O enunciado vem no Luís de Camões. Portugal daria novos mundos ao mundo, vaticinava Júpiter n’ Os Lusíadas, e o facto é que aconteceu.
A última vez que tal coisa vimos foi quando da criação do Allgarve, golpe d’asa do ex-ministro Manuel Pinho, profeta inovador, além de temerário.
Se digo temerário, não o faço para proveito próprio ou estilístico, antes porque recordo “o esforço e valentia” com que enfrentou a maldição de Garrett que tantos lhe imprecaram (aquando da demolição da casa do escritor no bairro de Campo de Ourique em Lisboa, entretanto adquirida pelo ministro).
E recorde-se: nem mesmo quando os mais arreigados maldizentes, “por manha e falsidade”, o ameaçam com o fantasma da “menina dos rouxinóis” — Joaninha de seu nome, versão da Murta Queixosa antes de haver Harry Potter — Manuel Pinho se acobarda. A nova casa está lá, para mostrar — e provar — a fibra de que é feita a gesta lusitana.
Não vive o seu melhor momento — a gesta lusitana —, apesar de a entrada do fado no Património Oral e Imaterial da Humanidade, batendo, por exemplo, o kung fu de Shaolin, embora, precisamente por ser imaterial, tal distinção não pareça vir resolver grande coisa.
Como, porém, é sabido, nem só de pão vive o homem, ou, em francês: “S’ils n’ont pas de pain, qu’ils mangent de la brioche”, não sendo também de mau tom citar Mário Cesariny: “(...)/Que afinal o que importa não é haver gente com fome/ porque assim como assim ainda há muita gente que come/(...)”.
Segundo o recente relatório da OCDE, Divided We Stand: Why Inequality Keeps Rising, ainda haverá por aí muita gente que come mas o fosso entre os ricos e os pobres atingiu o nível mundial mais elevado das últimas três décadas.
E como o relatório não inclui dados deste ano — annus horribilis que dará lugar daqui a pouco a outro annus horribilis (oxalá me enganasse!) — nem sei o que diga mais. Talvez a solução esteja no crowding out ou, então, é ao contrário: a culpa é do crowding out.
Vá-se lá entender os místicos!
12/12/11
"Não é desgraça ser pobre"
por
Ana Cristina Leonardo
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Crise,
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3 comentários:
os verdadeiramente ricos não entram nestes relatórios, ao que me parece; os lucros das grandes empresas aqui na europa vão para offshores, a única coisa que se conhece são os ordenados; mas os ordenados são só uma pequena parte da riqueza produzida.
O grande problema é o empobrecimento generalizado que ocorre desde a viragem do século, resultante dessa parte da riqueza produzida que não vai para ordenados continuar a crescer muito mais que o PIB. E como quer continuar a crescer, agora temos de empobrecer para que os capitais que vão para offshores possam continuar a crescer.
Quem é que diz que ser pobre não è desgraça?Devem ser os ricos com certeza.Só leio asneiradas.
anónimo, com o grau de inteligência demonstrado pelo comentário, eu se fosse a si deixava de ler e pronto
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