O artigo de opinião de André Freire, do passado dia 15 no Público, é um artigo corajoso. Corajoso, porque quem rema contra a corrente cada vez mais maioritária - à custa de engolir pequenas franjas que depois vai digerindo como pode, até as suprimir , como aconteceu com os CPL - mais tarde ou mais cedo paga a sua factura.
Mas além de corajoso há muito de lúcido, do ponto de vista da esquerda democrática e socialista e do ponto de vista do direito à cidade, naquilo que André Freire escreve.
Vale a pena voltar a esta discussão. Curiosamente, ou talvez não, décadas após o 25 de Abril, gerações após gerações de autarcas, as questões das autarquias reutilizam sempre a velha e sinistra forma da despolitização do debate e teimam em retirar o exercício do poder do puro campo da politica.
18/07/17
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2 comentários:
O hiper-bicicletismo reinante em Lisboa é uma anedota de muito mau gosto. Conseguem imaginar as mãmãas e os papás a levar. e a ir buscar. os meninos de bicicleta para as escolas, para a ginástica e para a lição de música ?. Ou um advogado a ir a uma reunião de com a pasta do documentos alegremente numa ciclovia ?.
Medina não manda. Agora tenta sobreviver eleitoralmente à custa de emprego camarário e bairros sociais. Não é o único. O poder está entregue a teóricos e líricos. Quem paga àgua paga mais taxas que líquido. Abjecto poder.
«Ou um advogado a ir a uma reunião de com a pasta do documentos alegremente numa ciclovia ?.»
Parece-me que a dificuldade em imaginar isso é que é grave. Mas por alguma razão nós pagamos dos nossos impostos os motoristas dos deputados enquanto que em tantos países europeus ministros e deputados andam de transportes públicos como grande parte dos cidadãos: é que algumas pessoas têm uma noção completamente distorcida e "bárbara" de "dignidade" e portanto parece-lhes absurdo algo que é perfeitamente banal em muitíssimas cidades europeias.
«Conseguem imaginar as mãmãas e os papás a levar. e a ir buscar. os meninos de bicicleta para as escolas, para a ginástica e para a lição de música ?»
Esses são dos principais beneficiados pelo uso de ciclovias. Aquilo que acontece é que cada pessoa que usa a ciclovia e deixa de usar o carro alivia muitíssimo o volume de trânsito. Uma ciclovia usada tira muito mais carros de circulação do que aqueles que o seu espaço permitiria acrescentar, e por essa razão permite que o trânsito circule com maior fluidez. Assim os pais que tiverem mesmo de usar automóvel têm de perder muito menos tempo em engarrafamentos.
Eu por acaso não uso bicicleta (circulo de transportes públicos), mas agradeço muitíssimo a quem as usa em vez do automóvel, pelo quanto contribui para aumentar a fluidez do trânsito (importante para mim no caso dos autocarros), e ao ver o aumento tão significativo do uso de ciclovias (e ainda a missa vai no adro) só posso concluir que esta foi uma aposta ganha.
Se há críticas a fazer, não é a de investimento a mais nas ciclovias, mas de investimento a menos.
O André Freire fez ambas as críticas (apesar da inconsistência entre elas) no seu texto, mas acho que só tem razão nesta segunda.
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