Os últimos ataques repetidos e repetitivos de Cavaco Silva acerca do BPN, disparando sobre a sua actual comissão liquidatária, são um desconchavo face às obrigações presidenciais em termos de descrição e decoro. Mas confirmam o péssimo carácter do sujeito que se manifesta escancarado quando é apanhado nas suas falhas, ignorâncias, contradições e sindicalizações de interesses. E demonstra que, a par de Sócrates, Cavaco Silva é o mais profissionalizado dos políticos em exercício (mais que Francisco Lopes, o protótipo acabado do sujeito robotizado pela funcionalização partidária levada ao extremo), com um staff evidenciando capacidade de suprir as suas falhas de talento.
Dêem-se as voltas que se derem, incluindo o consabido truque da vitimização pelos ataques à honra, o BPN (e a tão esquecida e associada SLN) é a grande espinha na garganta de Cavaco, capaz de esfarelar o mito atrás do qual a personagem esconde a nudez da sua vacuidade cultural, ideológica e política. Porque as fortes ligações (por antigos interesses próprios e porque parte dos criminosos da fraude faziam parte do seu séquito) de Cavaco ao BPN/SLN liquidam a ideia de identificação (salazarenta mas eleitoralmente vendável) entre os “homens das finanças” e a honestidade a toda a prova. E é esta evidência, eleitoralmente mortífera, que Cavaco e o seu staff querem evitar, pois perderiam o grande trunfo que colocava o eleitorado no sossego do respeitinho que asseguraria uma campanha-passeio para a reeleição tranquila. Assim, a tentativa de desviar as atenções, a discussão e as notícias sobre o BPN/SLN para a sua actual gestão (apanhando de tabela o governo e a Caixa), mesmo salpicando alguns dos “seus homens”, evita que se discutam as partes do essencial: a fraude do BPN/SLN, o envolvimento nela de uma parte do séquito de Cavaco Silva, os antigos interesses pessoais de Cavaco e da sua família que foram em tempo acarinhados através da espiral especulativa construída naquele pólo bancário e empresarial.
A forma voluntarista como Cavaco Silva está a contra-atacar no caso BPN/SLN seria automaticamente periclitante para as suas ambições políticas se não fosse artilhada perante um eleitorado redondamente ensonado. Assim, como a míngua e a desesperança baixam a ambição e a exigência, talvez Cavaco se safe. Veremos.
(publicado também aqui)
04/01/11
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3 comentários:
Os leitores deste «post» devem registar para a acta que, como 700mil portugueses viram na TV, foi «Francisco Lopes, o protótipo acabado do sujeito robotizado pela funcionalização partidária levada ao extremo» que deu a Cavaco Silva o «uppercut» mais poderoso sobre este tema que tanto motiva o autor deste «post».
quem deu a Cavaco Silva o «uppercut» mais poderoso foi Defensor Moura.
Valha-me a Senhora da Dialéctica da Natureza, Vítor Dias. Então, você põe aquele que se pretende o mais nacional dos candidatos a servir-se de formas de luta estrangeiradas como o "uppercut", numa cedência verbal - inconsciente, estou certo, mas nem por isso menos inquietante - ao imperialismo linguístico global? Toda a gente sabe que um candidato da independência nacional usa, quando confrontado com os inimigos do país, a chapada na tromba, a punhada e a sarrafada. Ou, em rigor, o golpe na cabeça com esse símbolo da boa vontade e da paz que é a pá do forno de cozer o pão - a exemplo da insigne padeira de Aljubarrota.
Saudações cordialmente apreensivas
msp
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