de organização cívica, social (nomeadamente, permitindo a liberdade sindical e o direito à greve) e política. Ou seja, substituindo a “ditadura do proletariado” degenerada em Estado Policial (como aconteceu, sem qualquer excepção, em todos os casos de "socialismo real") por um regime democrático, o que implica, como primeiro passo, uma profunda revisão constitucional. Este é um desafio (o da evolução para a democracia) que, no passado, nenhuma ditadura comunista instalada conseguiu resolver. Mas a criatividade e a capacidade de aprender com os erros incluem-se entre os talentos humanos mais estimáveis. Veremos (e digo-o com expectativa e esperança) se Cuba vai ou não, mais uma vez, surpreender o mundo, repetindo a comoção universal que causou quando um grupo de guerrilheiros desceu da Sierra Maestra para apear um ditador corrupto. Agora para regenerar por dentro, cívica e pacificamente, um sistema ditatorial que implantou em 1959 em alternativa - dicotómica mas siamesa - a Baptista, bisando-se, assim, a morte da ditadura em Cuba. Se todo este sonho a construir, numa utopia de regeneração assente na crença nas três irmãs liberdade-igualdade-fraternidade (que só entendo como gémeas e inseparáveis), se mostrar irrealizável, resta esperar que a senilidade (mesmo que belicosa na sua agonia) do marxismo-leninismo pague as suas dívidas para com a civilização.
(publicado também aqui)
14/07/10
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2 comentários:
"(...)está lançado um crucial desafio à sociedade cubana e que é a de como vai viver (ou sobreviver) sem repressão política e social e sem presos políticos(...) E, é claro e concomitantemente, sem perder a sua soberania e acrescentando direitos sociais aos que alcançou com a revolução e poder viver melhor, respirando os novos ventos da liberdade."
O problema de Cuba é, depois da queda dos parceiros económicos do "socialismo real", não o progresso mas o de como dar de comer ao povo. Do ponto de vista económico, Cuba chegou a ser muito superior a outros países latino-americanos (e ainda será). Acreditar que hoje ainda pode vir a ser algum farol é troçar de um dos pilares em que o socialismo necessita de se apoiar: a perda de hegemonia do capitalismo tem de se dar através da perda de territórios sob a sua dominação, e isto já não mencionando a impossibilidade de ver os países mais avançados a libertar-se dele.
A Cuba não resta outra saída que não a de mercantilizar o seu território em favor do turismo, para se alimentar de gorjetas e côdeas de americanos e europeus que lá vão em viagens de finalistas.
Excelente tema sobe a liberdade em Cuba.ou noutro Pais,onde existam ditaduras.Envio para Manzanares,uns artigos de uso pessoal,não imagina a alegria dos meus amigos medicos,por exemplo umas sapatilhas,umas camisas,enfim!Estive em Havana,parecia bombardeada,face ás ruinas das casas,que tristeza! Varadero é um paraiso turistico,mas os cubanos estiveram muitos anos sem poder lá entrar!O embargo dos americanos é um crime a um povo cordial,mas a politica é cega,tal como este regime completamente ultrapassado e velho.Pois...O ensino e a saude
é um bem social,mas o povo paga com lingua de palmo,limitações desumanas.Se tivessemos tido politicos e economistas sérios em Portugal,e não esta roubalheira,teriamos hoje uma sociedade democrática e seguramente equilibrada socialmente,mesmo assim prefiro de longe estes problemas no meu Pais,do que aquela pobreza em Cuba,onde tudo falta.Se o capitalismo selvagem e sem rosto é uma tirania,que dizer deste comunismo cubano que não tem progresso e que gera tambem imensa corrupção dentro do sistema.Não publico no meu blogue as mensagens dos meus amigos em Manzanares,porque isso pode ser grave para eles,onde a policia do sistema não perdoa,tal como aconteceu com o famigerado Salazarismo.
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