17/10/10
O anti-imperialismo barbie
por
Zé Neves
Posts como este, do nosso amigo Renato Teixeira, fazem apenas o favor de, por "cumplicidade", "ignorância" ou "cobardia", fugirem com o rabo à seringa. E a seringa não é aquele instrumento perfurador com o que o Renato propõe penetrar as barbies deste mundo (cf. ou vejam lá a imagem cretina com que Renato resolve abrilhantar onão menos cretino post do próprio Renato). Do que o Renato foge, com efeito, é das lutas entre classes e outras espécies indeterminadas nacionalmente, lutas que atravessam o Afeganistão como atravessam outros países. Que estas travessias procedam de modo diverso, sendo que falar de luta de classes aqui não é o mesmo que falar de luta de classes ali ou acolá, é uma verdade, mas é uma verdade que não dá ao Renato o direito à idiotice: porque a luta de classes também não é a mesma nas grandes cidades e nas pequenas aldeias do Afeganistão, sendo que é possível encontrar mais parecenças entre Lisboa e Cabul do que entre Cabul e o mais remoto lugar afegão onde o Renato poderia ir fazer as suas reportagens jornalísticas (sempre bem-vindas, diga-se). O problema das leituras do Renato não é serem falsas ou verdadeiras, pois podemos ver as coisas como quisermos (e é neste querer que está o princípio de uma política internacionalista que não se limite a mera sociologia geopolítica marxista-leninista). Se o Renato prefere, primeiro, ver os que estão do lado dos talibãs e os que estão do lado dos norte-americanos, eu prefiro, e creio que nisto me encontro próximo do Miguel Cardina, começar a falar de coisas menores, como proletários e afins, já para não falar dos temas de género que dão mote ao imaginário sexual do Renato. O problema do Renato é simplesmente este: reserva o tema da luta de classes para o quentinho da Europa Ocidental e ignora-o quando se move mais para oriente, sobrando-lhe aí a adesão ao extremismo nacionalista e ao fundamentalismo religioso, que suporta com tanto empenho como se estivesse a apoiar uma luta operária, esquecendo que o proletário é o que luta para deixar de ser proletário, num movimento inverso ao do extremista que procura aniquilar o outro e do fundamentalista que procura a sua essência. O Renato pode funcionar como se estivéssemos a falar de "outra" realidade, mas é bom que lhe recordemos que este "outranço" é a negação dos princípios mais elementares do internacionalismo proletário. Pelo menos nisto, ao Renato não faria mal perder algumas horas a ler o caderninho de viagens do Daniel Oliveira. É que até umas pingas do cosmopolitismo social-democrata que o Renato tanto rejeita (e em grande parte com razão) não lhe fariam mal nenhum (isto independentemente do internacionalismo do Daniel ser ou não - creio que não é - justamente retratado pela ideia de cosmopolitismo social-democrata).
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30 comentários:
Começa a ser fastidioso o debate contigo se resumes a polémica ao insulto (cretino, cretino, sempre cretino) e recuses o debate proposto.
Levantas inúmeros temas ao tema da posta, ele é luta de classes, a questão de género, as viagens do DO e até, imagine-se, as minhas, mas não dizes peva sobre a equidistância.
Curiosamente o mesmo fez o MSP na caixa de comentários da referida.
Se quiserem ir pelo debate proposto eu cá estarei para debater. Se quiserem fugir com o rabo à seringa da equidistância, a conversa está esclarecida e, naturalmente, encerrada.
Renato Teixeira
É um texto poliédrico, desigual e eufóricamente perverso, o configurado pelo tipo de interpelação avançado com o rigor habitual por Z.Neves, a que não falta também um " brin " de malícia e manifesta, indelével e sincera amizade para com o Renato Teixeira, o que muito nos reconforta. O grau das questões de ordem epistemológica e histórica em movimento no texto de R. Teixeira, que se encadeiam e neutralizam, deriva , segundo uma tese cara a Adorno, através do que se agencia pela " apologética, inspirada pela incerteza e a má consciência, imediatamente refutada pela demonstração da não-identidade que não quer reconhecer e que só faz dela por conseguinte pensamento ".O pensamento a milhas da realidade, portanto! Face à realidade que é luta de classes e no interior do capitalismo mundial onde os Talibans, o Hezbollah e Cia jogam e se iludem no fetichismo sanguinário da duplicidade: " Só o que se distancia- puro- possui suficiente raiva, nervos,liberdade e mobilidade para se opôr ao mundo- porque vive na " terceira pessoa "-que o conduz a deixar triunfar a exterioridade do mundo assim como a profundidade dos seus pensamentos. Mas aquele que conhece demasiado todos os mecanismos esquece-se de considerar por que existem(...) arriscando-se a uma recaída na barbarie ".Niet
Renato,
talvez a equidistância não seja uma perspectiva de análise que nos leve muito longe. E creio que é o Renato quem se furta a discuti-la. Não quer reconsiderar?
Aqui fica o comenbtário que deixei na caixa do seu post no 5dias - talvez facilite:
"Renato,
não compreendo a que se refere concretamente o “Nem Washington, nem Moscovo” citado a propósito dos “píncaros” da Segunda Guerra Mundial – altura em que a URSS e os EUA combatiam como potências aliadas o III Reich. Mas, se se trata de um lapso, referindo-se a palavra de ordem evocada à Guerra Fria, devo dizer que, contanto que não fosse seguida do alinhamento com a China de Mao, não me parece assim tão disparatada.
Em segundo lugar, não vejo por que razão nem por que caminhos poderá o apoio ao “fanatismo islâmico” e a vitória deste ser a melhor maneira de o combater. Houve um momento entre as duas guerras em que o Comintern formulou o mesmo raciocínio nas vésperas da tomada do poder por Hitler na Alemanha, argumentando que uma vitória nacional-socialista só poderia ser um fenómeno passageiro, um incidente de superfície, imeditamente seguido pela derrocada da ordem burguesa. Ora, acontece que a história se encarregou de mostrar o que devemos pensar de cálculos e apostas que tais.
Finalmente, o exemplo de Bush. Houve quem estivesse contra ele e, ao contrário do “fanatismo islâmico”, não saudasse um acto de guerra de libertação no atentado de 11 de Setembro contra as Twin Towers ou no de 11 de Março em Madrid, mas visse neles crimes contra a humanidade e derrotas dos adversários da política norte-americana.
Ou não é assim?
Não posso deixar de aplaudir a inspiração democrática e radicalmente insubmissa do que escreve o meu camarada Miguel Cardina.".
Saudações polémicas
msp
msp, repito a pergunta que lhe deixei no 5dias: como justificar a mesma distância entre ocupante e ocupado?
Niet, o que me parece a milhas da realidade é a terceira trincheira, o campo virtual da neutralidade.
Não creio que se possa estabelecer um paralelo entre "os Talibans, o Hezbollah e Cia", nem tão pouco argumentar sobre o facto destes terem um papel equiparável na ilusão e no fetichismo sanguinário.
Cumps.
Renato T.
Renato,
não sei se a distância é (sempre) a mesma, nem se a ideia de distância dá aqui conta do recado. Sei que o "ocupado" não é uma entidade homogénea e que, nas suas fileiras, se repete muitas vezes o esquema de uma dominação tão ou mais intolerável do que exercida pela potência ocupante. O que, sem dúvida, não a justifica minimamente. Não estou interessado em bater-me pela "nacionalização" dos opressores.
Só isso. Simples, não lhe parece?
msp
"se repete muitas vezes o esquema de uma dominação tão ou mais intolerável do que exercida pela potência ocupante."
Assim sim. Simples.
Renato T.
renato, o post do cardina, ou o meu, não se colocavam equidistantes entre dois polos. sim recusavam que essa seja a distancia em relação à qual interessa tomar partido. para ti a distância primordial é entre talibans e eua. para mim não é.
cumps
Caríssimos: As " preocupações " expressas pelo Renato Teixeira remetem-nos a todos para altos tratados de Ciência Política e Estratégia, tendo como complemento aquelas revistas USA- de Harvard, Princepton, Standford - que devem dar cabo dos neurónios dos politológos encartados da nossa/vossa praça... Há teses muito interessantes, por exemplo de
Walter Laqueur," Post-modern Terrorism ", Foreign Affairs; Robert Cooper, " The post-modern state and world order "; K.V. Holsti,"The State, War and the State of War". Vamos avançar lendo, meu caro RT e todos em geral! Niet
Renato,
antes de concluir, pense - por favor. Quer um exemplo? A libertação por Hitler dos territórios ocupados do Ruhr. Quer isso dizer que a ocupação do Ruhr era uma boa solução? Longe de mim afirmá-lo. Devia ser combatida pelos democratas? Claro que devia. Mas a "libertação nacional" hitleriana, também.
Como é evidente, levar a discussão para este terreno é bastante improdutivo. Mas, já que insiste, não quero cometer a indelicadeza de o deixar sem resposta.
Saudações democráticas
msp
P.S. Quando tiver tempo, há-de explicar-me porque embirra tanto com a ideia de "democracia" a que eu recorro, explicitando sempre que se trata da ideia do exercício do poder por cidadãos livres e iguais, pressupondo a destruição das relações de poder hierárquicas ou de classe que nos governam. Não lhe agarda a ideia? Pensa que a transição para esse regime - a que também pode chamar socialista, se preferir -pode e deve ser feita através de métodos que negam o fim visado? Ou, simplesmente, resolveu não pensar no caso e manter a embirração?
Não lhe fica nada bem e dificilmente poderá defender que se trate de uma posição racionalista. O que, para alguém que, como você, ao que suponho, faz do racionalismo, na esteira de Marx, um ponto de honra, nada deve ter de confortável.
Descontraia, homem. Sans rancune
msp
Zé Neves, se aplicares a ferocidade literal com que atacaste o título da posta do Rafael, concluirás então que o do Cardina é enganador. Se não há a defesa da equidistância não há polémica. Parece-me no entanto que a formulação "nem NATO, nem Taliban" não deixa margem para estabelecer as distâncias que são centrais seja para a resistência no interior do Afeganistão, seja internacionalmente no movimento contra a guerra.
Renato T.
"O que, sem dúvida, não a justifica minimamente."
MSP
Só uma pergunta, caro Miguel:
As tácticas e métodos da dominação (tão ou mais intolerável) que refere tem muito que ver com as dificuldades que Israel sente quando tenta justificar as suas políticas. Os "resistentes" conhecem as vulnerabilidades da democracia melhor que V.Exas. Eles, ao contrário de V. Exas, regem-se por uma visão estritamente instrumental da democracia.
A pergunta é esta:
Podemos dissociar as dificuldades que Israel tem em justificar as suas políticas da dominação (tão ou mais intolerável) que aqui refere??
Seguindo o inefável Niet, recomendo que leiam os textos dos estrategas e ideólogos do islamismo radical.
http://www.amazon.co.uk/Architect-Global-Jihad-Al-Qaeda-Strategist/dp/1850659915/ref=sr_1_1/278-6545766-1712802?ie=UTF8&s=books&qid=1287357366&sr=1-1
As minhas desculpas. Não tinha alterado o texto ainda quando o submeti.
Podemos dissociar as dificuldades que Israel tem em justificar os seus actos das políticas da dominação (tão ou mais intolerável) do hamas, por exemplo? A ideologia que inspira esta dominação é a mesma que que justifica o ódio anti-israelita? Uma mesma origem e causa.
Não podemos. Significará isto que a dominação de Palestinianos por Palestinianos justifica as acções Israelitas? (não estou a afirmar que Israel pretende libertar os Palestinianos, não é isso!!!!)
Caro Anónimo de 18 de Outubro de 2010 00:23:
Não, não podemos justificar a política do Estado de Israel invocando os métodos de governo e organização deste ou daquele regime ou candidato a sê-lo do outro campo.
Aliás, este jogo proposto pelo Renato Teixeira (devemos apoiar mais este ou mais aquele?) está viciado à partida. O que devemos fazer é apoiar a democratização do poder político e das formas de luta tanto no que se refere a um campo como a outro. E devemos fazê-lo independentemente de sermos portugueses, palestinianos ou israelitas, alemães, brasileiros ou iranianos. O que acontece é que a democratização e a luta pela extensão da participação igualitária de todos no seu próprio governo pode pôr exigências imediatas ou iniciais diferentes aqui e ali Mas, em todos os casos, só a participação democrática garante a participação democrática, só a auto-organização faz avançar o auto-governo. E este critério não varia - embora os passos concretos a dar sejam diferentes em terrenos e circunstâncias diferentes.
Não se trata tanto de saber se nos afastamos mais ou menos deste ou daquele, mas se o que nos propomos fazer se aproxima mais ou menos da democracia, é mais ou menos portador da democratização das relações de poder que nos governam.
Saudações democráticas
msp
Caro Miguel,
O que se passa na Palestina não justifica as acções Israelitas. O que se passa em Israel não justifica as acções Palestinianas. Está a ver a artificialidade desta sua posição? É meramente normativa, destituída de realidade.
Permita-me a seguinte pergunta:
"Não, não podemos justificar a política do Estado de Israel invocando os métodos de governo e organização deste ou daquele regime ou candidato a sê-lo do outro campo."
Na sua opinião, Israel deveria fazer o quê? O que faria o Sr se fosse PM de Israel?
Concordo com o comentario anterior a este.
Consideremos o seguinte. Se pretendemos explicar (note-se: explicar) este conflito temos que presumir que o que se passa na Palestina afecta Israel e vice-versa. Uma constataçao elementar, certo? Se a interpretaçao (explicaçao) do conflito faz com que seja necessario considerar a complexa relaçao israel-palestina, como e' que podemos dissociar um do outro quando se trata de justificar? Nao faz sentido. Podemos invocar uma segunda dimensao, puramente normativa, defensavel, mas sem qualquer fundamento empirico.
E' evidente que podemos estabelecer um criterio normativo a partirt do qual poderiamos fundamentar uma critica dos dois intervenientes no conflito (o criterio proposto pelo Miguel, suponho eu, e' o da democratizaçao tout court, de ambos os lados)
Estarei certa na minha interpretaçao do argumento do Miguel??
Passemos a' frente.
Algumas notas:
1- Os problemas da Palestina nao se resumem a um deficit de democracia. Tudo indica que, no presente contexto, uma crescente democratizaçao dos processos de decisao politica nao significaria o fim de um regime hediondo nem o fim da dominaçao que refere. Como sabe, o hamas foi eleito com uma maioria absoluta em gaza. De facto, ate' e' provavel que a democratizaçao crescente permitisse a consolidaçao de forças que sao intrinsecamente anti-democraticas. A democracia nao e' uma panacea para as dominaçoes "intoleraveis." O caminho para o totalitarismo esta repleto de actos democraticos.
Ou seja, as grandes questoes tem mais que ver com a cultura politica que seria articulada (e transformada, espero eu) nos processos democraticos do que com a democratizaçao per si.
Conclusao: e' perfeitamente possivel que um sistema perfeitamente democratico seja um sistema de dominaçao "intoleravel." Basta apenas que a vasta maioria dos cidadaos sejam fascistas. Ou ja' se esqueceram que o sistema que melhor serve fascistas e totalitarios e' a democracia????
O Renato, em vez de tentar forçar polarizações/dicotomias, deveria explicar como olhará para os palestinos e israelitas quando o Hamas tiver o poder absoluto, para os libaneses quando o Hezbollah tiver a hegemonia, ou para os afegãos quando os talibã voltarem a Cabul. A essa é que eu gostaria que ele respondesse.
Resumidamente, o Renato Teixeira está a dizer que no dia em que o PNR tiver mais um voto que o PCP, irá apoiá-lo para sair da UE e da OTAN. E que depois logo se vê quanto ao resto.
E se isto parece uma caricatura, também o resto do debate o parece.
Caros Anónimos,
não tenho grande coisa a acrescentar. So esclarecer, na linha do que disse antes, que, efectivamente, a democracia é reflexão e acção normativas, transformação do dado e redefinição do possível.
E a ideia de limitar a democracia para combater o totalitarismo é, pelo menos, aberrante. A actual política israelita demonstra-o bem: os métodos antidemocráticos de luta só têm reforçado o fundamentalismo dos adversários de Israel, ao mesmo tempo que se arriscam a consumar a destruição das liberdades e direitos fundamentais dos próprios israelitas. Uma coisa é dizer que um movimento fundamentalista ou um partido totalitário podem ganhar eleições e outra dizer que poderiam resistir à acção do funcionamento de uma democracia efectiva nas suas fileiras.
Saudações republicanas
msp
Caro Miguel,
A democracia não se exerce num vácuo politico-cultural ou histórico. A cultura política Palestiniana é decididamente não-democrática. Talvez fosse apropriado relembrar o Miguel dos seus argumentos sobre a incompatibilidade dos valores teocráticos com o ethos democrático.
A bem da verdade, eu não defendi o argumento de que é desejável limitar a democracia para combater o totalitarismo.
Solicitei algumas recomendações da sua parte. Não respondeu à minha pergunta. Até pode ser verdade que os métodos utilizados por Israel reforçam o fundamentalismo. Todavia, o oposto também parece ser verdade. Sempre que Israel demonstrou boa fé, os líderes Palestinianos interpretaram-na como um sintoma de fraqueza e, antecipando uma gloriosa vitória, fomentaram ainda mais o extremismo.
As coisas não são assim tão simples: pensar que Israel poderá limitar a radicalização por via da moderação das suas políticas parece-me algo idealista.
Mais uma luta: como é que se luta democraticamente contra organizações inspiradas por uma ideologia teocrática e intrinsecamente intransigente?? É uma pergunta simples. Há, sem dúvida, um aspecto paradoxal nesta problemática: ao combatermos o terrorismo arriscamos perverter os valores que pretendemos defender.
Tem algumas sugestões em como minimizar ou eliminar este paradoxo? Mais uma pergunta.
Considere o seguinte:
"Uma coisa é dizer que um movimento fundamentalista ou um partido totalitário podem ganhar eleições e outra dizer que poderiam resistir à acção do funcionamento de uma democracia efectiva nas suas fileiras."
Apesar de não considerar que o Hamas e a Autoridade Palestiniana são organizações democráticas (longe disso) não tenho qualquer dificuldade em imaginar um hamas ou uma autoridade palestiniana que, apesar de se regerem por princípios democráticos, manteriam as suas posturas totalitárias. O que fazer quando um processo participativo democrático leva a adopção e glorificação de um objectivo totalitário e muito pouco democrático, caro Miguel??? As coisas não são assim tão simples.
Para concluir, permita-me dizer-lhe que esta sua presunção de que a democracia participativa é panaceia para todos os males está perigosamente perto de uma perigosa (já explico porquê) sacralização da política que se manifesta na sua flagrante indiferença à dimensão histórica e politico-cultural.
As suas propostas padecem de uma certa naiveté Kantiana.
Qualquer guerra perverte os direitos fundamentais de todos os que nela participam. O sr parece desejar o melhor de todos os mundos. É uma postura idealista sobejamente defensável e desejável.
Melhores cumprimentos
smme
Reconheço que os argumentos que aqui apresentei poderão parecer-lhe bizarros. Contudo, a história parece estar do meu lado: a democracia pode produzir e legitimar os mais perigosos totalitarismos. Até a mais participativa e substantiva das democracias pode engendrar o totalitarismo. Esta coisa de transformar a democracia na cura dos seus próprios males é algo que não faz muito sentido.
O que pode, de facto, perverter o fuindamentalismo/absolutismo é o PLURALISMO. O sr poderá responder assim: sim, mas a articulação política e social do pluralismo depende da institucionalização das praticas democráticas?? Será mesmo assim?? Assunto interessante para debatermos, se desejar.
Melhores cumprimentos
smme (todos os comentários anónimos anteriores foram meus)
Caro Anónimo,
concordo com muito do que diz. E penso que sim, que a democracia é um traço cultural distintivo, uma criação social-histórica original e não uma espécie de automatismo ou de produto derivado da ordem natural das coisas.
Do mesmo modo, não vejo a preto e branco o conflito do Médio Oriente.
Só que, do meu ponto de vista, a criação social-histórica da democracia - a ideia e a vontade de sermos nós, como cidadãos, a darmo-nos as nossas próprias leis e a (auto)governarmo-nos, é, histórica e politicamente, universalizável. Além de que é uma ideia portadora da exigência de universalização.
Também não creio na existência efectiva de uma "cultura palestiniana" coesa, homogénea, de uma solidez a toda a prova. Penso que isso é uma imagem veiculada pela propaganda interessada das camadas oligárquicas, clericais e militares governantes - e que está longe de poder tornar a população de Gaza e outros lugares imunes ao contágio do vírus democrático. Não há razão de princípio - mas só explicações históricas - para que a tradição palestiniana seja mais avessa à democracia do que à tecnologia ocidental, ao capitalismo, aos meios de comunicação de massa. Mas aqui é a atitude e as prioridades do mundo ocidental no seu contacto com as outras regiões que teremos de analisar. Isto, para dizer que o "fundamentalismo" tem fundamentos recentes e não corresponde a uma identidade profunda e com raízes muito antigas.
Pelo que voltamos ao princípio da discussão, sendo que eu mantenho a prioridade do critério da democratização e da sua racionalidade.
Saudações democráticas
msp
Caro Miguel,
Eu nunca defenderia a tese de que a democracia (a "realmente existente" ou a que defende) não é/seria universalizável. Longe de mim defender tal coisa. Seria contra natura. lol :)
Nenhuma cultura é homogénea ou coesa. Aliás, vendo bem as coisas, se assim fosse (meramente homogénea)...não seria cultura. Não falei da cultura Palestiniana tout court. Fui bastante específico: falei de cultura política. Esta, infelizmente, hoje é bastante mais coesa e homogénea do que anteriormente.Serei mais especifico ainda: A Autoridade Palestiniana e o Hamas são tão democráticos como a Republica Democratica do Congo.(lol) Existem forças genuinamente democráticas na Palestina,claro. Mas, como deve saber, são implacavelmente perseguidas pelas duas forças políticas que conseguiram predominar. Raras e perseguidas. A corrupção na AP é coisa indescritível. No Hamas, a corrupção é muito menor mas a repressão é infinitamente maior.
Enfim, uma situação nada auspiciosa.
Uma boa noite para si,
Cumprimentos
SMME
Caro SMME,
então, estamos bastante de acordo sobre questões essenciais. Claro que a situação nada tem de auspicioso.
O pomo da discórdia - se o entendi bem - está no seguinte: não vejo como se possam remediar antidemocraticamente os problemas da democracia sem a suprimir. E está também, provavelmente, no que entendemos por democracia. Mas sobre isso teria de me alargar mais do que o tempo me permite. Ficará para outra ocasião.
Saudações coridiais
msp
Oh. JMC: Desculpe lá a minha momentânea perplexidade mas, não se me afigura de forma convincente a 75 por cento, que tivessse realmente bem lido o Castoriadis e demais autores da sua órbita- Mattick,Pannekoek,Guérin, Lefebvre, Lefort, Lyotard,etc... Pelo dispositivo revelador materializado na textura ideoprogramática posta em relevo pelos seus comentários. E não precisamos de fazer pesadas e desnecessárias análises de semântica estrutural para que isso se revele. " O que faz da Revolução Russa uma Revolução Proletária, é que o proletariado nela intervém como a Força Dominante com a sua bandeira, o seu rosto, as suas próprias formas de Organização: Não só criou orgãos de massas com o objectivo de se apropriar de todo o Poder, mas por si próprio realizou a expropriação dos capitalistas e começou a fazer a Gestão Operária das fábricas. Tudo isso faz da R. Russa uma Revolução Proletária, para lá do que o futuro lhe reservou- da mesma forma que nem as fraquezas, nem a confusão, nem a derrota final impedem de caracterizar a Comuna de Paris como uma Revolução Proletária ". Mais logo,se tal se proporcionar, irei refutar o sindroma de que o JMC me parece estar atingido, que o Castoriadis( autor da citação reproduzida) configura pela fantástica expressão de " catolicismo estaliniano ", que se prende também com o facto capital do carácter de classe da burocracia russa ter sido gerado pelos efeitos da " propriedade burocrática não ser nem individual nem colectiva; é uma propriedade privada porque só existe para a burocracia, e o resto da sociedade tem as mãos vazias; mas é uma propriedade privada explorada em comum por uma classe e colectiva no interior dessa classe, onde por outro lado subsistem diferenciações internas "(idem.CC). Salut! Niet
Caro Miguel,
Se me permite, gostaria de deixar aqui uma referência bibliográfica que poderá interessar-lhe.
Francesco Cavatorta
The Convergence of Governance: Upgrading Authoritarianism in the Arab World and Downgrading Democracy Elsewhere?
in
Middle East Critique, Volume 19 Issue 3 2010
SMME
Se não conseguir obter o periódico, terei muito gosto em enviar-lho.
Melhores cumprimentos,
SMME
Olá Niet,
"Pelo dispositivo revelador materializado na textura ideoprogramática posta em relevo pelos seus comentários. E não precisamos de fazer pesadas e desnecessárias análises de semântica estrutural para que isso se revele."
---
Niet, conhece este livro??
http://www.amazon.co.uk/Guide-Perplexed-Moses-Maimonides/dp/0872203247/ref=sr_1_2?s=books&ie=UTF8&qid=1287494426&sr=1-2
Não me interprete mal. Eu gosto de ler o que escreve mas por vezes dou por mim a considerar o seguinte: deverá a compreensão, a inteligibilidade, ser uma obrigação moral de qualquer pessoa que se reconhece como ser social???
Peço-lhe, portanto, que clarifique o seu texto para que eu o compreenda plenamente e possa comunicar consigo.
Cumprimentos,
SMME
Caro SMME,
muito obrigado pela sugestão. Vou tentar ler o artigo. E voltaremos, depois, a ter outras ocasiões de debate.
Cordialmente
msp
Caro SMME: Tudo isso são jogos de linguagem...A semântica prende-se com os significados sociais da linguagem.É uma quase-invenção francesa, marxisto-saussuriana de efeitos quase nulos. Acho que me fiz entender!?!?Com toda a solicitude e amizade, Niet
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