Há quem diga que a velhice traz sabedoria; outros que é mais rugas e reumático. Pontos de vista…
Por falar em pontos de vista – não confundir com o relativismo da razão: eu tenho um ponto de vista, tu tens um ponto de vista, ele tem um ponto de vista… porreiro, pá! –, veja-se como a Relatividade permite interpretações opostas. Se o tempo se torna mais lento quando a velocidade aumenta, com a idade devíamos poder ir adiando a morte já que a tendência é, facto incontestável, para perdermos mobilidade. Por outro lado, contudo, também podemos dizer que, à medida que o tempo que resta encurta, a velocidade de aproximação à meta dispara apesar do acréscimo exponencial das artroses.
Seja qual for a forma como olhemos a coisa, a grande vantagem da velhice não parece afastar-se muito da grande vantagem em ser-se rico: poder dizer o que nos vai na gana e o mundo que se lixe (o que não significa que a maioria dos velhos ou a maioria dos milionários tenha por hábito fazê-lo).
Martin Amis não é velho mas também não vai para mais novo (n. 1949). Não sei se no caso dele a idade virá ao caso, mas a forma como critica Saramago em O Segundo Avião faz prova de uma nonchalance só admissível a partir dos cinquenta e muitos.
Cita-o (“Ah, sim, os horrendos massacres de civis causados pelos chamados terroristas suicidas… Horrendos, sim, sem dúvida; condenáveis, sim, sem dúvida, mas Israel ainda tem muito a aprender se não é capaz de compreender as razões que podem levar um ser humano a transformar-se numa bomba.”), mas só para não o poupar: “E se formos ouvir a retórica do delírio e da auto-hipnose, então mais vale que a ouçamos de um laureado de Estocolmo (…) [cuja] linhagem da prosa (…) na verdade é a mais pura e empertigada grandiloquência (poderia chamar-se-lhe nobelês).”
O mais radical encolher de ombros à opinião alheia, vai, porém, para Francis Bacon que, quando interrogado sobre pintura abstracta, respondeu (cito de memória): “É assim como o padrão dos sofás. Fica bem na sala…”.
Por falar em pontos de vista – não confundir com o relativismo da razão: eu tenho um ponto de vista, tu tens um ponto de vista, ele tem um ponto de vista… porreiro, pá! –, veja-se como a Relatividade permite interpretações opostas. Se o tempo se torna mais lento quando a velocidade aumenta, com a idade devíamos poder ir adiando a morte já que a tendência é, facto incontestável, para perdermos mobilidade. Por outro lado, contudo, também podemos dizer que, à medida que o tempo que resta encurta, a velocidade de aproximação à meta dispara apesar do acréscimo exponencial das artroses.
Seja qual for a forma como olhemos a coisa, a grande vantagem da velhice não parece afastar-se muito da grande vantagem em ser-se rico: poder dizer o que nos vai na gana e o mundo que se lixe (o que não significa que a maioria dos velhos ou a maioria dos milionários tenha por hábito fazê-lo).
Martin Amis não é velho mas também não vai para mais novo (n. 1949). Não sei se no caso dele a idade virá ao caso, mas a forma como critica Saramago em O Segundo Avião faz prova de uma nonchalance só admissível a partir dos cinquenta e muitos.
Cita-o (“Ah, sim, os horrendos massacres de civis causados pelos chamados terroristas suicidas… Horrendos, sim, sem dúvida; condenáveis, sim, sem dúvida, mas Israel ainda tem muito a aprender se não é capaz de compreender as razões que podem levar um ser humano a transformar-se numa bomba.”), mas só para não o poupar: “E se formos ouvir a retórica do delírio e da auto-hipnose, então mais vale que a ouçamos de um laureado de Estocolmo (…) [cuja] linhagem da prosa (…) na verdade é a mais pura e empertigada grandiloquência (poderia chamar-se-lhe nobelês).”
O mais radical encolher de ombros à opinião alheia, vai, porém, para Francis Bacon que, quando interrogado sobre pintura abstracta, respondeu (cito de memória): “É assim como o padrão dos sofás. Fica bem na sala…”.