Aurélio Santos, no “Avante”:
Erros, insucessos e derrotas no projecto revolucionário de Outubro não podem fazer esquecer os muitos êxitos alcançados - económicos, sociais, culturais, nacionais - nem a influência decisiva que exerceram no mundo, na consciência social dos povos, no progresso da sociedade humana.
O legado de Outubro confere também maior validade e projecção às lutas deste final de 2010, contra a regressão que o capitalismo quer impôr ao mundo.
E dá-nos âncoras para descobrir não só o que para nós restou mas sim tudo o que para nós ficou, como avanços civilizacionais da nossa época.
O futuro, podem todos estar certos, terá de passar por Outubro: SOS, Outubro!
Tratando-se de um revolucionário-funcionário profissional muitos anos albergado na Roménia do tempo de Ceauscescu, tendo lá trabalhado com rádios e microfones, entende-se na perfeição esta forma nostálgica de lançar SOS através das “ondas” da “imprensa proletária”. Que não esconde uma parcimónia de monta, para mais em quem conheceu por dentro o “socialismo real” e, portanto, o “legado de Outubro” enquanto exercício de poder. É que, repare-se, Aurélio Santos fala de “erros, insucessos e derrotas” cometidos pelas décadas de poder comunista. Mas, com a cumplicidade da omissão camarada, nunca refere "crimes", os crimes a mando das direcções dos partidos comunistas no poder (e foram tantos, aos milhões). Incluindo os cometidos contra as centenas de milhar de camaradas seus, comunistas também mas comunistas desgraçados porque caídos em desgraça perante os tiranos da seita. É obra.
(publicado também aqui)
6 comentários:
Conheci Aurélio Santos durante um trabalho de investigação,o trecho do Avante é coerente com o seu pensamento,aproveito para lhe mandar um abraço.
As quintas devem ser o seu dia favorito...
Se do alto da sua sapiência e independência ideológica, poder dispensar trinta segundos, gostava muito que me respondesse a uma questão:
A existência de um movimento comunista como o que « realmente existiu» trouxe alguma vantagem às classes sociais desfavorecidas do globo?
Ou foi sempre uma agremiação de facínoras, criminosos e loucos?
Anónimo das 12 e 40,
sem prejuízo do direito de resposta do meu camarada João Tunes, peço desculpa de me meter na conversa e lhe dizer que, à sua questão, a minha resposta seria a que se segue.
É indubitável que as oligarquias ocidentais foram motivadas nas suas iniciativas reformistas e nas suas concessões pelo "medo do comunismo" e é também verdade que a existência do bloco do "socialismo real" e da ssuper-potência "soviética" tornou esse medo oligárquico mais forte.
Uma questão diferente é saber se as reivindicações e iniciativas de luta dos trabalhadores e classes populares ocidentais beneficiaram ou se viram antes limitadas pela existência dos regimes do "socialismo real", que, manifestamente, à medida que a sua natureza e realidade foi sendo conhecida, não puderam conservar o grande poder de atracção inicial, ligado à Revolução de 1917 e ao "poder dos sovietes".
E creio que o reforço e difusão da ideia, partilhada tanto pelos dirigentes ocidentais como pela propaganda do Leste, de que a única alternativa ao modelo capitalista ocidental era um regime como o da URSS foi um poderoso alimento de desmoralização e resignação que limitou e continua a limitar as perspectivas de uma transformação democrática dos regimes oligárquicos que sofremos.
Saudações democráticas
msp
Caro MSP:
Parece-me de facto evidente, do ponto de vista da análise histórica - sem falsas pretensões de isenção - que o socialismo à la URSS pôs o capitalismo e as oligarquias em sentido.
Os sucessos dos últimos vinte anos não deixam dúvidas. Compreendeu exactamente o sentido da minha questão, mas continuo interessado em conhecer a opinião do João Tunes...
Reconheço ainda que nunca tinha pensado no equilibrio de forças da forma como o coloca e de facto as elevadas votações nos eurocomunistas italianos e franceses - não conheço o posicionamento ideologico do PC finlandês à epoca - parecem apoiar a sua tese.
No entanto, também é certo que nunca ascenderam ao poder e foram "democraticamente" humilhados pelas classes dominantes: reformas eleitorais feitas à medida dos partidos convencionais, "santas alianças", organizações como a gladio e por aí a fora...
No fundo a questão é: o capital - não há que ter medo dos conceitos, nenhum é perfeito - permitirá alguma fez a implantação uma verdadeira alternativa. no âmbito da "democracia ocidental"?
Espanha de 1936, Chile de 1973, e na mesma medida Chavéz 2000-2010 ( gosta-se ou não deste doidão, ninguém me convence que as eleiçoes venezuelanas são menos livres que as colombianas) vão em sentido contrário.
Não me entenda mal. Não sou um leninista. Por enquanto...
Caro Marco,
eu também não penso que os regimes chamados "democráticos ocidentais" sejam, sob a sua forma actual, um quadro que permita uma democratização efectiva do exercício do poder político, incluindo, evidentemente, o que se exerce na esfera da economia e da produção.
A democracia tal como a entendo implica a superação do modelo liberal e representativo existente - mas também o combate a outras formas de representação (do tipo "consciência histórica" ou "organização científica", etc.). Implica aquilo que a palavra "socialismo" significa enquanto exigência inegociável do fim da exploração e da hierarquia classista. E é, resumindo muito, por isso que implica mais e não menos liberdade e responsabilidade igualitárias.
Qanto a tudo o resto, teremos com certeza mais ocasiões de o discutir.
Pode ser assim?
msp
msp
Ao cidadão interpelante do topo desta caixa: Respondi-lhe com um outro post. Por uma questão de espaço.
Enviar um comentário