Já me referi aqui, hoje mesmo, da subserviência intelectual e política de uma Europa, que, em vez de intervir eficaz e autonomamente na Líbia, como decerto faria se existisse ou quisesse existir, pondera possibilidade de sanções a aplicar caso a matança prossiga, enquanto Berlusconi parece ser o diplomata ocidental de serviço, encarregado de chamar, apoiando-se nos interesses que com ele compartilha no mundo dos grandes negócios globais, o ditador à "ética da responsabilidade" da Realpolitik.
Na mesma ordem de ideias, não posso deixar de chamar a atenção para o texto que a Joana Lopes divulga no Brumas - sublinhando a seguinte passagem (que não dispensa a leitura atenta do todo). Não se trata aqui de subscrever a totalidade dos pressupostos do artigo, mas de compreender que é por impor aos governos uma redefinição das posições e políticas da UE no que se refere à região do Mediterrâneo que devemos lutar, lutando ao mesmo tempo por uma Europa que exista de outro modo — em vez de nos limitarmos a reivindicar a inacção da "Europa realmente existente" e a continuação, a título de mal menor ou sabe-se lá de quê, da inexistência da UE.
São incontáveis os erros históricos cometidos pelas grandes potências no Magrebe e no Médio Oriente, em nome do dogma de que a ditadura era um mal menor, em comparação com a ameaça do fanatismo religioso islamita. Na realidade, trata-se de dois inimigos que se têm alimentado um ao outro e que deixaram milhões de pessoas presas entre garras que as privavam de liberdade e de qualquer esperança de progresso, em todo o mundo árabe. Agora que esses cidadãos tomaram a iniciativa, com risco das suas vidas, as grandes potências não podem acrescentar mais um erro aos já cometidos, mais uma vez de dimensões planetárias.
Pelo menos, a Europa não pode nem deve fazê-lo, porque isso seria o mesmo que consagrar uma traição definitiva aos grandes princípios com base nos quais quis criar a sua União. Os cidadãos que se ergueram, que estão a erguer-se, contra as respetivas ditaduras, exigindo liberdade e dignidade, precisam de receber do mundo exterior, do mundo desenvolvido e democrático, uma mensagem inequívoca de que as suas reivindicações são legítimas. E a União Europeia não pode permitir-se pronunciar-se em sussurros nem fazer bandeira dos seus medos mesquinhos.
23/02/11
Subscrever:
Enviar feedback (Atom)
3 comentários:
não há democracia na fome
há élites e plutocracias várias
de resto a democracia grega é um verniz que dura o que dura
o império britânico foi tirânico para milhões
as democracias ocidentais existem à custa da miséria mundial e dos baixos custos das matérias primas
democracia real começa pela económica e isso obviamente é...
um mito? uma utopia?
um pesadelo?
Caro Miguel
Seria provavelmente condenado como herege se entrasse no pormenor do que eu penso acerca da questão, mas julgo que é dispensavel fazê-lo.
Com efeito, todos nos, à esquerda,incluindo os mais perigosos deviacionistas da minha laia, estamos profundamente convencidos de que a resignação à Europa realmente existente leva a um impasse, pelo que urge mudar e ja.
A questão é mais como fazê-lo...
So para dizer que o comentario que antecede é meu. Não que interess muito...
Abraços
Enviar um comentário