25/01/11

Um contributo de Alfredo Barroso: ESQUERDA DESFEITA, DIREITA SATISFEITA!

Ao transcrever aqui na íntegra este post de Alfredo Barroso — deixando por enquanto de lado as questões sobre as condições da democratização do poder político, da repolitização do funcionamento dos aparelhos de direcção económica, da democratização do mercado, etc., etc —, o que gostaria de lhe perguntar mais imediatamente é se não haverá boas razões para vermos na condução da campanha de Manuel Alegre, longe de uma recusa clara, uma atitude que avalizou aquilo a que ele, Alfredo Barroso, chama "a degradação, decadência e deliquescência dessa esquerda social-democrata", processo que o leva a concluir que "o socialismo democrático já não vai além da mera retórica".
Por outro lado, quando Alfredo Barroso escreve que "Desde Blair e o «New Labour», e de Schröder e o «Novo Centro», a esquerda social-democrata europeia aderiu aos princípios e métodos do neoliberalismo, em nome da globalização – e deixou de pensar em verdadeiras alternativas políticas, económicas e sociais consistentes e credíveis. Em suma: deitou pela borda fora os princípios básicos da social-democracia genuína, esbatendo quase por completo as diferenças que a separavam da direita" — poderemos perguntar-lhe e perguntar-nos se o processo cujo desfecho assim ele resume não tem raízes anteriores e mais profundas, e, concretamente, no caso deste país, se o período que antecedeu, no PS, Guterres e Sócrates, não foi já dominado pela adopção de um "pacto de regime" que reduzia qualquer versão efectivamente alternativa de "socialismo democrático" a "mera retórica".

Mas, para já, aqui ficam as suas palavras.

ESQUERDA DESFEITA, DIREITA SATISFEITA!

HÁ, HOJE,uma diferença fundamental, cada vez mais evidente, entre a Direita e a Esquerda: enquanto a Direita identifica sempre sem qualquer dificuldade os seus interesses comuns, pondo de lado as suas divergências, a Esquerda identifica sempre com toda a facilidade as suas divergências, ignorando os seus interesses comuns.

Desde Blair e o «New Labour», e de Schröder e o «Novo Centro», a esquerda social-democrata europeia aderiu aos princípios e métodos do neoliberalismo, em nome da globalização – e deixou de pensar em verdadeiras alternativas políticas, económicas e sociais consistentes e credíveis. Em suma: deitou pela borda fora os princípios básicos da social-democracia genuína, esbatendo quase por completo as diferenças que a separavam da direita.

Em Portugal, a degradação, decadência e deliquescência dessa esquerda social-democrata, representada pelo PS, começou com Guterres e consolidou-se com Sócrates. Claro que a culpa não é só do PS. Mas o socialismo democrático já não vai além da mera retórica.

E agora foi mesmo um ar que lhe deu! Esquerda desfeita, Direita satisfeita!

É cada vez mais evidente que a Esquerda, no seu conjunto, vai ter de armazenar muita água para a longa travessia do deserto que tem pela frente… Como os camelos!

4 comentários:

Zé_dopipo disse...

O Sr. Barroso, como não podia deixar de ser, deixou de fora o seu familiar Mário Soares, da lista de "degradação, decadência e deliquescência da esquerda social-democrata". Os familiares estão cá para isso mesmo.

Niet disse...

Caríssimo: O Alfredo Barroso, de quem gosto pessoalmente, assim como do primo Mário, sempre se associou, de forma " camiliana ", à " genuína social-democracia " que em Portugal surge como uma mistura suave de republicanismo e democracia social... Ele participou naquele Manifesto- subscrito com os dois Vitor, o Cunha Rego e o Pulido Valente,contra as tendências de Manuel Serra e de Alberto Teixeira Ribeiro no Verão Quente. Muita água passou debaixo das pontes, no entanto, e o Alfredo Barroso sempre se afirmou independente e soberano contra os " desvios " aos princípios sagrados da Social Democracia do tio e sequazes, honra lhe seja feita! No contexto europeu, até o P.Socialista francês deu " cambalhotas " pela austera condução do Jospin, anos 1997/2002, um óptimo PM, que privatizou imenso a economia gaulesa, e claudicou na defesa da economia de mercado omnisciente cara a Blair e Schröder. Salut! Niet

Miguel Serras Pereira disse...

Niet,
como imaginas, o Alfredo e eu não concordamos em muita coisa. Mas publiquei o seu post ºorque me parecei interessante e porque creio que vale a pena discutir com os que, como ele, subscreveram, a partir de perspectivas diferentes, o (a meu ver insuficiente e por vezes equívoco) manifesto "Para uma Nova Economia" (http://www.peticaopublica.com/?pi=NovaEco) e defendem uma democratização das relações de forças que definem os regimes político-económicos estabelecidos. Outros nomes, a juntar ao do Alfredo, no rol daqueles, de entre os que se reivindicam do "socialismo democrático", com quem acho que vale a pena debater a possibilidade de uma plataforma mínima, mas inequívoca, seriam - só a título de exemplo - os do José M. Castro Caldas, João Rodrigues, Sandra Monteiro, António Reis, Rui Tavares, Nuno Brederode Santos,Ana Benavente, Guilherme de Oliveira Martins…
Um reparo de pormenor: quando falas dos dois "Vítor", falas de um só (o Cunha Rego); o Pulido Valente que tens na ideia chama-se Vasco. E, ainda, além deles, esse documento era assinado também por Sousa Tavares. No entanto, o mais destacado dos intervenientes que tomaram posição contra Manuel Serra, no Congresso do PS a que te referes, foi Manuel Alegre.

Salut et liberté

msp

Zé_dopipo disse...

Tudo certo, só que há pessoas que deviam dobrar a língua quando falam do Guterres e menos ainda pôr na mesma frase Guterres e Sócrates. E logo o Barroso.