Os anti-europeístas e nacionalistas de "esquerda", que hoje reclamam a saída unilateral do euro, e nos apresentam a desagregação da UE e o regresso às soberanias nacionais dos países periféricos como prioridade das prioridades, condição primeira e primeiro acto da revolução e da vitória sobre o imperialismo, são em grande medida os herdeiros directos dos terceiro-mundistas dos anos 60 e 70 do século passado, que opunham ao aburguesamento dos trabalhadores dos países avançados a miséria pura e dura, logo verdadeiramente revolucionária, das massas do Terceiro Mundo, para se dedicarem à tarefa de demonstrar a impossibilidade de uma transformação radical nos centros capitalistas, ao mesmo tempo que assumiam a defesa e a propaganda de sinistras ditaduras que, a pretexto de anti-imperialismo e de independência nacional, asseguravam nos países-guia a exploração mais impiedosa das classes populares e os processos de formação de novas oligarquias detentoras dos postos de comando tanto dos aparelhos de Estado locais como do governo dos meios de produção.
Os resultados históricos para que contribuíram os terceiro-mundistas da segunda metade do século passado, apostados na sabotagem da luta nos países capitalistas avançados, estão hoje à vista. Os seus actuais continuadores na região europeia, porém, deram um passo em frente: defendem hoje, no essencial, mas para os países onde actuam, a mesma versão grotesca de alternativa que os seus predecessores aclamaram outrora como regimes "revolucionários" — ou, em todo o caso, indiscutivelmente "progressistas" — nos países "subdesenvolvidos". Se os deixarmos levar a sua por diante, podemos estar certos de que contribuirão para resultados que em nada ficarão aquém dos obtidos mediante o concurso activo dos seus maiores.
5 comentários:
Achar que a revolução foi "minada" nos países capitalistas avançados por causa de movimentos maoístas e afins parece-me muito exagerado. Falo sem grande conhecimento de causa, mas desconfio que esses movimentos terão atraído sobretudo pessoas oriundas de famílias onde o catolicismo estaria bem enraizado (daí a noção de "pureza" associado à "pobreza"), e portanto pessoas que tradicionalmente votariam à direita. Coisa que se voltou a confirmar com a morte do maoísmo, com o regresso de grande parte desses personagens ao conservadorismo. A propósito, alguém leu o livro do Zé Manel Fernandes? Que saudades tenho eu do Público dos seus tempos...
O documentário "the century of the self" explica a meu ver muito melhor o que causou o adormecimento das massas, e aproveito para o recomendar a quem não o tenha visto, seja qual for o quadrante político. É o quarto episódio do documentário que foca os anos 60 e 70.
E eu a pensar que neste blog se ia ao menos homenagear a revolução de Outubro. Uma questão simples: não tendo a revolução russa conseguido expandir-se além das suas fronteiras naquele ano nem nos seguintes, deveria ter-se abandonado o projecto revolucionário, dado que os "trabalhadores dos países avançados" não tinham conseguido tomar o poder?
Anónimo das 00.10 h
À sua pergunta, respondo com outra: foi boa ideia os leninistas encarregarem-se de assumir e impor as medidas contra-revolucionárias do Thermidor, que lhes permitiram manter o poder, ao mesmo tempo que liquidavam e perseguiam tudo o que restava de democracia soviética? Foi ou não um poder de Estado classista e uma direcção da economia e do trabalho assentes na disposição classista dos meios de produção, etc., etc., que assim instauraram?
MSP a pergunta das 00.10 não tem a ver com o que se passou dentro das fronteiras russas. Tem a ver com o que não se passou fora delas.
MSP: creio que V. entendeu a provocação. Se V. dá valor a uma fase inicial da revolução russa pode ser que venha a vir dar valor a uma vaga revolucionária do sul da Europa, pois ambas se dão fora dos "países avançados", mesmo que não sejam essas as condições ideais. Por enquanto, aguardemos, pois na Grécia o pacote de austeridade passou.
Enviar um comentário