Mostrar mensagens com a etiqueta URSS. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta URSS. Mostrar todas as mensagens

12/01/13

O irracionalismo e as campainhas de Pavlov: um exemplo


 
Nos últimos dias ocorreu no 5 dias mais uma polémica um tanto ou quanto paradigmática de sectores da esquerda portuguesa. A propósito de um concurso de blogues, o Renato Teixeira apelou ao voto naquele blog recorrendo a um vitral com Marx, Engels, Lenine e… Trotsky. Não vou comentar a figura do Trotsky que aparte a sua criatividade nos primeiros anos do século XX (vd. primeira versão da revolução permanente) e da épica "História da Revolução Russa", não me inspira propriamente admiração ou simpatia. Aliás, para quem se interessa sobre as concepções que Trotsky praticou nos primeiros anos da Revolução soviética e em que as experiências de militarização do trabalho foram só um aspecto entre outros basta ler a obra “Terrorismo e comunismo”, em especial o capítulo intitulado “Problemas da organização do trabalho”.

Mas o que me interessa realmente comentar e identificar são três aspectos de como a esquerda nacionalista e trauliteira aborda as questões políticas, o património das várias correntes e a materialidade dos processos sociais e políticos. E, a este título, as respostas na caixa de comentários são cristalinas sobre o que realmente motiva os stalinistas na sua actuação quotidiana.

1) Em primeiro lugar, toda a discussão que a esmagadora maioria dos comentadores levou a cabo é puramente iconoclasta. Isto é, a discussão política é substituída pelos insultos e pelo valor facial da imagem de um qualquer “renegado” que tanto podiam ser figuras tão diferentes como o Trotsky, o Malatesta ou o Makhno. Basta aparecer a “fuça” de uma qualquer persona non grata para que as campainhas de Pavlov toquem… Uma discussão de café sobre futebol consegue ser mais racional e sensata.

2) Por outro lado, a abordagem às figuras históricas e aos processos políticos do passado (e do presente) é claramente sectária e fanática. Quando os comentadores se atiram enraivecidamente só porque se colocou a imagem de alguém que não cabe na curta caderneta de cromos dos sectários isso só demonstra uma atitude de cega guarda ao seu Graal. Como comecei por apontar acima, nem se trata aqui do Trotsky, mas dos urros proferidos pelos que orgasticamente rejubilam com assassinatos e perseguições. Se esta gente estivesse no poder ficaríamos a saber qual o destino da esquerda anti-burocrática.

3) O cruzamento da abordagem iconoclasta com a sectária resulta numa ausência de reflexão sobre o que realmente foi a economia e a política da URSS e das experiências socialistas. Para os stalinistas a análise histórica confunde-se com a geopolítica e com a glorificação da liderança suprema de Stáline. Como a riqueza foi produzida, apropriada e distribuída ou como funcionaram os mecanismos de tomada de decisões políticas, nada disso lhes interessa. Como nada lhes interessa que as experiências no Leste se alicerçaram na repressão das iniciativas democráticas e de controlo da produção pelos trabalhadores.
O irracionalismo chega para preencher os buraquinhos daqueles cerebrozinhos de queijo.