Sim, é (*), conforme se publicita, um romance sobre o assassinato de Trotsky pelo agente dos soviéticos Ramon Mercader escrito por um conhecido escritor cubano a viver e a escrever em Cuba. Mas essa parte que não seria pouca, de tal forma a excelência do resultado, é só um aspecto do último livro de Leonardo Padura, um dos grandes acontecimentos editoriais da primeira metade deste ano em Portugal. Porque o livro de Padura é mais do que o cruzamento entre as vidas e as mortes de Trotsky e Mercader (a presença deste agente do NKVD em terra cubana nos seus últimos quatro anos de vida, é pouco conhecida e é compreensivelmente nublada – repito: ele escreve e vive em Cuba - por Padura: a sua estadia foi a sua última missão de agente e esbirro policial, treinando os agentes da secreta castrista). Não só é também um “tratado” sobre a história da repressão soviética, o cerne do estalinismo, como transmite a atmosfera sórdida cubana e os seus traços de filiação na matriz comum que amarra os comunistas nos lugares onde o poder lhes calha nas mãos. Apesar de Trostsky e Mercader acabarem por adquirir alguma simpatia emprestada pela benevolência de Padura, o resultado é um notável fresco sobre a face negra do comunismo, o seu diagnóstico porventura mais demolidor e impressivo publicado até ao momento, sobretudo devido ao talento literário de Padura que torna a terrível história da repressão e do crime estalinista sob a forma palpável das vidas humanas (dos reprimidos e dos repressores). E é, para já e repetindo, o grande livro deste ano.
(*) – “O homem que gostava de cães”, Leonardo Padura, Porto Editora
21/05/11
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
5 comentários:
É necessário acrescentar que se Trotsky tivesse ganho a disputa do Poder com Estaline teria sido ele a tratar da saúde a Estaline! Basta ver o que Lenine e Trotsky fizeram quando massacraram os trabalhadores do Soviet de Kronstadt e iniciaram a repressão na União Soviética...Jamais haverá comunismo com partidos leninistas e poder centralizado no Estado e nas mãos duma pequena elite, mesmo que se diga revolucionária.Isso já Bakunin tinha entendido no século XIX.
Sr. David da Bernarda: a sua aparente catilinária não tem base de sustentação minimamente credível, pois, a efectiva repressão do Soviet de Kronstadt teve lugar em Março de 1921, no final de uma guerra civil absolutamente terrível.E foi Lénine que " implicou " Trotski na sangrenta repressão... A Oposição de Esquerda, tendência constituída por Trotski depois da morte de Lénine,com sucessivos andamentos e componentes ,acabou por ver os seus milhares de elementos executados em 1936 no campo de trabalhos forçados siberiano Vouhakrouts. Mesmo o assassinato de Trotski no México, no Verão de 1940,envolveu altas cumplicidades internacionais e uma série demencial de " jogadas e provocações " instigadas por Estaline, com agentes duplos e ex-militantes internacionais da IV Internacional.Niet
O cagaço da deslocação de alguns poucos votos para os comunistas é assim tão grande? :-)))
Talvez fosse altura de alguém escrever um livrito para ser lançado antes das eleições, contando uma estórias sobre os regimes tão simpáticos que eram apoiados pela UDP, pela LCI, etc., antes de terem "virado" sociais democratas.
O sr. Enver Hoxha consegue ser mais profundo que o sr. da Bernarda, pois indica, liminarmente, a ideologia que professa...No entanto, a questão de Cronstadt levou-me não só a reler os textos de Trotski e Broué, que se completam, como deparei com umas teses muito heterodoxas de Paul Avrich que afastam a mão do Léon Davidovitch da sangrenta repressão- como aliàs, Voline também o iliba, de uma forma mais enviezada. Foi Zinoviev, a " sombra " de Lénine, que arquitectou todo o processo repressivo contra os marinheiros e proletariado do porto de Petrogrado, nova geração muito diferente da de 1917, e "conseguiu " o apoio da Oposição Operária para a sua realização. Niet
Enviar um comentário