11/02/13

Sobre a resignação de Ratzinger: pior é sempre possível


Este interessante balanço do pontificado de Ratzinger e uma não menos interessante proposta de leitura da sua resignação, que Miguel Mora Diaz assina na edição de hoje de El País, e dos quais transcrevo a seguir alguns excertos, deveriam fazer pensar duas vezes os que desvalorizam ou ignoram a importância política da "questão religiosa" e a sua inscrição, directa ou indirecta, no cerne da "questão social".


El ortodoxo cardenal alemán de alma tridentina ha sido durante su mandato un Papa solo, intelectual, débil y arrepentido por los pecados, la suciedad y los delitos —él empleó estas dos palabras por primera vez— de la Iglesia, y rodeado de lobos ávidos de riqueza, poder e inmunidad. La Curia forjada en tiempos de Wojtyla era una reunión atrabiliaria de lo peor de cada diócesis, desde evasores fiscales hasta pederastas, pasando por contrarrevolucionarios latinoamericanos y por integristas de la peor especie. Esa Curia digna de El Padrino III siempre vio con malos ojos los intentos de Ratzinger de hacer una limpieza a fondo, mientras los movimientos más pujantes y rentables, como los Legionarios, el Opus Dei y Comunión y Liberación, torpedeaban a conciencia cualquier atisbo de regeneración

La Vaticalia eterna, esa espesa gelatina formada por cardenales y civiles que confunden los intereses de Italia y los del Vaticano y hacen negocios cruzados en los dos Estados mientras deciden las cosas importantes, se ha empleado a fondo en estos siete años para mantener sus privilegios e impedir al mismo tiempo la renovación de la Curia y la modernización de Italia, especialmente en dos sectores, las finanzas y la información, los imperios donde más poder e intereses tienen el Opus Dei y Comunión y Liberación, los movimientos ultracatólicos que más medraron, junto a los Legionarios, durante el largo papado de Wojtyla.


Se Miguel Mora Diaz tem razão, e a resignação de Ratzinger é a vitória dos ultras do Vaticano, então, o pior ainda está para vir, e devemos preparar-nos para uma intervenção política da Igreja de Roma contra tudo o que cheire a Luzes aos seus hierarcas, que tornará para muitos católicos ainda mais difícil qualquer outra saída que não seja a ruptura ou, no melhor dos casos, o cisma organizado, e a adopção, perante Roma, da velha palavra de ordem do Écrasez l'infâme de Voltaire.

Se Ratzinger pecava contra o espírito, tentando demonstrar racionalmente a legitimidade da subordinação do livre-exame ao "esplendor da verade" da fé revelada e do consequente primado da doutrina eclesiástica, os ultras, que se preparam para dispor do seu trono, tentarão por todos os meios,  a começar, não se duvide, das alianças e manobras políticas mais monstruosas, sacrificar a liberdade de criação e de expressão do pensamento ao monopólio e à censura daquilo a que Freud chamava a sua "arrogante mentira".

Por isso, cometerão um erro, que poderá ser-lhes fatal, e fatal para muitos outros também, os que subestimarem a potência de difusão de gaseamento dos espíritos — e, sempre que necessário, dos pulmões e dos corpos — de que disporá uma câmara pontifícia dominada pelos Legionários de Cristo, a Opus Dei ou outros movimentos contra-revolucionários, como os do tipo Comunhão e Libertação.

5 comentários:

Maquiavel disse...

Em bom português, o homem abdicou. Sim, abdicou.

Quanto muito "resignou ao cargo" e aos sapatinhos Prada e bolsas Chanel.

J. disse...

Mas Raztzinger é um elemento precioso deste grupo, foi a partir dele que a opus dei, por exemplo, conquistou o numero de cardeais suficientes para o eleger no último Concílio. Antes de joão Paulo II nao tinham nem um... Por isso entre ele e outro da mesma família...parece ser o mesmo, e é difícil acompanhar esta leitura de que Ratz significaria outra coisa

J. disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
J. disse...

bem, mandei o segundo por engano, pensei que o primeiro se tinha perdido....

Miguel Serras Pereira disse...

Caro J.

concordo inteiramente com o seu comentário, se com ele quer dizer que não podemos negar que Ratzinger desempenhou um papel de primeiro plano no restauracionismo que hoje é hegemónico na Igreja de Roma. Mas penso que é muito provável que tenha sido ultrapassado pelos grupos mais directamente "teocráticos" que medraram graças a essa política. Uma série de episódios recentes torna verosímil uma leitura deste tipo, que é, de certo modo, um prolongamento da sua. Ratzinger acariciava o projecto de uma restauração da supremacia do "poder espiritual": Estados confessionais ou semi-confessionais, que aceitassem a orientação doutrinal da Igreja Católica e a legitimidade da sua influência política privilegiada. Os "teocratas" radicais vão mais longe: aspiram à participação directa da "igreja militante" no exercício do poder político e nas tarefas do "braço secular". Etc., etc.

Cordialmente

msp