31/03/11

Novas formas de saber-prazer

Ciclo de cinema porno-feminista? Mas xs feministas não acham todxs que a pornografia é uma forma de degradação e exploração das mulheres? Há feministas que vêem a pornografia como espaço de contra-poder, de resistência aos códigos normativos da pornografia tradicional por produzir representações alternativas, em que corpos, partes dos corpos e desejos considerados “monstruosos”, pela norma sexual e de género, têm lugar. Na pornografia feminista estão representados os órgãos que não funcionam para a norma heterossexual, os “defeitos”, o que está fora do padrão e é descartado e invisibilizado pela norma sexual - lésbicas, gays, trans, putas, travestis, drag-kings, mulheres barbudas, pessoas com deficiência, velhxs, sado-maso’s, bi’s, queer, etc. No porno feminista estes “monstros” passam a ser sujeitos de enunciação e lugares de resistência ao ponto de vista “universal” do homem branco, heterosexual, de classe média. Este ciclo é um espaço para essas práticas marginalizadas, para essas performatividades alternativas, e para construir novas formas de prazer-saber.

19 comentários:

Anónimo disse...

isto é para levar a sério?

Ricardo Noronha disse...

Sabes onde é que é para levar?

Miguel Serras Pereira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Miguel Serras Pereira disse...

Camarada Ricardo,

se a malta fica sem saber o que é a pornografia, como é que pode saber os critérios de uma pornografia alternativa ou do que a faria ou não desejável? Não achas a ideia de uma pornografia politicamente correcta absolutamente censória? Não te parece que deitar borda fora todo e qualquer "universal" ou "universalização" é abrir caminho à servidão e ao direito do (sujeito da enunciação) mais forte? E, depois, ser "homem branco" e "heterossexual" é comparável a uma pertença de classe (em si) ou a uma posição de classe (para si)? Dúvidas democráticas, camarada, estas minhas - ou achas que, nestas matérias, não há que duvidar?

Abraço vigoroso, mas não fracturante, deste teu amigo heterossexual (pobre de mim, mas se é mais forte do que eu?) e (escandalosamente) branco (dizem que se trata - mas será mesmo preciso?)

msp

Luis Rainha disse...

"que está fora do padrão e é descartado e invisibilizado pela norma sexual"? Não convives muito com consumidores de pornografia, pois não? É que, mesmo que sejam (ou pareçam, pelo menos) 100% straight, os heavy users costumam ser bastante ecléticos.

Say what? disse...

Shocking, indeed ;) cof cof, é para avisar que isso já só lá vai com anões velhos desdentados e tuberculosos com galinhas pernetas. Acho que até a necrofilia já é mainstream. Sempre é mesmo verdade que os nossos revolucionários e revolucionárias (como diria o Louçã)pararam em meados do século XIX, na altura em que os nossos trisavós mostravam uns aos outros estampas de mulheres com as mamas à mostra?

Anónimo disse...

este texto é o politicamente correcto do alternativo.

Anónimo disse...

"o homem branco heterossexual de classe média..." deve ser provavelmente o maior consumidor de "lésbicas, gays, trans, putas, travestis, drag-kings, mulheres barbudas, pessoas com deficiência, velhxs, sado-maso’s, bi’s, queer, etc."

Ricardo Noronha disse...

Camaradas, limito-me a divulgar a iniciativa e não participei na redacção deste texto (como me parece sugerido pelo itálico).
Dito isto, parece-me despropositado falar de uma "pornografia politicamente correcta" para arrumar tudo o que não seja um gajo com um enorme caralho a foder à bruta uma gaja com um grande par de mamas. Aliás, o que é que há de politicamente incorrecto na indústria pornográfica mainstream, com todo o amontoar de clichés que a caracteriza (a enfermeira, o canalizador, a mulher polícia, a colegial, o mecânico de automóveis, etc...)?
Um pouco mais de imaginação não faz mal a ninguém e, digo eu, torna a vida bastante mais interessante.
Miguel, um "ponto de vista “universal” do homem branco, heterosexual, de classe média" é considerado neste texto o padrão dominante das representações do desejo e do prazer. Não vejo bem o que se ganha em trazer para este contexto o debate acerca dos méritos da "universalização". Em todo o caso parece-me que essa "universalização" também pode facilmente contribuir para uma (ou diversas) estratégias de dominação. Como, por exemplo, quando o governo de hoje e o governo de amanhã justificam os sacrifícios de alguns com o interesse de todos. Ou quando se "universaliza" um padrão de comportamentos sexuais a partir de um paradigma heterossexual (ou monogâmico, ou puritano, ou promíscuo, ou o que seja).
Luís, os heavy users da pornografia são para mim um continente desconhecido. Mas por amor de Deus, tu partilha connosco tudo aquilo que sabes. Vamos começar pelo mais fácil: estamos a falar de quantas mulheres ao certo?

Miguel Serras Pereira disse...

Ricardo,
claro que o "universal" pode ser e tem sido usado como máscara da domianção - mas a particularidade, o identitário, etc., não lhe ficam atrás.
Quanto ao tipo de pornografia apregoada como alternativa, vamos admitir que não faça mal a ninguém (não percebi bem qual é a "oficial" e qual a "contestatária", mas adiante…), o que me incomoda é que se declare "superior" (ou "subversiva" - de quê?). Está muito certo que não queira ser reprimida por uma norma arbitrária (a da pornografia "dominante"), parece-me excessivo querer-se, por sua vez, "normativa". E, depois, quer-se ainda pornografia, e não alternativa à pornografia - certo? Mas porquê e em quê?
Digamos, caricaturando, que uma coisa é a posição do missionário ser a única permitida ou valorizada - outra coisa é dizer que deve ser, senão proibida, desvalorizada como "baunilha" ou "social-democrata". Ou afirmar a superioridade política do que for mais queer, ou minoritário, ou "infrequente".
Estou solidário com todos os protestos contra a opressão e a discriminação, mas não me sinto obrigado a idealizar o oprimido e muito menos a fazer de eventuais estigmas, só pelo facto de o serem, méritos políticos.
Mas esta tensão entre os nossos pontos de vista sobre o assunto vem já de longe, e não sei se será desta que nos vamos pôr de acordo. Se não levares a mal, digo-te que me incomoda uma certa atitude piedosa, catequética, não do que tu próprio dizes, mas daquilo que, apesar de tudo, vens justificar.
Tudo isto deixando de parte o que outros, como o Luís Rainha, fizeram valer nesta caixa de comentários: o "monstruoso", o "aberrante", o "disforme" são um must da pornografia, pelo que a exasperação ou a escalada a esse nível, dificilmente levarão a coisa diferente (ainda que com a ajuda da transformação da quantidade em qualidade).

Abraço

miguel (sp)

Ricardo Noronha disse...

Bom Miguel, mas sinceramente, esse é o momento em que estás a polemizar não sei bem com quem nem a propósito do quê. Quem é que afirma todas essas coisas que te incomodam? Os organizadores deste ciclo? Não me parece. Quem é que fala de «superioridade» ou faz dos estigmas méritos políticos? Sustentar uma distinção entre uma coisa e outra é necessariamente afirmar que uma é melhor do que a outra?
A pornografia de que fala o Luís não é "a pornografia", mas uma espécie de demonstração de alteridade extrema no campo da pornografia.
Aliás, parece-me que aquilo que vos desconforta é a afirmação de que existem "práticas marginalizadas".

Anónimo disse...

(Fellini dizia que nunca fez um filme pornográfico, porque nunca vira alguém sair comovido de uma sala de cinema depois da exibição de um filme pornográfico.)

Uma questão a colocar às feministas evocadas é se o eixo da sua contestação é a industria pornográfica "maisnsteam", e se lhes passa ao lado o regime patriarcal do capitalismo e da sua lógica?
É que o império de sentidos do capital está-se a borrifar se alguém é queer, lésbica, ou vanguardista vamp de sessões de beco, se forem "brancos e de classe média"!

Fazer do foro público da cona e do vergalho, a construção de uma identidade de insusbmisão é uma cedência a Hollywood e à Júlia Pinheiro.

(porém, se a pornografia mainstream ou alternativa possam ser uma questão de gosto e, vá lá, comoção, o império do patriarcado canta de galo!)

anónim@

Ricardo Noronha disse...

Disputar um terreno é fazer uma cedência?

Miguel Serras Pereira disse...

Ricardo,

sim, existem práticas marginalizadas, discriminações, etc. Não me sinto incomodado pela afirmação, mas antes por essa situação.
Mas, quanto à pornografia, sinto-me bastante em sintonia com o que diz o comentário d@ Anónim" - se é que o compreendi bem.
A "subversão"gratuita, a subversão pela subversão, pode ser usada como recurso publicitário… Mas tens razão, de lado ficam as questões importantes, que talvez valesse a pena formular e que textos como o que publicas afloram, mas só ao mesmo tempo que envolvem o núcleo do que importa em cortinas de fumo ou bons sentimentos.

Abraço

miguel(sp)

Ricardo Noronha disse...

Mas porque é que a uma "identidade" (credo!) de insubmissão, ou uma subjectividade subversiva ou o que quer que seja haveria de deixar de fora a esfera do corpo e do desejo?
É notório que a pornografia dominante segue os guiões que segue porque a indústria que a produz responde a padrões de consumo e a um público maioritariamente masculino (ainda que não necessariamente branco ou de classe média...). Ou seja, o capitalismo reproduz a esse nível as lógicas do patriarcado. Podemos sempre abandonar qualquer perspectiva crítica a esse respeito com o argumento de que uma pornografia "queer" não seria necessariamente menos capitalista. Mas acho que então deixa de fazer sentido tudo o que não seja queimar dinheiro e roubar mercadorias, porque os aumentos salariais reforçam o capitalismo e os direitos sociais contribuem para assegurar o consenso em torno da ordem capitalista e assim sucessivamente.
Parece-me o tipo de argumentação que corre a passos largos em direcção ao absurdo.

Anónimo disse...

" On n´arrive à tout qu´en ne doutant de rien ", R. Vaneigem, Le Livre des Plaisirs. Devem saber que este é dos livros mais explosivos que existem, não é? Sade e Bataille à potência-n, de desejos e de revoluções! Dava para encher- neste tempo de guerras " sujas " imperialistas- centenas de páginas ou murais... Vaneigem bem o aponta: " Não existe Harmonia sem irredutível Autonomia. Ò, tu, minha vontade, dai-me uma multidão de desejos e o prazer de os realizar todos! E que a revolução tanto nos emporte como, seguramente, me sacode a mim ". Niet

nunocastro disse...

O problema não é o texto (que para todos os efeitos, é uma salganhada idiota).O que não cola é a selecçao de filmes??? O Behind Deep Throat? é um documentario! O Dirty diaries, é um porno banal (se tal coisa existe). O behind the green door (e ja sao dois behinds) é a verdadeira pornochachada... Yes, I know my porn!

em resumo, festival da treta com discurso bombastico.

nunocastro disse...

O problema não é o texto (que para todos os efeitos, é uma salganhada idiota).O que não cola é a selecçao de filmes??? O Behind Deep Throat? é um documentario! O Dirty diaries, é um porno banal (se tal coisa existe). O behind the green door (e ja sao dois behinds) é a verdadeira pornochachada... Yes, I know my porn!

em resumo, festival da treta com discurso bombastico.

Ricardo Noronha disse...

Tens razão Nuno. Este festival de cinema porno não é tão bom como aqueles que tu costumas organizar.