Embora nãõ subscreva na íntegra os pressupostos que me parecem ser os de Luís Leiria , o essencial das conclusões da "tribuna" que acaba de publicar no esquerda.net impõe-se a quem quer que defenda que a "soberania popular", com as liberdades e direitos que implica, não é uma palavra inteiramente vã - e prima sobre qualquer apologia da "independência nacional" que se queira invocar contra ela e os seus corolários.
Nos últimos dez anos, Khadafi abriu a exploração de petróleo às grandes empresas petrolíferas estrangeiras como Repsol, Total, Eni, Occidental, PetroCanada. Depois disso, os governantes europeus pareciam fazer fila para visitar o “grande líder”: Schröder, Berlusconi, Blair, mais recentemente Sarkozy, Sócrates... Colaborou activamente com a política “anti-terrorista” de Bush depois do 11 de Setembro. Em 2008, a Líbia assinou com os EUA um acordo de cooperação que abriu o mercado líbio às grandes empresas norte-americanas, para além das companhias de petróleo. Então, o mito de um Khadafi anti-imperialista não passa disso mesmo: um mito.
[…] na argumentação desta esquerda que apoia Khadafi parece que há uma espécie de buraco, negro que isola os regimes de Khadafi e de Bashar al-Assad da Primavera árabe. Não se ouviu esta esquerda dizer que os manifestantes anti-Ben Ali ou anti-Mubarak eram pagos pela CIA. Na Tunísia e no Egipto, viva a oposição, vivam as revoluções, bem como no Iémene ou no Bahrein. Na Líbia e na Síria, não.
Mas, então, porque decidiu a Nato decidiu intervir militarmente? Porque não pode dar-se ao luxo de deixar uma revolução seguir o seu curso sem influenciar os seus líderes e garantir o controlo do futuro governo. Ainda assim, são conhecidas as reservas de Obama e a resistência a que as tropas americanas encabeçassem a força. E as tentativas de negociação que foram promovidas e, ao que tudo indica, só fracassaram porque Khadafi não aceitava qualquer solução que passasse pela sua saída do poder.
Não tenho dúvidas[…] é preciso condenar a intervenção da Nato e (…) deve haver líderes de forças do CNT pagos pela CIA. Mas isso invalida o carácter da mobilização anti-Khadafi? Claro que não. Também o facto de o CNT ter sido felicitado e reconhecido pela Autoridade Palestiniana e pelo Hamas não o transforma em progressista e defensor da causa palestiniana. O que será o próximo regime da Líbia ainda está para se ver e depende sobretudo do curso da revolução.
Mas Khadafi, ao que tudo indica, já é passado. O pior ainda vem pela frente: Bashar al-Assad, o homem que usa tanques e navios de guerra para massacrar a sua própria população. A oposição da Síria continua a usar as mobilizações de massa, e não a luta armada, para o denunciar. E não desiste, apesar dos massacres - pelo menos 2.200 mortos.
Assad já foi denunciado por crimes contra a Humanidade por um dos principais líderes da OLP. Será que a esquerda que o defende não vai abrir os olhos?
A questão que resta pôr é a seguinte: ainda que, como Luís Leiria, nos oponhamos a uma intervenção do tipo da que tem lugar na Líbia, poderemos recusar, por princípio e em todas as circunstâncias, qualquer tipo de intervenção em apoio dos manifestantes de Damasco, sobretudo quando, entre eles, se levantam já vozes que apelam à solidariedade internacional com o seu combate? Não deveremos antes impor aos governos europeus a aplicação de sanções efectivas ao regime de Damasco, e, se as coisas se agravarem e os massacres ganharem maiores proporções, reclamar, não uma intervenção militar da NATO, mas a presença no terreno de forças — por exemplo, das Nações Unidas — que impeçam a chacina e assegurem um papel semelhante ao que deveriam, dir-se-ia, desempenhar intervindo na Palestina? Não vejo como pode negar-se a responder a estas perguntas quem quer que defenda o direito de todos os povos à "soberania popular", sem subordinação desta última ao colete de forças ideológico da dita "independência nacional".
28/08/11
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16 comentários:
Algumas notas circunstânciais sobre a evolução da revolução na líbia: Sami Nair defende o processo constitucional democrático para o estabelecimento da vida pluripartidária na Líbia, como forma de defender a independência territorial e a autonomia política do povo, e preconiza o envio de uma força de paz da ONU para garantir a implantação da democracia; o sistema de prospecção petrolífero líbio exige para o seu pleno funcionamento quase um ano de inspecção/reparação a todo o sistema; a Argélia anunciou pública e internacionalmente que só reconhecerá o novo poder, ligado à CNT, se houver uma garantia contra as infiltrações da Al-Queda árabe na estrutura dirigente politico-militar da oposição libia agora vencedora; a Síria e o Hezbollah saudaram a queda do regime de Khadaffi enquanto que a Russia tenta " salvar " os paoís de munições e os serviços de transmissões " montados " nas últimas semanas para tentar fortalecer as tropas fiéis do antigo ditador. Niet
Os aldrabões de certa esquerda (que quer parecer muito educado e bem comportada) continuam a debitar jogos de palavras para justificar o seu apoio à criminosa intervenção da NATO na Líbia.
Oh senhor msp, é capaz de me dizer quem são os tais de esquerda que apoiam o Kadhafi? É capaz de citar aqui algum dos seus argumentos?
Entretanto chafurdem com toda a corja de reaccionários, por entre o espectáculo macabro dos mortos líbios misturados com o cheiro a petróleo!
A. Silva,
encontrará vários apologistas do "progressismo" de Kadhafi entre os comentadores de alguns posts do 5dias - com destaque para o indescritível Leo:
não sei se são de esquerda, mas, pelo menos, dizem que são e sustentam um discurso semelhante ao seu.
Vá lá ver e demore-se. A sua conversa comigo não pega. Ainda não deu por isso?
Eu pedi-lhe para citar um argumento desses supostos defensores de Kadafi a apoiar o dito, mas o msp prefere ficar pela acusação sem provas.
A. Silva,
visite as caixas dos comentários do posts que lhe referi - encontrará coisas como esta, escrita pelo Leo, num comentário a um texto do JVA: "barbárie em curso no país que ocupa o 1º lugar do seu continente em termos de Desenvolvimento Humano. Não descansaram enquanto não o espatifaram. Um crime medonho e medieval" (http://5dias.net/2011/08/27/a-frase-quer-se-lapidar-1/comment-page-1/#comment-205909).
Divirta-se.
Na lista de espera dos "direitos humanos" está o Irão...Só que é um osso duro de roer.
Já a Arábia Saudita e o Paquistão ficam de fora!
Se essa cruzada dos "direitos humanos" tivesse começado nos anos 60/70 outros deveriam ter invadido os Sates.
Coisa que nenhum americano iria compreender. Ainda hoje não sabem porque tanta gente no estrangeiro não gosta deles.
A. Silva,
esqueci-me deste outro comentário, que retoma no essencial a defesa de Kadhafi formulada pelo embaixador português na Líbia - antes da intervenção - quando tiveram lugar as primeiras manifestações contra o ditador:
"Ao contrário do que jornalistas ignorantes vão veiculando como se fosse verdade absoluta, a Líbia não era um país afectado pelo mesmo tipo de males sociais que atingem o Magrebe (Marrocos, Argélia, Tunísia) ou o Chade, o Niger, o Burkina Faso; era uma nação desenvolvida, com um sector financeiro e bancário nacionalizado, com uma importante reserva de ouro, sem dívidas nem pedidos de crédito ao FMI e ao Banco Mundial, era uma nação com um serviço de saúde gratuito, moderno, tecnologicamente avançado (como pudemos apreciar nos diferentes hospitais visitados pelas televisões ocidentais) em nada parecido com a catástrofe sanitária que são os hospitais marroquinos ou egípcios que atendem as populações mais empobrecidas e destituídas". (Cf. http://5dias.net/2011/08/28/na-libia-de-hoje-nao-ha-herois/comment-page-1/#comment-206077)
Se isto não é uma tentativa deesesperada de defender o regime, teremos de arranjar outra língua para nos desentendermos
msp
msp, eu diria que isso são dados concretos sobre a Líbia, que podem ser contestados, rebatidos, postos em causa na sua veracidade, mas o integro, o arguto msp vê aqui uma tese e não rebate a realidade, prefere repetir até à exaustão o enredo que o capital pôs a circular pelos seus amestrados meios de propaganda (vulgo comunicação)
É mentira que a Líbia ocupasse o 1º lugar do seu continente em termos de Desenvolvimento Humano?
É mentira que este crime da NATO vai espatifar essa situação?
É mentira que a Líbia não tinha problemas sociais como Marrocos, Argélia, Tunísia ou o Chade, o Niger, o Burkina Faso? (vamos ver de futuro)
É mentira que a Líbia tivesse um sector financeiro e bancário nacionalizado, com uma importante reserva de ouro, sem dívidas nem pedidos de crédito ao FMI e ao Banco Mundial? (e que vai deixar de ter)
É mentira que a Líbia era uma nação com um serviço de saúde gratuito, moderno, tecnologicamente avançado? (e que vai deixar de ter)
E vamos ver em termos de liberdade religiosa e de emancipação das mulheres o retrocesso que vai ser, a exemplo do Iraque e do Afeganistão.
Mas o arguto msp vê nisto uma tese maquiavélica, mas não rebate a realidade.
Pois podem ser da CIA
Podem ser até os que suportaram kadahfi durante décadas
mas isso não muda o facto de serem anti-kadahfi
até podem fazer o mesmo que no Egipto
e distribuirem os fundos da ditadura entre eles
desde que sejam anti-Pinochet são bons tipos
De 30 mil milhões em Pitroil ao ano
e com gastos em cimento auto-estradas e armamentos afins
de 60% do PIB
se calhar deviam ter reservado umas fatias para a produção
em vez de importarem 2 milhões de trabalhadores para as obras do regime
e materiais associados
e importar gente do Bangla como nós importámos vietnamitas...
a malta invejosa chateia-se
tamém querem ter tendas gigantes
e fundos de 100 mil milhões para gastos pessoais
Foi uma mistura de nacionalismo árabe, pan-nasseriano, com as aterradoras e perversas receitas do marxismo soviético que acalentaram/sustentaram regimes despóticos e monopartidários durante décadas como os de Khadaffi.Quem não percebe isto, ou anda por má-fé ou continua escravo dos mais negros designios da ideologia Joseph Estaline United Colours. A antiga URSS " inventou ", por um lado, uma forma superior de neo-colonialismo que " sugava " os bens alimentares- como no caso das reservas de peixe de Angola em 1975- ou geológicas e minerais; ao mesmo tempo que expandia o fluxo do armamento automático a par da ideologia marxista-leninista de cartilha estaliniana estrita - a exportação de Kalachinofs nos anos sessenta foi um marco essencial - que iriam moldar uma nova forma de actuação política muito mais violenta e totalitária, criando paralelamente modelos de governação sanguinários e dependentes da ajuda tecnica e ideológica dos " paraísos " do socialismo de Estado, como a URSS, China e Cuba. O caso " líbio " foge um pouco à norma por estar inserido num contexto medio-oriental e ser relativamente muito pouco povoado. Mesmo assim, a URSS convenceu o regime de Khadaffi a tentar construir meios atómicos de defesa, que viriam a ser desmantelados no periodo rocambolesco assumido pelo despota libio no pós 11 de Setembro 2001. Niet
Arguto msp, o que está em causa na Líbia, não é o kadafi, nesta história essa personagem é quase irrelevante, o que aqui está em causa é uma questão ética e de princípio, o direito que as nações e os povos têm de decidir o seu futuro (e já agora, as pessoas).
É isso que a esquerda reclama!
E é claro que a cobiça do capital pelos recursos líbios é fundamental
Quanto a si, pode juntar-se ao anónimo das 22.15. Parece que o seu campo político é mais o dessa gente!
A. Silva,
releia o texto do Luís Leiria que cito no meu post.
Quando V. diz que, nisto tudo, o Kadhafi e o seu regime não contam, para dizer a seguir que a insurreição contra eles é uma operação dos serviços secretos e dos agentes do capital, como quer continuar a discutir?
Do texto do LL - pois quero pressupor que V. se reclama da esquerda - sublinho:
"
[…] na argumentação desta esquerda que apoia Khadafi parece que há uma espécie de buraco, negro que isola os regimes de Khadafi e de Bashar al-Assad da Primavera árabe. Não se ouviu esta esquerda dizer que os manifestantes anti-Ben Ali ou anti-Mubarak eram pagos pela CIA. Na Tunísia e no Egipto, viva a oposição, vivam as revoluções, bem como no Iémene ou no Bahrein. Na Líbia e na Síria, não".
msp
Mas qual insurreição contra kadafi qual carapuça, o que assistimos na Líbia é a um ataque CRIMINOSO da NATO contra o povo Líbio e NÃO contra kadafi, com o fito de abucanhar os valiosos recursos libios!
Qualquer pessoa de esquerda, que seja honesta, que tenha memória, ou que pelo menos tenha estudado a história das várias organizações de esquerda/esquerdistas em Portugal, sabe que nunca houve por cá uma organização de esquerda que apoiasse (pelo menos claramente) a “revolução verde”, quanto muito kadafi era respeitado/tolerado pelo apoio (valioso) que prestou aos movimentos de libertação africanos, aos palestinianos à OLP e a Arafat.
Nos últimos anos a separação entre a esquerda e kadafi era clara, a não ser para a “esquerda” moderna do sócrates e cª.
Essa tentativa de certa “esquerda” fofinha, de querer confundir a defesa do direito que os povos têm de resolver os seus problemas sem a ingerência (criminosa) do capital, com o apoio a kadafi, ao mesmo tempo que tornam seu o discurso de diabolização de kadafi, só serve para justificar os crimes de camerom, obama, sarkozi e companhia.
Confundir as revoltas genuínas do povo egípcio e tunisino com esta farsa na líbia é mais um exercício de desonestidade desta “esquerda” fofinha.
Objectiva e mais que claramente, você está do lado do capital.
Uau! O Hamas é progressista?
Os regimes tunisinos e egípcios podem ser contestados pelo povo.
A contestação ao regime líbio só pode mesmo ser uma maquinação imperialista!...
Haja paciência...
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