09/11/12

Combater genuinamente o governo alemão será fazer-lhe a "genuína vontade"?

Não sei se Jorge Bateira acerta por completo quando afirma que o governo alemão  visa explicitamente forçar os países periféricos da zona-euro à saída da moeda única. Que a sua política pode ter esse efeito é, em todo o caso, um facto que nos deveria levar a concluir que, social e politicamente ruinosa para a Europa da enorme maioria dos cidadãos, essa política é também ruinosa, nos mesmos termos, para a própria Alemanha. Mas, se admitirmos, para simplificar, a leitura um tanto limitada que Jorge Bateira faz do assunto, quando escreve: "camuflada pela retórica da defesa do euro a qualquer preço, de facto a intenção do governo alemão é fazer sair pelo seu pé, um a um, os países da zona euro economicamente mais frágeis" e "[o] facto é que os dirigentes políticos gregos ainda não perceberam que a Alemanha apenas quer que saiam (…). Por isso, temerosos do que lhes pode acontecer se deixarem o euro, lá aprovaram in extremis mais um pacote de austeridade. Não perceberam que a genuína vontade do governo alemão é outra, a de que desistam" — então, é caso para perguntarmos se a melhor maneira de resistir à política do governo de Angela Merkel e às forças que o animam, será a que Jorge Bateira e outros recomendam, quando, secundando a vontade do governo de Angela Merkel a pretexto de o combaterem, apostam na recuperação da "soberania" e da "independência nacional", através da saída da zona-euro; ou se, pelo contrário, não serão aqueles que Jorge Bateira despreza como "europeístas" os verdadeiros adversários do programa austeritário transnacional da economia política governante.

9 comentários:

Anónimo disse...

"We have to counter the incredibly racist narratives here in Germany, namely that the Greeks have lived beyond their means. We have to say no, it’s actually the case that German employees have lived below their means, because it’s precisely the foreign trade imbalances that have exacerbated the crisis. We also have to emphasise that it’s of no help to anyone, neither the Greeks nor the euro, if Greece is pushed out of the euro. Sahra Wagenknecht [Die Linke economics spokesperson] has pointed out that if Greece exits the euro, then for Germany that means a deficit of €80 billion. So, even if one were to take such an egoistic perspective, it doesn’t even make sense on its own terms."

http://www.redpepper.org.uk/left-leading-interview-with-die-linke-leader-katja-kipping/

Paulo Marques disse...

O objectivo é esse ou é usar os estados fracos como test bed de políticas neo liberais a implementar em toda a Europa?

João Valente Aguiar disse...

Além de apostar na "soberania nacional" - como se isso fosse possível em Portugal - o Jorge Bateira apenas debate no plano do que ele acha que os governantes alemães acham... Este achismo além de pouco objectivo nem sequer é muito ajustado à realidade na medida em que se a Alemanha quisesse realmente que a Grécia saísse isso já teria acontecido há muito. Grécia e Portugal não interessa às classes dominantes pelo seu pib (que é diminuto) mas por causa dos efeitos políticos e económicos que uma Grexit teria em toda a zona euro. As classes dominantes europeias (e não só) sabem os riscos desta crise financeira se tornar numa nova edição de 1929. E não é preciso a falência da Espanha ou da Itália para detonar o processo. Basta a Grécia. Mas deste "pormenor" Jorge Bateira pouco ou nada nos diz...

JM Correia Pinto disse...

Não sei se vale a pena entrar na discussão sobre o que serve ou não serve os interesses de Angela Merkel. Temos é de fazer o nosso caminho e compreender bem o que se está a passar. E francamente acho um erro supor que a Alemanha quer o euro apenas para os triplo A mais a França e um ou outro bem comportado. O euro valorizar-se-ia muito se a Espanha, a Itália, a Grécia e Portugal abandonassem a união monetária. E isso não serve os interesses da Alemanha. Mas esta conclusão não significa que não tenhamos que ter sempre em aberto todas as hipóteses e decidir de acordo com as nossas conveniências. ”Fechar” as hipóteses leva-nos à situação em que está a Grécia…

Miguel Serras Pereira disse...

Caro JM Correia Pinto,
mas, justamente, na situação em que está a Grécia, toda a questão está em saber se a política das classes dominantes deve ser combatida através de um regresso às soberanias nacionais (ilusórias, a meu ver) ou reivindicando o pé de igualdade de uma integração política, orçamental e fiscal da zona-euro , que torne mais favoráveis as condições de uma democratização efectiva da região, e assim por diante. Assim entendido e assumido, o "federalismo" parece-me a via mais razoável e coerente de oposição à ameaça que o Nightwish identifica certeiramente no seu comentário.

Cordialmente

msp

João Valente Aguiar disse...

A tese de que o euro ganhava mais em cingir-se a uma zona dos AAA's é pura especulação e a zona euro se se quisesse teria ido nesse sentido desde o início. Na verdade, as economias portuguesa, grega, etc. foram necessárias à própria dinamização do centro da eurozona: compra de produtos, de maquinaria e mesmo de armamento provenientes da Alemanha. Sobre o modo como a zona euro foi construída: http://passapalavra.info/?p=60016

Anónimo disse...

O Nightwish tem razão plena ao apontar o ensaio( extensão, aprofundamento) das politicas neo-liberais da Zona Euro, onde a Alemanha controla o BCE,a Comissão Europeia e o Eurogrupo, clara e insofismavelmente; agenciando a golpes de martelo desse modo um complexo dispositivo de politica económica que preparará o terreno para a extensão/dinamização das relações intercontinentais, o ersatz transnacional de consequências incalculáveis e misteriosas. É que, como se sabe, mesmo a tabela das agências de notação financeiras que controlam o mercado económico europeu, a Moddys e a Fitch, etc, " joga " e já espelha o olhar USA ( os superiores interesses americanos)contra a Europa. Daí que,nesse sentido,exista toda a necessidade em fazer uso de uma enorme destreza táctica para desmontar a esquizofrenia monetarista alemã, que pode acabar por confundir rigor orçamental com um processo de consciente auto-destruição económica para a parte mais vulnerável da União Europeia.Os grandes tenores do patronato alemão há longo tempo que agitam a necessidade em serem criados dois tipos de Euro, o do Norte e do Sul,pois,frisam sem disfarce que o dinamismo económico do Centro e Norte da Europa só desse modo pode ser garantido e consolidar-se. Niet

Anónimo disse...

Samir Amin versus Toni Negri!?!- A falta de elementos substanciais de reflexão e análise, deve ser compensada por um escrutínio atento e heterodoxo de Ideias & Argumentos,que repare a incerteza e ambiguidade do tempo que passa. De uma grande entrevista à revista belga Solidaires, um extracto de Samir Amin,historiador e economista fellow de Sweezy e Wallerstein, entre outros. " A falta de audácia da Esquerda é terrivel nos tempos de hoje. Falo da Esquerda que está convicta que o sistema- esta oligarquia dos monopólios generalizados - deve ser ultrapassado, custe o que custar. Mas invoco também uma Esquerda que não perde de vista que o Socialismo deve ser inventado sem haver a necessidade de possuir um modelo pré-existente. A ideia geral é a criação de um bloco anti-monopólios. É necessário um projecto global que questione o poder dos monopólios generalizados( os cerca de 500 que a revista Forbes assinala que controlam a Economia Mundial). Não podemos imaginar que se possa mudar o mundo só pelo milagre da acção individual- ideia que encontramos em variadissimos movimentos socialistas e em certos filósofos como Toni Negri ". Niet

Anónimo disse...

brilhante desmontagem dos argumentos pela saída do euro, miguel.