Com a Grécia, o diretório europeu deveria aprender que está a pôr em risco não apenas a União, o euro e a economia europeia, mas as democracias na Europa — escreve o Daniel Oliveira, num post em que há vários juízos de facto que merecem o meu acordo. Mas o problema é que o directório europeu, o governo do Reich e os arquitectos da sua política oligárquica expansionista, bem como os seus aliados, não só sabem que é isso que estão a fazer, como o que querem, na realidade, é acabar com as veleidades democráticas que entravem ou atenuem a sua hegemonia cada vez mais soberana. Estamos perante uma vontade exacerbada — e talvez suicida, mas isso é outra questão — de liquidar as garantias de inspiração democrática que, na sequência de lutas seculares, ainda limitam o governo oligárquico do capitalismo na Europa, ainda o obrigam a reinar constitucional e representativamente, ainda não permitem a corrupção absoluta das liberdades e direitos fundamentais que o seu poder absoluto tem por condição.
É isto que é preciso compreender: a resistência ao "directório europeu" sob a condução do governo do Reich terá de ter, desde já e abertamente, a Europa por arena. Se não soubermos começar a ripostar aqui, quer dizer em toda a Europa, à continuação da ofensiva em curso na Grécia declarando-nos e assumindo-nos como alvos seus que somos — porque os alvos da ofensiva são a enorme maioria das mulheres e homenscomuns da Europa — talvez acordemos demasiado tarde, ou caiamos sem ter sequer tido tempo para acordar, na condição servil de uma mão de obra cada vez mais desqualificada num mercado do trabalho cada vez mais soberano, integrada por súbditos administrados ou geridos, no quadro de um despotismo "liberal" institucionalizado, pelo poder hierárquico e ad legibus solutus de um capitalismo que se proclamrá a si próprio como único legislador constitucional e única fonte legítima de direito.
13/02/12
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5 comentários:
Muitos alemães vêem os gregos perder a sua franquia democrática - mas, como não são gregos, não se importam. Em breve hão-de ver os portugueses e os irlandeses perder a sua, e também não se vão importar, porque não são portugueses nem irlandeses.
Muitos alemães; mas não todos. Na Alemanha também há quem tenha lido Brecht.
" Reunam todos os burgueses de França e perguntai-lhes o que preferem: a libertação da sua pátria por uma revolução social - e não pode haver hoje outra revolução que não seja a revolução social-, ou a sua escravização sob o jugo dos prussianos? Se eles ousarem ser sinceros, por pouco que se achem numa posição que lhes permita dizer o que pensem sem perigo, nove décimos, que digo eu, noventa e nove centésimos ou mesmo novecentos e noventa e nove milésimos, responder-vos-ão, sem hesitar, que preferem a sujeição à revolução ", in M. Bakounine, L ´ Empire Knouto-Germanique et la Révolution Sociale ", OC.VII. O discurso de Cohn-Bendit em Atenas, na passada Q-Feira, sinaliza várias e muito profundas orientações de critica e ultrapassagem do impasse do modelo politico e económico que estrutura a União Europeia. Apela para uma " integração maior ", precisando que " sem uma mutação post-nacional radical que lhes permita regularizar as evoluções planetárias, não parece incongruente pensar que a U.E. possa entrar numa fase de declínio e tornar-se numa relíquia fora de moda ". Sinaliza que a " Mundialização tornou caduca a figura do Estado- Nação " e hoje é uma solução que não é desejável nem possível "; " devemos entristecer-nos pela recusa dos Estados( da U.E.) em alargarem drasticamente o campo das competências da União ", não só a nivel diplomático como no da gestão económica essencial. Sem a gouvernance integrada da economia europeia,nos seus múltiplos aspectos de investimento,rede fiscal e previsional no conjunto, a crise economica e financeira agiganta-se e faz correr riscos acrescidos. Austeridade e curto-termismo( oportunismo político) são alavancas para o desastre,menciona de forma elíptica e corajosa. " A lógica sacrificial é, de facto, um simulacro de solução. Não só por- que se emancipa do princípio de justiça social como é também um mau cálculo económico. Reduzindo a protecção social, destroi-se simplesmente o património " imunitário " de uma economia por que a privamos de meios que lhe permitem suportar os choques em periodo de crise ". Salut! Niet
Ola,
Concordo com o post e com os comentarios. Neste momento, as forças de esquerda nos centros nevralgicos não estão a actuar, o que se deve em grande parte à falta de pressão aplicada com discernimento e eficacia.
A reacção esta a ganhar, ja conseguiu de novo atirar o mouro contra o preto. Esperamos que haja sentido historico para travar esta estupidez, que sabemos muito bem até onde pode ir.
Aqui em França, onde o PS esta em boa posição para ganhar as eleições, o Hollande ja conseguiu mais uma vez a proeza tristemente banal de ir a votos sem programa economico definido, contentando-se com uns rebuçaditos para distribuir aqui e acola.
Uma classe média pronta a matar para defender a suas acções na bolsa (dos outros) e uma escumalha mais ou menos apretalhada para obrigar a primeira a comprar, também, umas pistolas e uns serviços de segurança, de preferência privados.
Isto não é a Europa, mas uma caricatura de sociedade, decalcada dos Estados que constituem a pança geografica dos EUA.
Esta na altura de ajudar o camarada Cohn-Bendit, e mais alguns (que os ha), lembrando que somos muitos a achar que ja chega de asneiras...
Não vou muito à bola com o Melenchon, mas no outro dia, ele disse uma coisa muito acertada : o mecanismo economico que leva os alemães a votar Merkel chama-se capitalização, nomeadamente capitalização do financiamento das pensões.
Hoje, ontem, e provavelmente amanhã, as palavras têm um sentido. A capitalização, em termos pragmaticos, é o reino absoluto dos dois passaros a voar. Nenhuma sociedade se pode construir sobre tal base. Nem sequer uma sociedade de ladrões (ja dizia o Cicero, e a propria Mafia esta de acordo com ele neste aspecto).
Bom, quando digo nenhuma sociedade, ha que fazer uma ressalva : infelizmente, mas apenas porque nos deixamos, uma sociedade comercial pode constituir-se legalmente com o fim indicado acima. Escusado sera dizer que eu não entendia a palavra "sociedade" nesta accepção. Mas aqui também as palavras têm um sentido e seria talvez tempo de reflectirmos sobre a pertinência de usarmos o mesmo termo para duas realidades tão distintas.
Boas&salut
Neste momento do que se trata não é de lutar por maior "integração" europeia ou de imaginar soluções político-administrativas - os políticos se encarregam disso - ; para as classes e grupos subalternos, dominados, ou o que se lhes quiser chamar (pois já não temos palavras para as coisas...)o objectivo só pode ser criar uma dinâmica internacionalista na Europa, recuperando a tradição do século XIX, que permita resistir às classes, grupos e máfias dominantes.
Em resumo, temos de assumir explicitamente o retorno ao campo da luta de classes contra o capitalismo e o estado.
O Mélenchon- como o Hollande foram antigos " homens-de-mão de Mitterrand... - até está a ser uma surpresa nesta longa pré-campanha presidencial, mas o desgaste que possa provocar no candidato do PS só vai favorecer Sarkozy, o candidato do "sistema" e da Merkel, que joga agora a sua carreira e os designios do que resta da oligarquia financeira e comercial pariseense.Fillon e Alain Minc, esses pesos pesados do sarkozismo, divergem nas percentagens afectas ao seu candidato nas sondagens : o PM credencia-o com uns míseros 20 por cento e o " homem dos banqueiros " colocou-o a igual distância de Hollande. Se Marine Le Pen conseguir as assinaturas para legalizar a candidatura, o xadrez eleitoralista fica muito complicado; e Mélenchon apresta-se a cumprir o papel de J-P. Chevènement em 2005- que eliminou Lionel Jospin e permitiu contra Le Pen-pai reeleger Chirac com uma votação piramidal. De qualquer modo, a tensão social e a crise económica são duríssimas em França, hoje, e muita água passará por debaixo das pontes até Maio próximo...Salut! Niet
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