Será possível manter os termos em que o BE, pela voz de Francisco Louçã, responsabilizava há dias o governo de José Sócrates & Cia e, ao mesmo tempo, reiterar o apoio a um candidato — Manuel Alegre — que ora se solidariza com a exigência oligárquica e anti-cívica da estabilidade acima de tudo proclamada pelo mesmo governo, ora se antecipa na sua formulação, a coberto de uma retórica social-patriota que só na de Francisco Lopes encontra termo de comparação?
Repito a pergunta ao ler uma versão que completa a descrição das recentes peripécias da campanha em curso, que há pouco comentei noutro post:
Manuel Alegre disse que o seu adversário e actual Presidente da República é "factor de instabilidade e dúvida" por colocar o eleitoralismo acima dos interesses do País.
O quarto dia de campanha foi novamente dominado pelos números, hoje os da dívida, bem recebidos pelos candidatos, mas com Cavaco Silva a não excluir uma "crise grave", o que o tornou alvo de críticas de Alegre e do PS.
(…)
No Alentejo, Manuel Alegre disse que o seu adversário e actual Presidente da República é "factor de instabilidade e dúvida" por colocar o eleitoralismo acima dos interesses do País, afirmando-se portador do legado dos ex-Chefes de Estado Mário Soares e Jorge Sampaio.
"Num momento em que o país precisa de uma palavra de confiança e de estabilidade, o candidato fez declarações que geram instabilidade e lançou a dúvida", disse, após considerar "boas" as notícias sobre a emissão de dívida.
Também o líder parlamentar do PS, Francisco Assis, criticara Cavaco Silva por seguir "demasiadas vezes" a via da crítica ao Governo na campanha eleitoral, classificando-o como factor gerador de instabilidade institucional e desvalorizou as recentes críticas de Alegre às medidas de austeridade.
O que compete aos democratas é pôr em crise a dominação oligárquica e os seus capatazes governamentais e desprezar as fronteiras que se opõem à cidadania europeia e à democratização da UE, e, nem de perto nem de longe, invocar a defesa da soberania e/ou a estabilidade do regime como imperativo nacional, nos termos em que os responsáveis que governam o PS ao serviço da oligarquia financeira (portuguesa, europeia e global) e o candidato do BE o fazem, numa troca retórica de favores cada vez mais explícita e cada vez mais gémea da retórica da "ética da responsabilidade" de Cavaco e dos seus apoiantes — sem compreenderem sequer o branqueameento e legitimação que oferecem de bandeja a Cavaco quando dele dizem, pela voz do inefável Francisco Assis, apostado em desautorizar os argumentos com que o BE e alguns outros justificam a necessidade de eleger um contra-poder para Belém:
O país não precisa de um Presidente da República transformado num provedor universal de todos os descontentamentos, nem tão pouco de um Presidente da República erigido no papel de contra-peso da acção do Governo legítimo do país.
12/01/11
Breve revisão da matéria dada ( Ah, a estabilidade, pois, a estabilidade… III)
por
Miguel Serras Pereira
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2 comentários:
o alegre, como se sabe, fala por metáforas e as metáforas são, por vezes, figuras difíceis de interpretar. daí, talvez, a confusão criada em torno do pensamento do bardo. cá para mim, ele próprio já se deve sentir instável.
Sim, Ana, inabalavelmente instável, creio eu - ou vice-versa. Não te parece?
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