27/02/16

O "cartaz"

Nos últimos dois dias tem dado que falar a imagem publicada pelo Bloco de Esquerda com a tal conversa de "Jesus também tinha dois pais".

Em primeiro lugar, essa imagem tem sido nalguns meios referida como um "cartaz" - ao que tuda aponta, não é cartaz nenhum, nem que seja porque já está a ser colado outro cartaz sobre o assunto, e creio que o BE nunca teve dois cartazes simultâneos (o que indica que só havia mesmo o outro cartaz).

Mas agora há a a questão - essa imagem/pseudo-cartaz era oportuna? Sinceramente, acho que não; há uns anos atrás faria todo o sentido: o recurso a propaganda irreverente e potencialmente polémica ou controversa é das melhores maneiras de chamar a atenção para questões minoritárias e fora do mainstream, e abrir a discussão sobre o assunto. Mas não é disso que estamos a falar - estamos a falar de um lei que até já está aprovada, não de nenhuma questão ignorada que se queira chamar para a ribalta. Aliás, a própria ideia de organizar uma campanha de propaganda a celebrar a aprovação de uma lei (em vez de há volta de algum objetivo ainda a atingir, que justifique e necessite de mobilização) parece-me uma ideia muito discutível.

Finalmente, mais uma observação - eu sei que esse slogan, de que Jesus tinha dois pais, há muito que faz parte das campanhas a favor do direito dos casais homossexuais a adotarem; mas acho que não faz grande sentido - o caso de Jesus é o típico caso de um senhor importante engravidar às escondidas uma rapariga, que, até para não ficar como mãe solteira (com todas as repercussões em termos de moral social dominante), arranja um marido que finge ser o pai (e com o referido senhor importante a usar os seus contactos e influência para o convencer a desempenhar o papel); não é uma situação de uma criança criada e educada por dois pais (creio que a Bíblia é largamente omissa sobre esses anos, mas penso que nada indica que o seu pai biológico tenha tido grande papel na sua infância e adolescência).

3 comentários:

Piorquemao disse...

Eu até explicava porque me rio dos ditos ofendidos mas não consigo,... ainda estou a rir da imagem,...

José Guinote disse...

Miguel, o cartaz é um disparate. Pelas razões aduzidas pela Marisa Matias e sobretudo pelo Miguel Vale de Almeida. O BE deve aproveitar bem o dinheiro que tem e os deputados e assessores de que dispõe, para fazer coisas úteis. Poupar em cartazes, sobretudo destes, e investir em trabalho para mudar as injustiças. Mudar as Leis que estão péssimas, com propostas bem reflectidas e bem defendidas. Há muito trabalho para fazer. Aproveitem melhor o dinheiro que ganham.

L disse...

O marketing político no seu melhor. Toda a gente a discutir estratégias de marketing, públicos-alvo, nichos de mercado, penetração da mensagem, adequação do produto e outras merdas habituais em reuniões de empresas da especialidade. Mais um episódio da política do consumo.