Outro aspecto é a grande variação de resultados do BE de sitio para sitio, mesmo em localidades próximas e socialmente parecidas - qual é a grande diferença entre Baleizão (11,86%) e o resto do concelho de Beja (5,72%)? Ou mesmo entre a Mexilhoeira Grande / Portimão (10,09%) e Odiáxere / Lagos (7,22%), duas freguesias contiguas e muito parecidas? Uma possivel teoria poderia ser a existência ou não de militantes activos nas localidades com mais votos (algumas pessoas iriam votar não apenas por causa dos "políticos" que aparecem na televisão, mas também por causa do militante de base que eles conhecem pessoalmente) - é uma ideia tentadora, mas impossível de testar na prática (mesmo que se concluísse que o BE tinha mais votos nas freguesias em que tem grupos de militantes, penso que seria impossível determinar o sentido da relação causa-efeito).Bem, entretanto fiz uma tentativa de contornar esse problema: estudar a relação entre a presença de militantes e a variação da votação do BE. Penso que aí já não há o problema da relação causa-efeito: no caso da votação em termos absolutos, mesmo que o BE tenha mais votos onde tem mais militantes, a relação causal pode perfeitamente ser "tem mais militantes porque tem mais votantes, logo à sempre alguns que se inscrevem" (e não o inverso); mas no caso da variação da votação, se o BE tiver perdido menos votos nos sítios onde tem militantes activos, penso que o mecanismo só pode ser "militantes no terreno > menos perda de votos" (não estou a ver como a relação causa-efeito possa ser ao contrário).
Então, vamos às contas - para calcular a variação da votação do BE, fui pegar nos resultados das eleições de 2011 e nas de 2009. Para ver em que terras o BE tem militantes activos, usei um truque - fui ver as eleições autárquicas de 2009 e assumi que nos concelhos onde houve uma lista para a AM haverá um núcleo.
Resultados:
Nos concelhos onde o Bloco concorreu nas autárquicas, perdeu 47% dos votos das legislativas de 2009 para as de 2011; nos concelhos onde não concorreu, perdeu 54%.
Fazendo uma análise por freguesias - nos sítios onde o BE concorreu à Assembleia de Freguesia, perdeu 46% dos votos de 2009 para 2011; nos sítios onde não concorreu, perdeu 52%.
Conclusão - o BE perdeu efectivamente menos votos nos sítios em que tem militantes organizados, o que parece indicar que o trabalho desses militantes de base (e não apenas o do grupo parlamentar e/ou dos opinion makers com colunas nos jornais) efectivamente tem influência visível nos resultados.
[Se alguém quiser ver os números, posso publicar um post com uma tabela contendo os dados que usei]
4 comentários:
é uma teoria...
mas as perorações do Rosas e doutros aos militantes activos
também fizeram com que muitos deixassem de o ser...
do mesmo modo a postura do bloco
fez razias entre aqueles que não eram fundamentalistas
quanto à diferença percentual
ela é desprezível
e as anomalias locais também ocorreram noutras freguesias
o diferencial aqui foi de 3%
em relação à envolvente
razão maior nº de jovens licenciados e trintões em doutoramentos e pós graduações
a análise demográfica das freguesias assinaladas
seria necessária para despistar a existência de outros factores
resumindo; é uma questão de fé fazer essa correlação com a militância (activa ou passiva)
mas cá por mi
é ir em frente com a assumpção
No concelho de Vizela há 2 freguesias em 7 que se passa o contraio: onde não há militantes (5,13%) acima da média distrital e concelhia e onde há (4%). E não há relação directa entre núcleos "grandes" e "pequenos" de militantes.
No meu concelho há militantes organizados do BE, sedes do partido, jornais, radios e TVs, há até um Parlamento, e a abstenção foi de 37,88%, os brancos foram 2,67% e os nulos 1,33%. Alguém me explica isto?
Bem, se no seu concelho há um Parlamento, é capz de viver em Lisboa (na Horta e no Funchal os resultados foram muito diferentes desses).
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