20/05/12

Quem entregou o poder a Hitler? (II)

Ainda a respeito disto e disto, vou regressar à questão de "quem entregou o poder a Hitler", mas agora (e até atendendo ao comentário que o Libertário faz aqui) centrando-me nos eleitores que votaram nele e não nas elites políticas que lhe entregaram o poder absoluto em 1933.

Pegando nos resultados das eleições alemãs de 1928 a 1933, temos os seguintes resultados:

Algumas notas:

- parece que frequentemente havia uma espécie de alianças mas em que os partidos concorriam separados. Nesses casos, se só um dos partidos da aliança era um dos partidos desta lista, contei esses votos como se tivessem sido todos nesse partido;

- se a coligação incluía dois partidos da lista, atribui ao maior partido todos os votos menos os atribuídos a outros partidos da lista (p.ex., na aliança entre DNVP, DVP e mais uma carrada de partidos em 1932, os votos do DVP contei como votos do DVP; todos os outros contei como votos no DNVP)

Agora, fazendo uma agregação por correntes:

E a variação de eleição para eleição:


De 1928 a 1932, estes dados parecem indicar que os Nazis foram buscar votos aos nacionalistas conservadores, aos liberais e à abstenção.

Realmente, em 1933, e esquerda teve uma grande queda e os nazis uma grande subida. Tal poderá ser interpretado como um transferência de votos dos socialistas para os nazis; no entanto, como essa eleição ocorreu com Hitler já com poderes ditatoriais, com grande parte dos comunistas presos, e com as SA e as SS a dispersarem à força os comícios do SPD e do KPD, parece-me mais provável que tanto a subida dos nazis, como a descida dos sociais-democratas e comunistas tenha sido resultado disso (e não propriamente de uma transferência de votos). Afinal, não iria ser em 1933, após os nazis irem para o governo em coligação com a direita clássica, depois de terem tido o apoio dos grandes industriais e após anos de combates de rua com militantes de esquerda, com uma campanha eleitoral em que Hitler se apresentava como o salvador da Alemanha do "Perigo Vermelho", etc. que os operários sociais-democratas e comunistas iriam, justamente, chegar à conclusão que os nazis defendiam ideias parecidas com as deles .

Diga-se que, mesmo que os nazis tivessem ido buscar os seus votos em primeiro lugar ao DNVP, e em segundo lugar aos socialistas, isso bastaria para por em causa as teses que apresentam o nacional-socialismo como de "esquerda" ou uma variante do marxismo - afinal, de qualquer maneira isso indicaria que os nazis tinham mais em comum com o DNVP (o partido da velha aristocracia prussiana - é possível ser mais "de direita" que isso?) do que com o SPD ou o KPD.

[Post inspirado neste de há 4 anos]

5 comentários:

menvp disse...

Anda por aí muito pessoal a desviar as atenções... dum problema que salta à vista
- Porque é que não foi dado o alerta?!?
.
A liberdade de expressão traz perigos, sim... mas... a implementação do lápis azul (vulgo censura) traz perigos muito muito maiores!!!... Entre 'n', veja-se este exemplo: ao mesmo tempo que José Sócrates argumentava que estar a falar em determinadas situações/problemas... era algo que iria minar a confiança dos agentes económicos (e prejudicar o desenvolvimento económico)... o país ia fazendo uma alegre passeata rumo à bancarrota.
.
Um exemplo: era óbvio que, quando rebentasse a bolha imobiliária, tal iria ter consequências muito nefastas para o país... todavia, no entanto, enquanto a economia ia crescendo 'alegremente' com a bolha... muitos economistas forma impedidos, pela comunicação social, de dar o alerta para os perigos do DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO NÃO SUSTENTÁVEL promovido pela bolha imobiliária - ('Ratoeiras Economisticas' organizadas por economistas ao serviço de 'Bilderbergos')

Anónimo disse...

A Républica de Weimar- 14 anos de perversão democrática absoluta - impulsionou tendências extremas e opostas no puzzle complexo da vida politica alemã. A direita, representada pelo partidos nacionalistas e católicos- os centristas foram sendo " empurrados " para o vagabundo austríaco Hitler-queria a restauração da monarquia imperial... As eleições de Julho de 1932 originaram as de 5 de Março de 1933 para permitir aos nazis uma maioria. Em 30 de Janeiro de 33, um gabinete de terror e morte apadrinhado pelos monopolistas Krupp, Tyssen, Bosch e Schindler, entre outros, inicia a morte dos militantes de Esquerda e Social democratas sem hesitar. Um mês de pois, o complot maquiavélico de Goering lança fogo ao Parlamento.Salut! Niet

Diogo disse...

Some Early Hitler Backers [financiadores]:

We do know that prominent European and American industrialists were sponsoring all manner of totalitarian political groups at that time, including Communists and various Nazi groups. The U.S. Kilgore Committee records that...

Vale a pena ler o artigo...

Anónimo disse...

Por acaso ando a ler um livro sobre o III Reich feito por um jornalista de alta credibilidade norte-americano que assistiu in loco à ascensão de Hitler ao poder ditatorial. Ele fala com provas da dança dos financiamentos ocultos ( e às claras...) do patronato alemão ao terrivel ditador e seu grupo de homens de mão, Hess, Goering and so on.Desde os finais dos anos 20. A corrupção da Esquerda alemã nunca é mencionada. O sr. Diogo anda a querer impingir-nos estórias muito perturbadoras sobre tal. E há ligações evidentes do autor do documento com que nos acena com a extrema-direita anti-judaica. Como classificar tal ousadia e tentativa de manipulação vergonhosa, sr. Diogo? Protesto, veementemente! Niet

Anónimo disse...

Mas esse Sutton tem alguma credibilidade?
acho também interessante que se permita ao negacionista do holocausto Diogo comentar aqui, normalmente trazendo contribuições confusionistas, e os meus comentários não passarem.
Anónimo