05/01/11

Como transformar a política de uns em ciência de todos

No sentido em que uma coisa é exemplar de algo e não no sentido em que tudo o que é exemplar é necessariamente um bom exemplo (deve haver uma maneira mais fácil de dizer isto...), este post do Pedro Lains é exemplar. O argumento, que me perdoem se estou a caricaturar, é o seguinte: grande parte das coisas que se passam à nossa volta é obra de mercados e não de políticos, de modo que a atribuição de culpas a este ou aquele político é um exercício que tende a ser inútil. Eu, confesso, em parte até concordo, na medida em que os esquemas da infraestrutura e da superestrutura, em que lá em cima está o tiroliroli e lá em baixo está o tiroliroló, ainda me dão jeito de quando em vez, sendo que o post até apresenta um exemplo que me parece muito razoável enquanto tentativa de demonstração do que pode ser uma boa análise histórica: apela o post a que compreendamos que o que se passou entre 1950-1973 com a economia portuguesa foi obra da integração europeia e não de Salazar e Caetano. Este exemplo, repito, parece-me feliz, sobretudo face a exercícios historiográficos recentes, em que se regista uma tendência para considerar tudo o que de bom acontece durante o período do Estado Novo como sendo mérito do regime e tudo o que de mal sucede durante o PREC como sendo culpa do novo regime, do Vasco Gonçalves e do poder popular, em qualquer dos casos atirando às urtigas as chamadas circunstâncias externas; mas, ainda assim, toda a lógica do post, incluindo o exemplo, parece viciada por uma das suas conclusões: “Claro que tem de haver política, mas a história pode mostrar a quem quiser ver que a boa política segue a boa economia e não o contrário”. Ora, o que a gente pergunta, muito ingenuamente, é se a dita da integração europeia não foi também obra de políticos? O que na verdade parece acontecer é que o Pedro Lains faz passar a sua opção política por ciência económica. Separar o que é da política e o que é da economia não me parece ser o caminho mais avisado, tanto historiográfica como politicamente. Mas isto sou eu que acho que a economia é uma ciência social e humana.

2 comentários:

António Geraldo Dias disse...

Cuidado,Zé Neves,a má moeda expulsa a boa moeda...

António Geraldo Dias disse...

Os ensinamentos do passado estão a ser usados pela generalidade dos responsáveis políticos e compreendidos pela maioria dos eleitorados e das opiniões públicas.
Lições da Grande Depressão de 1929-1933,Pedro Lains.