18/01/12

O 18 de Janeiro de 1934 hoje

Pensando no 18 de Janeiro de 1934 e no que se perdeu com ele — para começar, a velha CGT da regiãõ portuguesa, solidária de outras organizações de trabalhadores cujos princípios essenciais foram os da Carta de Amiens (1906) — creio que, fazendo embora minhas as razões do Pedro Viana, uma alternativa à desvinculação que ele sugere aos trabalhadores filiados na UGT, seria que estes tomassem a iniciativa de derrubar a actual direcção da central, redefinissem o seu programa e organização e apresentassem, eventualmente em conjunto com outros, uma proposta de reorganização do sindicalismo em termos radicalmente democráticos e internacionalistas, visando a desmercantilização da força de trabalho, a igualização dos salários e rendimentos, a democratização efectiva do mercado, e a direcção e gestão da actividade económica através da participação igualitária dos seus agentes.

Matavam-se assim dois — ou mais — coelhos de uma só cajadada, essa que, sem dúvida, merece o sindicalismo amarelo, e que o Pedro bem recomenda. Mas ele e outros que digam de sua justiça sobre o meu alvitre "sindicalista revolucionário".

6 comentários:

Pedro Viana disse...

Caro Miguel,

Claro que seria preferível transformar radicalmente a UGT tal como sugeres. Mas isso pressupõe uma vontade colectiva no seio da UGT que não sei se é maioritária, e de certeza que não está organizada. Ou seja, não há tempo para tal. O que aconteceu requer uma resposta urgente, passível de ser tomada a nível individual, que deslegimitize, enfraqueça ou mesmo destrua esta UGT, mesmo que nada apareça em seu lugar (até porque sempre teremos a CGTP, por muitos defeitos que tenha). Que demonstre que os trabalhadores portugueses não são servis, nem cobardes perante chantagens descaradas e sem capacidade para se imporem.

Um abraço,

Pedro

Libertário disse...

É oportuno que no dia de hoje Miguel Serras Pereira tenha recordado o 18 de Janeiro de 1934 e o sindicalismo revolucionário da velha CGT.
Já quanto a esperar que na UGT, milagrosamente, brote um «sindicalismo revolucionário» é ter fé suficiente para ver uma virgem em cima de uma azinheira.
A história da UGT, desde a sua fundação, tal como a da CGT, é de uma subserviência em relação à lógica partidária, de partidos diferentes é óbvio, e de sobreposição dos interesses da burocracia sindical sobre qualquer estratégia de luta anti-capitalista.
O ressurgimento do sindicalismo revolucionário, herdeiro da velha CGT, mesmo em novos moldes, só se pode dar a partir dos trabalhadores assalariados, e desempregados, e não a partir das estruturas sindicais existentes profundamente comprometidas com a manutenção do Sistema.

António Geraldo Dias disse...

Desvinculação ou derrube do governo fazem jus ao seu esforço arqueológico
para manter a força e a vitalidade na luta social pela base,mas mais depressa vamos assistir ao controlo e cooptação no seguimento de uma prática de alienação - atente-se no líder da ugt que hoje se dizia revoltado com uma campanha de desinformação-no contexto de uma ofensiva do capital servido por um sindicalismo de negociação que só pode merecer a desconfiança dos trabalhadores.

Miguel Serras Pereira disse...

Caro Pedro,
a hipótese é pouco realista, menos realista que a contida no teu apelo à desvinculação? Talvez. Mas a minha ideia é, não oferecer uma alternativa à desvinculação, mas tentar formular uma via de combate diferente da lógica sindical dominante. De resto, não vejo porque é que a desvinculação que sugeres não poderia ser acompanhada da proposta de uma plataforma de democratização radical dos órgãos e formas de "luta económica" - plataforma que só poderia potenciar os objectivos que temos em comum.
Por outro lado e pelas mesmas razões, sinto-me muito próximo do que diz o Libertário: no fundo, creio que a minha provocação-evocação diz o mesmo: também eu penso que a ruptura necessária "só se pode dar a partir dos trabalhadores assalariados e desempregados", ainda que possa, em princípio, passar também pelo interior "das estruturas sindicais existentes", uma vez que nelas se encontram muitos desses mesmos trabalhadores.
Quanto ao António Geraldes Dias, sem dúvida que, nas condições actuais, o cenário que ele antecipa é o mais "natural", o que tem a seu favor a força imensa da inércia. Mas a nós compete-nos formular alternativas, dizer e explicitar que existem, propô-las e não ceder ao "possibilismo" de quem se resigna a que o presente estado de coisas seja o único possível. Daí que entenda a sua previsão como um alerta, que, de resto, enquanto tal, só posso subscrever.

Abraço para todos

miguel(sp)

Anónimo disse...

É sempre com enorme satisfação que leio estas lufadas de ar fresco do MSP e companhia.

abraço solidário para todos

nelson anjos

Miguel Serras Pereira disse...

Venha de lá esse abraço, caro Nelson, que aqui vai outro, grande

msp