Uma data qualquer. Desde que esteja no futuro próximo. Desde que represente mesmo uma refundação absoluta da nossa esfera política. Desde que não sirva apenas para comemorar um passado redentor agora soterrado por décadas de cinzas. Urge olhar para uma data nova, que fique a marcar o início de vidas diferentes, de um país sem Sócrates, sem Portas, sem hordas de gafanhotos disfarçados de políticos; mas também sem uma esquerda calcificada e incapaz sequer de converter a insatisfação em possibilidades de mudança pela via das urnas.
O 25 de Abril já acompanha a implantação da República ou a tomada da Bastilha no panteão dos dias que nos edificaram enquanto criaturas sedentas de liberdade e de igualdade. Agora, precisamos de mais. Exige-se porvir, merecemos mais do que celebrações saudosas e discursos conformados à reforma de um sistema que apenas serviu para nos entregar ao beco sem saída. E não é apenas a dívida, o défice, os milhões sem fim a correr para os bolsos de sempre. É a banalização do mal quotidiano: os escândalos que já não espantam, os espertos que nem sequer se dão ao trabalho de disfarçar as suas patifarias, a obscenidade da corrida aos lugarzinhos.
Aceitamos como inevitáveis os sacrifícios e o convívio com os pequenos monstros que nos cavalgam enquanto nos chupam o sangue. Mas os islandeses relembraram-nos de que alimentar a corja não é destino inevitável para manada alguma. Hoje mesmo, há gente na Síria a morrer em busca de algo mais do que conformismo e sujeição. Por cá, preparamo-nos para apodrecer em mais quatro anos entregues aos patronos da democracia, aos donos do tão celebrado "arco da governação". Bardamerda.
Eles que não durmam descansados. Dia ___ de ___________, tudo vai mudar.
24/04/11
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10 comentários:
Muito bem escrito! ;))
Estás mesmo em grande forma, camarada Luís. Eu diria mesmo em forma excepcionalmente grande, pá.
Robusto e revigorado abraço para ti
miguel (sp)
Se estivesse mesmo em grande forma, não me sentia tão miserável, Miguel.
Mas dias melhores virão.
Um grande abraço esperançado para ti :-)
É natural que te sintas miserável, Miguelito. Vais deixar a barriga em casa, burguesito, e fazer uma revolução? Aposto que sim.
O 25 de Abril já acompanha a implantação da República ou a tomada da Bastilha ...tamém nã era preciso exagerar
o 26 de Maio é a data que alterará para sempre....
é como o Reich dos 1000 anos
é a queda de uma ditadura que terá outras sucessoras nos próximos séculos...pelo andar da carruagem terá muitas
e muitas revoltas corporativas que trarão outras tantas ditaduras e libertações
não esquecer que a república só durou mais do que a Dinastia filipina..é poucochinho
basta ver a qualidade dos aaa@aaa
que temos
aaa@aaa.pt
sim, deixaria de boa vontade a barriga em casa para fazer qualquer coisa que fizesse falta. O meu problema é que, barriga, propriamente não tenho. Que hei-de eu fazer para me tornar revolucionário?
msp
P.S. Já agora, se me permite um conselho, convém saber a quem se responde. É verdade que o seu comentário é tão estulto-estalinista que isso não faz grande diferença: responda à pessoa certa ou a outra, falha sempre o alvo - só o atinge a si.
Rainha amigo, o Vias está contigo.
Pode ser que te sintas como dizes, mas pensa melhor no assunto: é que aquilo que fazes - por exemplo, quando aqui escreves ou escreves outras coisas que em breve, espero, iluminarão o mundo - é muito diferente desse sentimento e, aposto, mais forte do que ele.
Abraço grande
miguel(sp)
Miguel,
Não te amofines escusadamente com a criaturita, que aquilo da barriga era comigo. O que o ácaro não sabe (entre toneladas de outras coisas) é que até emagreci quase 20 quilitos este ano :-)
E, claro está, obrigado pelo encorajamento solidário.
1 abraço
Castoriadis: Da alienação à Autonomia ! Todos sofremos e todos nos sentimos mal com o " andar do Mundo "...Mas urge atacar e saber ultrapassar o impasse- social e histórico-que nos manieta e,ao mesmo tempo, nos faz lutar pela autonomia e a criação de uma nova sociedade." A alienação, momento e moo da história, origina-se na história, não tem fonte transcendente nem fundamentação transcendental", frisa Castoriadis num texto magnifico, enorme e estruturalmente múltiplo e diferencial, inserto em " Histoire et Création ". Desse trabalho revolucionário impar alguns lances para despertar a vontade de mudança e libertação. " A humanidade só acabará de se alienar quando deixar de procurar definir-se relativamente a outra coisa, a um outro termo; só quando se acomodar nesta, não indefinição, mas especificidade do seu " estatuto ", que determina que não seja outra coisa que o fazer de um ser feito e o fazer o ser de um ser a ser realizado. Da mesma forma, quando aceitar que é inerente à natureza, sem ser disso o mestre e possuidor, nem um fragmento descartável; que participe na racionalidade, sem ser a racionalidade, nem a poder evitar;quando aceitar na sua própria finitude, que deriva que ela não é nunca, enquanto humanidade concreta,senão uma pequena parte, tout court, dessa humanidade. Mas esse saber, a humanidade não o pode atingir por conversão interior, nem à força de o discutir e de o esclarecer. Não o pode atingir senão através de um processo real, num fazer que a transforma efectivamente, e onde a elucidação do real e a transformação avançam apoiando-se um no outro. Para isso, deve passar à acção e exprimir as suas pulsões aferrolhadas, deve demolir as estruturas rigidas que manietam o seu desenvolvimento na repetição, deve colocar em destaque o imaginário e demolir as incarnações automatizadas que transporta em si- e a sua própria divisão entre os que " têm ", " sabem ", " dirigem " e os que não têm, não dirigem, não sabem. Este processo real, é a fase revolucionária.(...) é o processo da destruição das instituições onde se fixa a dominação do imaginário autonomizado( alienação), e o estabelecimento das instituições da Autonomia ".Niet
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