Enquanto alguns choram ofensas omitivas cerimoniais e oficiais à memória do detestável sujeito Céline, uma besta publica e propagandisticamente antisemita durante o tempo em que os nazis metiam milhões de judeus nos crematórios (tendo sido, portanto, um cúmplice directo do holocausto), sem que se ponha em causa a liberdade de se ler e se gostar dos livros do escritor Celine, passou quase em silêncio uma efeméride que nunca se devia esquecer, a dos 65 anos passados desde a libertação de Auschwitz-Birkenau. Quando e porque, com a formação de cooperativas ideológicas e propagandísticas de paranóias neo-leninistas que por mor das alianças dos orfãos comunistas com os fundamentalistas islâmicos, se forja e desenvolve um neo-antisemitismo radical e violento, retomando a velha bestialidade que desaguou em Auschwitz-Birkenau. Como bem alerta Manuel António Pina, no JN:
Ontem, data da libertação, há 65 anos, do campo de extermínio de Auschwitz-Birkenau, assinalou-se o Dia Internacional em Memória das Vítimas do Holocausto, memória, sobretudo, das suas inumeráveis vítimas anónimas, na sua imensa maioria judeus.
Mas as imundas ideias onde se fundou a "Endlösung der Judenfrage" ("Solução final da questão judaica"), ou o homicídio indiscriminado e brutal de milhões de seres humanos sem outro motivo que não a sua origem ou religião, não germinaram espontaneamente na cabeça de Hitler, tiveram, desde os primórdios do cristianismo, uma gestação de séculos. Nem acabaram com Hitler. Hoje, a aliança entre o fascismo teocrático islâmico e alguma esquerda herdeira do Marx de "A questão judaica" lembra de mais o pacto Ribbentrop-Molotov para não ser assustadora.
(publicado também aqui)
30 comentários:
Wikipedia: Céline views are evident in L'Ecole des cadavres where he calls for a Franco-German alliance in order to counter the alliance between British intelligence and "the international Jewish conspiracy"...
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No período 1877 - 1882, na compilação "Cartas de Inglaterra", Eça de Queirós escreveu no capítulo «Israelismo":
"Mas o pior ainda na Alemanha é o hábil plano com que fortificam a sua prosperidade e garantem o luxo, tão hábil que tem um sabor de conspiração: na Alemanha, o judeu, lentamente, surdamente, tem-se apoderado das duas grandes forças sociais – a Bolsa e imprensa. Quase todas as grandes casas bancárias da Alemanha, quase todos os grandes jornais, estão na posse do semita. Assim, torna-se inatacável. De modo que não só expulsa o alemão das profissões liberais, o humilha com a sua opulência rutilante e o traz dependente pelo capital; mas, injúria suprema, pela voz dos seus jornais, ordena-lhe o que há-de fazer, o que há-de pensar, como se há-de governar e com quem se há-de bater!"
Desculpe mas julgo a interpelação disparatada.
Não sou amnésico nem ignoro o que foi o Holocausto, nem que foi ontem comemorado, nem que Céline foi antisemita, nem que isso é detestavel, nele e nos outros todos que o foram numa altura em que isso significava, de uma certa forma, tornar-se cumplice de uma abjecção sem nome.
No entanto disse, e mantenho, que gosto de ler os livros dele e que o considero como um dos maiores prosadores franceses de todos os tempos.
A coincidência não me causa nenhuma dificuldade, nem percebo porque deveria causar. Nem moral, nem estética.
Também disse, e mantenho, que a actual polémica em França me parecia parva. Penso que ninguém julga que reabilita o individuo Céline por reconhecer que ele foi um grande escritor.
Também disse, e mantenho, que a presença do nome dele na lista não lhe traz nem lhe tira nada. Por conseguinte, por mim, podem tira-lo da lista à vontade. Não costumo consultar uma lista de pessoas condecoradas quando vou escolher um livro para ler. Costumo, isso sim, consultar pessoas entendidas e com gosto literario.
Essas, na sua esmagadora maioria, reconhecem a proeminência de Céline como escritor. Ainda que tenha sido um sacana, que foi.
No dia em que eu deixar de ler sacanas, deixarei de ler também Maquiavel, Rousseau, Juvenal, e tantos outros.
Em nome de quê deveria fazê-lo ? Em nome da moral ? Que moral ? Ler Céline e desrespeitar as pessoas que sofreram o holocausto ? Quem disse ?
A dor e a conternação diante do holocausto não estão em causa.
Ou se calhar até estão : são coisas sérias, seriissimas até, que merecem mais do que esse tipo de indignações baratas.
Desculpe a franqueza...
João viegas, onde é que se assina?
Ainda sobre a "international Jewish conspiracy" que Céline dizia existir, mais umas palavras de Eça:
Nas "Cartas de Inglaterra", no capítulo «Lord Beaconsfield», Eça de Queirós escreveu sobre Lord Beaconsfield, aliás o judeu Benjamin Disraeli (1804 – 1881), que foi primeiro-ministro do Reino Unido:
"A esta causa de popularidade [do judeu Benjamin Disraeli] deve juntar-se outra – a reclame. Nunca, um estadista teve uma reclame igual, tão contínua, em tão vastas proporções, tão hábil. Os maiores jornais de Inglaterra, de Alemanha, de Áustria, mesmo de França, estão (ninguém o ignora) nas mãos dos israelitas. Ora, o mundo judaico nunca cessou de considerar Lord Beaconsfield como um judeu - apesar das gotas de água cristã que lhe tinham molhado a cabeça. Este incidente insignificante nunca impediu Lord Beaconsfield de celebrar nas suas obras, de impor pela sua personalidade a superioridade da raça judaica - e por outro lado nunca obstou a que o judaísmo europeu lhe prestasse absolutamente o tremendo apoio do seu ouro, da sua intriga e da sua publicidade. Em novo, é o dinheiro judeu que lhe paga as suas dívidas; depois é a influência judaica que lhe dá a sua primeira cadeira no Parlamento; é a ascendência judaica que consagra o êxito do seu primeiro Ministério; é enfim a imprensa nas mãos dos judeus, é o telégrafo nas mãos dos judeus, que constantemente o celebraram, o glorificaram como estadista, como orador, como escritor, como herói, como génio!"
Parece que Eça concordava com Céline...
Bom, se vai continuar a fazer copy paste de textos antissemitas da Net, aviso-o que terá por muito tempo...
E só uma última coisa: o Eça não podia concordar com o Céline, porque qd o escritor português morreu o Céline só tinha 6 anos.
Vc, Sr. Viegas, é um disparate feito gente com basófia dentro (já agora, vc e as suas abaixo-assinadas). Porque me chamou disparatado e disse o mesmo que eu disse: Celine foi um grande sacana e um grande escritor, ou vice-versa. E na "salada Celine" (o homem e o escritor) só se pode respeitar uma coisa: os seus livros (editem-se, leiam-ser, paguem-se os direitos aos herdeiros). Mas sobre o sujeito, diga-se simplesmente que se tratou de um grande filho da puta, do tamanho de todos os antisemitas.
joão tunes, que eu saiba, ninguém aqui defendeu as posições políticas do céline, mas sim os seus livros. assim sendo, não vejo como defender os seus livros implique qualquer tipo de amnésia, mesmo involuntária.
Lá tinha de voltar o Pacto Ribbentrop-Molotov.
Custará assim tanto de cada vez que se quer referir isso fornecer aos leitores as datas do pacto germano-soviético e a do Pacto de Munique ?
Só isso, para certa reflexão menos esquemática, não é preciso mais.
João Tunes, se Céline foi um grande filho da puta por defender que existia uma conspiração internacional judaica, então Eça de Queirós também o foi. É pena que as palavras de Eça não sejam debatidas. Tal como de muitos outros.
Por exemplo Woodrow Wilson (1856 - 1924), que foi Presidente dos Estados Unidos de 1913 a 1921, e que escreveu no seu livro "The New Freedom" (1913):
"Uma grande nação industrial é controlada pelo seu sistema de crédito. O nosso sistema de crédito está concentrado. O crescimento da Nação e de todas as nossas actividades está nas mãos de meia dúzia de homens. Tornámo-nos num dos mais mal governados, num dos mais completamente controlados e dominados Governos no mundo – não mais um Governo de liberdade de opinião, não mais um Governo pela convicção e pelo voto da maioria, mas um Governo pela opinião e intimidação de um pequeno grupo de homens dominantes.
[...]
Desde que entrei para a política, tenho ouvido maioritariamente opiniões de homens que me são segredadas em privado. Alguns dos maiores homens nos Estados Unidos, no campo de comércio e da manufactura estão com medo de alguém, estão com medo de alguma coisa. Eles sabem que existe um poder algures tão organizado, tão subtil, tão vigilante, tão integrado, tão completo, tão penetrante, que preferem sussurrar quando o amaldiçoam."
Ana Cristina Leonardo (com maiúsculas, como compete quando se trata de uma dama), como assim, essa de “ninguém aqui defendeu as posições políticas do céline, mas sim os seus livros”, quando o que se tratou foi de um post seu a condenar a exclusão de Céline da sua integração nas comemorações oficiais francesas a pretexto dos 50 anos passados desde a sua morte? Lembre-se que o despropósito (incluir um antisemita notório em comemorações que evocam também Franz Liszt, Blaise Cendrars e Georges Meliès) foi levantado por Serge Klarsfeld, presidente da « Associação dos filhos e filhas de deportados judeus de França » (FFDJF) e foi apoiado por Bertrand Delanoë, presidente da Câmara de Paris, posição esta que foi aceite pelo governo francês, emendando a mão da asneira inicial. Nem a iniciativa de incluir Céline nas comemorações nem a de o retirar colide com o apreço pela sua obra literária. Mas inclui-lo, abrigava uma homenagem ao homem onde se acolitou o adepto do holocausto, o que era um nojo oficializado pelo governo francês. Foi isso que foi corrigido. Foi contra isso que vc protestou e despoletou o meu direito à indignação (ou este direito está reservado a ser monopolisticamente usado contra Sócrates ?).
João Tunes (com maísculas como compete mesmo quando não se trata de uma dama mas sim de um cavalheiro - e vá lá que eu não sou como a f. que escreve tudo em pequenino se não já ia haver merda).
As comemorações seriam literárias. Ninguém ia homenagear o Céline por ser bom médico, gostar de cães ou ter bom feitio.
Era um sacana? Seria. Antissemita? Certamente. Não deixa por isso de ser um grandessímo escritor. E a França fazer de conta que ele não existe, é apenas meter a cabeça na areia como as avestruzes.
ana, perfiro sair pelo lado desse tom que usa na perfeição, o da donzela ingénua e bem intencionada que só perde as estribeiras quando se belisca Céline ou Sócrates fala ao país. Linda menina que acredita em homenagens governamentais só, só, mesmo só, ao escritor. Pois.
Assino, com continuação de admiração e estima.
Caro João Tunes, já percebi que tem preferência pelo acessório, pelo secundário, pelo episódico em vez de ousar abordar o relevante. O importante era se Céline (para si um gandessíssimo filha da puta de um anti-semita) era ou não homenageado numa cerimónia qualquer.
Ir para lá disso seria entrar no dogma religioso, na blasfémia hedionda ou na heresia horrenda, e debatê-lo seria um pecado mortal. Fiquemo-nos, pois, pelos pormenores tranquilos das verdades incontestáveis.
João Tunes, é o meu tom (terceira voz desafinada desde a 2º classe mas com bom ouvido para a música). E que é um tom que não tem nada que ver com crença em homenagens governamentais (passo a donzela ingénua bem intencionada).
É mesmo tão-só o tom de quem acredita que céline é um génio da literatura. era antissemita, pois era. ninguém é perfeito, como diria o outro que era judeu e tinha sentido de humor
Céline denunciou o Goulga estaliniano- Viva a polémica,a crítica das armas( e vice-versa), e o abalo das posições chumbadas pelo calendário " oficial " e integrado do espírito do Tempo... Urge ousar ultrapassar os " regulamentos " da hipocrisia e os " efeitos " de pernas-para-o-ar das bitolas do efémero. Sabiam que Céline escreveu quatro-4-panfletos, um dos quais sobre a URSS, que se chama Mea Culpa, e que narra a viagem que realizou ao país de Estaline em 1938. Está(ou estava) interdito de publicação em conjunto com outros textos anti-semitas. E, justamente,facto paradoxal, a palavra " judeu " só uma vez aflora no texto que, dizem os especialistas, é um libelo gigantesco contra o figmentum malum( mau fundo) da raça humana elevada
à potência-n pelo pai dos " Povos ". Niet
Errat: Falo do Goulag, claro. Niet
Caro João Tunes,
Tenho pouco jeito para polémicas estéreis.
Acho que o escritor Céline merece mais do que este pequeno escândalo de (má) opereta a que acabámos de assistir.
Acho que o que o Holocausto representa e deve representar para todos nós, está situado num patamar ainda mais elevado e que não corre perigo de ser posto em causa pela celebração do escritor Céline, que não vi ninguém querer estender ao homem Céline, muito menos às posições políticas e éticas que ele assumiu em vida, que são incontestavelmente do pior.
Interessa-me pouco saber se o triste espectáculo a que assistimos é devido a quem propôs a inscrição de Céline na lista, se a quem exigiu que fosse retirado, se a mais alguém, porventura de boa fé.
A polémica não me interessa, ponto final. Acho-a pequena demais se atentarmos à qualidade da obra literária. Acho-a grande de mais se considerarmos o homem Céline e a pequenez das posições políticas e éticas que assumiu durante a sua vida.
Apenas gostava, se não se importa, de poder dizer o que acabei de escrever sem me ver interpelado e acusado de ocultar o Holocausto, ou de o reduzir a um detalhe…
Se não foi isso que v. quis dizer, aceite as minhas desculpas e permita-me só repetir que quem não leu Céline não perderá tempo ao fazê-lo, ainda que o homem tenha assumido em vida posições de uma filha-da-putice que hoje ninguém contesta.
Um abraço humanista.
O texto do Manuel António Pina sublinha um fenómeno ameaçador para o qual eu próprio tenho vindo a alertar sempre que posso: o esboço de uma "plataforma" que reabilita Estaline e ao mesmo tempo "o socialismo dos imbecis", que é o anti-semitismo, sob as suas formas mais virulentas e assassinas. Que esta "plataforma" encontre apoios, indulgência ou estímulo, na zona de influência do PCP, entre militantes e/ou companheiros de jornada, sem que o PCP se sinta obrigado a denunciá-la oficialmente, é um sintoma eloquente e ameaçador da decomposição ideológica e da degradação das condições políticas que o MAP sublinha.
E não compreendo como é que semelhante sintoma não inquieta mais o Vítor Dias do que a menção - de resto, justificada - do MAP ao Pacto de Não-Agressão, que foi bem mais do que o seu nome enuncia, entre o regime estalinista e a Alemanha nazi.
msp
Caro Miguel,
So para dizer que os meus comentarios acima não têm rigorosamente NADA a ver com o texto citado de M. A. Pina.
Para ser completamente claro, comentei precisamente porque não percebi, e continuo alias sem perceber, o que o titulo do post tem a ver com o texto de M. A. Pina.
As crenças cegas do Miguel Serras Pereira fazem-me lembrar uma jovem judia, de óculos e camisa amarela, que tenta criticar o judeu Norman Finkelstein, autor de «A Indústria do Holocausto».
Neste curtíssimo VÍDEO.
Caro João Viegas,
penso que o meu comentário se inscreve nas considerações do MAP sobre o apoio ao anti-semitosmo teocrático por parte de um neo-estalinismo que há alguns anos, embora existisse sob forma larvar, não ousava dizer o seu nome - nem estava autorizado a fazê-lo - na área de influência do PCP. Mas a pseudo-esquerda que o MAP refere não se limita a essa área.
Abrç
msp
Eu não discuto com o Diogo. Lembro, no entanto, a quem leia estas linhas que defendi e aprovei no essencial a posição de Finkelstein, que o vídeo referido traduz. E tenho repetidamente repudiado a utilização monstruosa do Holocausto como justificação da política adoptada pelos governos israelitas nestes últimos e já largos anos.
Sobre o vídeo escrevi concretamente:
'uma intervenção de Norman Finkelsltein que diz o essencial do que há a dizer sobre as condições de uma primeira solução laica, anti-nacionalista e não-identitária no Médio Oriente. Primeira solução que abra caminho à democratização efectiva na região, impondo-se contra a deriva confessional e étnica em Israel, bem como contra a "resistência islâmica", não menos confessional e identitária, dos que pretendem monopolizar em seu benefício e subordinar aos interesses da sua liderança ditatorial e opressiva a "causa palestiniana"' (http://viasfacto.blogspot.com/2010/08/duas-frentes-de-um-mesmo-combate.html).
Sobre a política de Israel, por exemplo:
" Contra a fascização e a discriminação em Israel e contra os "falsos amigos" de judeus e palestinianos; pela criação de condições que permitam que os israelitas, os palestinianos e os membros dos outros povos da região possam viver como cidadãos iguais em territórios partilhados ou vizinhos, o combate é o mesmo que contra os que localmente não só combatem todas as tentativas de democratização da ordem política europeia, como visam reformar autoritariamente os actuais regimes europeus. E deve ser travado em simultâneo, através da coerência das intervenções nas várias frentes". (http://viasfacto.blogspot.com/2010/06/sobre-israelitas-palestinianos-extrema.html)
Os negacionistas usam a difamação e a calúnia no debate como usam a falsificação histórica na sua propaganda. Como diria Sophia: "novos ratos mostram a avidez antiga".
msp
Miguel: «Os negacionistas usam a difamação e a calúnia no debate como usam a falsificação histórica na sua propaganda.»
Clichés atrás de clichés atrás de clichés repetidos ad infinitum.
Em tudo o que eu disse até agora, difamei ou caluniei alguém? Ou referi alguma falsificação de um facto histórico?
Porque não faz antes uma análise dos dois textos de Eça de Queirós que coloquei mais acima? Talvez mais fosse proveitoso do que refugiar-se atrás de dogmas.
Abraço
miguel, eu li a indústria do holocausto há uns anos e já conhecia esse vídeo do Finkelstein.
vou dizer-te uma coisa muito simples. independentemente da razão que lhe assiste, e é muita, humanamente prefiro o choro da rapariga ao sorriso final de Finkelstein. ninguém faz um sorriso daqueles para a câmara depois de um discurso daqueles, a não ser que não tenha sentido porra nenhuma do que acabou de dizer.
e isto pode parecer que não é político, mas é.
Ana - não sei se compreendo bem o que dizes. Mas o que me importa aqui é uma questão prévia: o negacionismo não é uma corrente histórica, não é uma revisão de hipóteses ou teorias. Vidal-Naquet: "Negar a história não é revê-la" - pois, como ele escreve, nos Assassinos da Memória, assenta no seguinte programa:
“1 – Todo testemunho direto de um Judeu é uma mentira ou imaginação;
2 – Todo testemunho, todo documento anterior à liberação é falso, ignorado ou considerado ‘boato’;
3 – Em geral, todo documento que nos informa em primeira mão sobre os métodos nazistas é falso ou manipulado;
4 – Todo documento nazista que traz um testemunho direto é compreendido em seu sentido literal se escrito em código, mas ignorado (ou subinterpretado) se escrito em linguagem direta;
5 – Consideram que todo testemunho nazista posterior ao final da guerra, nos processos do Leste ou do Oeste, em Varsóvia ou Colônia, Jerusalém e Nuremberg, em 1945 ou em 1963foram obtidos sob tortura ou intimidação;
6 – Mobiliza todo um arsenal pseudotécnico para mostrar a impossibilidade do extermínio maciço por gás;
7 – Podemos dizer que, para os ‘revisionistas’, as câmaras de gás não existem porque a inexistência é um de seus atributos. É a prova não-ontológica;
8- Enfim e principalmente tudo o que pode tornar conveniente e crível essa
história terrível, marcar sua evolução, fornecer termos de comparação política é
ignorado ou falsificado.”
(Pierre VIDAL-NAQUET, s Assassinos da Memória, 1988,41-44).
Isto az com que, de facto, a nossa oposição ao negacionismo não deva colocar-se no terreno da historiografia, mas no da luta política. Em termos de denúcnia e não de diálogo.
miguel
Caro Miguel, então você apresenta como resposta uma lista de palermices?
Amanhã respondo-lhe, ponto por ponto, às patacoadas do Pierre Vidal-Naquet
Abraço
Miguel, o que eu digo é simples: é que nestas coisas das ideias, como na vida, anda tudo ligado como sabiam os gregos.
assim sendo, fiquei de pé atrás com o Finkelstein por causa daquele sorriso. demasiado cínico para o assunto. e não se trata de puxar o sentimentalismo à conversa (coisa que ele, aliás, faz). trata-se de desconfiar da retórica por detrás do discurso dele. ou seja, da manipulação (daí ter falado de política). e logo num discurso que se quer precisamente contra isso (a manipulação).
bom, mas serão coisas colaterias (ou talvez não...).
Quanto ao resto que dizes, o negacionismo, na minha opinião, combate-se das duas maneiras
1. pela documentação histórica
2. pela intervenção política
e deixa-me acrescentar um terceiro: ao estalo, se for preciso.
Ana, sem dúvida. Mas o que eu não sei é se podemos interpretar um sorriso filmado tão inequivocamente. E ainda, se não me levas a mal: a intervenção da jovem é tão patética como a de uma menina da catequese escandalizada diante de um post do nosso camarada João Tunes sobre a padralhada ou a militante pré-púbere de um saudoso konsomol do malogrado Pai dos Povos ao ouvir o nome de Trotsky ou de outras "víboras lúbricas".
Uma ressalva mais: podemos, sem dúvida, combater historiograficamente o negacionismo, mas insisto em que não devemos reconhecê-lo como uma escola historiográfica. É uma cloaca de papel e, como tal, objecto possível do historiador. Ou, até necessaário, nalguns casos e na medida em que se trate de defender o bom nome da disciplina.
miguel (sp)
P.S. Quando o negacionista passa à acção, o estalo, talvez adequado num debate, deve dar lugar ao tiro de canhota. Na cabeça.
A miúda é uma miúda. Só fiz a comparação na oposição entre a evidente sinceridade dela versus o que me pareceu muitos anos de palco da parte dele.
mas foi um desabafo...
e não estou a levar o negacionismo a sério... mas é como o design inteligente... não te pões a pau, e eles obrigam-te a ir ao newton (o que tb. não faz mal nenhum...)
Isso meninos, isso!
Quando vos faltarem os argumentos, e já percebi que não têm nenhuns, recorram ao estalo e ao tiro.
Ana,
It's a man's world... ou, melhor dizendo, in fact, it isn't, but you can easily find idiots who think it is...
Quando eu andava à boleia para partir de férias, não ouvi poucas vezes o clássico: "não tens cona, vai a pé!".
Que, numa discussão, reincarna na forma "és muito simpática, mas és tão burrinha...".
Aí está um bom motivo para eu nunca me ter considerado "de direita". Nem "de esquerda"!
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