25/12/18

23/12/18

O Paul Krugman deveria ler mais

No seu artigo, The Case for a Mixed Economy, Paul Krugman escreve:
 I’ve had several interviews lately in which I was asked whether capitalism had reached a dead end, and needed to be replaced with something else. I’m never sure what the interviewers have in mind; neither, I suspect, do they. I don’t think they’re talking about central planning, which everyone considers discredited. And I haven’t seen even an implausible proposal for a decentralized system that doesn’t rely on price incentives and self-interest – i.e., a market economy with private property, which most people would consider capitalism.
Coisas que o Krugman poderia ler:
O primeiro é a descrição de uma economia descentralizada, com incentivos de preços, interesse próprio e uma economia de mercado, mas sem propriedade privada dos meios de produção; o segundo até poderá ser visto como uma economia com isso tudo (incluindo a propriedade privada dos meios de produção, com a exceção da terra), mas mesmo assim demasiado diferente daquilo a que normalmente se pensa quando se fala em capitalismo; no terceiro, são apresentadas várias modalidades de organização social, mas o tema dominante é o de uma economia descentralizada sem propriedade privada nem dinheiro.

Poderá dizer-se que tanto o socialista autogestionário como o mutualismo como o anarco-comunismo são absurdos ou impossíveis de realizar, mas Krugman vai mais longe - ele diz que nunca viu mesmo uma proposta implausível para uma economia descentralizada não-capitalista (e parece-me claro que propostas - e até bem pormenorizadas - até existem, independentemente de serem plausíveis ou não).

Estas abaixo não sei se contarão - em rigor, talvez sejam melhor descritas como economias centralizadas mas sem uma autoridade centralizada - mas a título de bónus cá vão:

22/12/18

Poligrafando o Polígrafo

O "Polígrafo" parece ter um padrão - pegar num assunto que é ou está a ser falado, e fazer um artigo, não sobre esse assunto, mas sobre um assunto parecido, e depois dar a sua sentença de "falso" ou "verdadeiro" sobre isso (quando não é sobre isso que se está a falar, e portanto interessa pouco se isso é "falso" ou "verdadeiro").

Agora é com o Pai Natal - hoje decidiram que a prioridade seria desmentir a fake news que o Pai Natal seria uma invenção da Coca-Cola para uma campanha publicitária; mas acho que a história que circula há décadas (acho que a ouvi pela primeira vez em 95 ou 96) não é de que o Pai Natal é uma criação da Coca-Cola, é de que a cor vermelha do Pai Natal é uma criação da Coca-Cola e que antes eles seria verde ou roxo (mesmo hoje ao almoço tive uma conversa sobre isso) - e lendo o artigo dificilmente se chega a alguma conclusão sobre isso.

Sim , eles dizem que "O grande responsável pela imagem de um Pai Natal barbudo, bonacheirão, trajado de vermelho e branco, chama-se Thomas Nast, um cartoonista que nada tinha a ver com a Coca-Cola ", mas a ilustarção que depois mostram é - como seria de esperar num desenho num jornal em 1863 - a preto e branco.


Já antes tiveram um episódio semelhante com o PAN e os provérbios com animais.

Primeiro, publicaram um post com o título "O PAN quer acabar com provérbios como pegar o touro pelos cornos?" e dizendo "Verdadeiro"; pouco depois alteraram o título para "O PAN apoia o fim dos provérbios com animais?", mas mantendo tudo o resto igual (hum..., um site de fact checkers para combater notícias falsas ter que mudar o título dos seus artigos porque o primeiro não era muito rigoroso é mau sinal...).

Mas de qualquer maneira, manteve-se o que me parece o problema principal: sim, é verdade que o PAN e a PETA querem que se deixe de usar provérbios a falar de animais, o que literalmente pode ser interpretado como "O PAN quer acabar com provérbios como...".

Mas para aí 99% das pessoas interpretou "PAN quer acabar..." (e substituir para "o PAN apoia o fim..." não muda muito) como "PAN quer proibir..." (e foi essa versão que circulou nas redes sociais- exemplo), o que não é o caso - os responsáveis do PAN disseram explicitamente que não querem fazer nenhuma lei sobre o assunto; já agora, ao que parece a campanha da PETA também não é para proibir essa expressões mas é apenas uma campanha sugerindo aos professores que ensinem as expressões alternativas às crianças.

Atendendo à ambiguidade da expressão "quer acabar" (e ainda mais havendo já a circular uma "fake new" que interpreta "quer acabar" como "proibir") ou mesmo "apoia do fim" talvez fizesse mais sentido "Verdadeiro, mas...".

De qualquer forma, parece-me o mesmo padrão - fazer um artigo não a esclarecer a questão em que há a grande polémica ("o PAN quer proibir provérbios?", "a cor vermelha do Pai Natal é uma criação da Coca-Cola?") para uma questão adjacente ("O PAN é contra os provérbios?", "O Pai Natal é uma criação da Coca-Cola?"), o que paradoxalmente até pode criar mais confusões - porque algumas pessoas podem ler o "verdadeiro" ou "falso" a respeito da questão adjacente, e julgarem que também se aplica à questão principal.

21/12/18

A política militar de Trump

A respeito do anúncio da retirada das tropas norte-americanas da Síria (e provavelmente também do Afeganistão) e da demissão do seu "ministro da Defesa", e das reações dos "fazedores de opinião" a isso, repito o que já disse algumas vezes: muita gente o que mais se incomoda com o Trump são as poucas coisas boas que ele faz.

Porque há poucos fundos de greve em Portugal?

Já muito se falou da oposição do PCP à ideia de grevistas receberem enquanto fazem greve (e pelas declarações do Jerónimo de Sousa, parece que o problema não é só com esses fundos serem financiados via internet, ou mesmo com haver qualquer espécie de recolha de fundos que não as quotas sindicais - parece mesmo uma objeção de princípio aos fundos de greves, como uma conversa sado-masoquista de que o sacríficio da greve aumenta a consciência de classe).

Mas isto levanta uma discussão - porquê a raridade dos fundos de greve em Portugal (e, claro está, a raridade das campanhas de recolha de dinheiro, que só fazem sentido se houver fundos de greve)?

Veja-se que esses fundos são algo que existe largamente nos outros países e há quase 200 anos (não é difícil encontrar referências em literatura do século XIX).

Uma hipótese é que seja resultado da baixa sindicalização em Portugal, que faz com que haja pouca gente a descontar para fazer o tal fundo; ainda por cima a lei portuguesa proíbe a "closed shop" (isto, acordos laborais estipulando que a empresa só contrata trabalhadores filiados naquele sindicato), o que se existisse seria um incetivo à existência de fundos de greve (a partir do momento em que todos os trabalhadores da empresa X têm que descontar para o sindicato Z, começa a fazer um certo sentido para o sindicato criar um sistema em que na prática os fura-greves acabam por ser obrigados a subsidiar os grevistas). No entanto, mesmo em setores e/ou épocas com elevados graus de sindicalização não se ouviu falar muito em fundos de greve (e, de qualquer maneira, se é um problema de haver poucos sindicalizados a descontar para fundos, poderia-se criar fundos que também só reembolsariam os sindicalizados - era menos a entrar mas também menos a sair).

Eu suponho que é um subproduto da raridade em Portugal de greves prolongadas ("à americana"?) - aquele tipo de greve que dura até se chegar a um acordo; parece-me que em Portugal a tradição é mais a das "jornadas de luta" - greves de um ou dois dias, para mostrar "vejam como os trabalhadores estão unidos e combativos!" (veja-se aliás a importância que tem a batalha dos números sobre a adesão às greves, que é indicativa do papel de combate ritual-simbólico que a greve tem: interessa menos saber quanto prejuízo real a greve causou e mais quanto gente fez greve; é quase como se a greve fosse uma mega-sondagem)

Um aparte - além de todas aquelas greves que ouvimos falar, chegam aos serviços de recursos humanos (pelo menos na administração pública) muitos mais pré-avisos de greve da CGTP ou da Frente Comum dos Sindicatos da Função Pública: sempre que há uma manifestação em Lisboa ou nas principais cidades, esses sindicatos mandam pré-aviso de greve semi-fictícios para justificar a falta de quem for à manifestação (eu em tempos trabalhei em recursos humanos e, na sequência de esse pré-aviso ter chegado, presenciei esta conversa entre uma delegada sindical e uma colega minha que estava a perguntar que greve era aquela: Delegada Sindical: "O pré-aviso é para se quiseres ir a manifestação, vais a Lisboa  coberta pela greve"; Colega: "Não, eu só vou a Lisboa coberta pela meu marido"). Mas dá-me a ideia que não são só estas greves (que ninguém houve falar) que são para fazer manifestações - mesmas as greves para serem mesmo feitas têm mais uma função propagandística que outra coisa qualquer.

E suspeito que isso é o resultado da estratégia dos partidos que controlam grande parte dos aparelhos sindicais, a começar pelo PCP: o objetivo das greves (quando esses partidos estão na oposição) é sobretudo fazer a vida difícil ao governo do momento e criar condições para que os partidos que dominam os sindicatos em questão tenham maior representação parlamentar na eleição seguinte; a vitória em si, no sentido de obrigar o patronato ou o governo a ceder às reivindicações é secundário (e interessa só na medida em que a greve tem que ter alguma probabilidade de sucesso porque senão ninguém a faz) - e reveja-se as declarações do Jerónimo, no momento em que ele diz que a greve com sacrifício contribuiu para desenvolver a sua consciência política. Basicamente, muitas das greves portuguesas não sem nem greves reformistas como nos EUA e nos países da Europa do Norte (em que as greves até podem ser muito mais duras, mas em tornos puramente de objetivos materiais dentro do sistema), nem greves revolucionárias para derrubar o governo ou mesmo toda a ordem estabelecida - são simplesmente ginástica ideológica, feita não para uma vitória imediata (seja reformista ou revolucionária), mas para "acumular forças", "desenvolver a consciência", etc (ou seja, fazer com que depois da greve haja mais pessoas a simpatizar com a ideologia dos promotores da greve do que antes). E para isso, as greves de dois dias servem - mantêm o pessoal agitado sem se emburguesar e até têm as vantagem adicionais de não hostilizarem muito a opinião pública (o que poderia representar votos para a direita na tal eleição seguinte) e também a de não precisarem de ser ganhas: uma greve permanente até haver um acordo normalmente acaba com uma vitória (caso o patronato ceda) ou uma derrota (caso o sindicato decida suspender a greve sem obter as reivindicações). Pelo contrário, uma greve intermitente de um dia ou dois pode não atingir os seus objetivos que ninguém acha isso uma derrota do sindicato, já que dá para o cenário de " a luta continua", com os sindicalistas e os seus partidos a falar do assunto, fazer umas mini-greves e a capitalizar com ele durante anos.

Assim, do ponto de vista da promoção política, greves ocasionais de dois dias fazem mais sentido do que greves permanentes até haver um acordo - no primeiro caso, há quase 100% de hipóteses dos sindicalistas e dos seus partidos ganharem protagonismo e influência (só perdem caso convoquem uma greve e esta tenha visivelmente uma adesão muito reduzida); no segundo, há 50% de hipóteses de perderem essa influência e protagonismo (em caso de derrota de uma greve prolongada, é suficiente para abalar a carreira de um líder sindical), e nem estou certo que os 50% de vitória garantam muito mais protagonismo a longo prazo do que estar à frente de lutas que não atam nem desatam (ironicamente, se vermos a coisa do ponto de vista dos partidos e não dos sindicalistas individuais, até é possível que uma luta que se arrasta durante anos com greves episódicas dê mais votos que uma luta vitoriosa - para quê votar no partido tal nas eleições se o problema já foi resolvido?).

12/12/18

O Plano Nacional de Vacinação - decisão técnica ou política?

A decisão da Assembleia da República de incluir mais algumas vacinas no Plano Nacional de Vacinação levantou muitas objeções, de que o parlamento não teria nada que se meter em decisões técnicas. Será mesmo assim?

Vamos lá ver -  que razões técnicas poderão haver para não se incluir uma dada vacina no Plano Nacional de Vacinação? À primeira vista, poderá-se imaginar estas:

a) A dita vacina, pura e simplesmente, não fazer efeito

b) A vacina fazer pouco efeito (isto é, muita gente que toma a vacina acaba à mesma por desenvolver a doença)

c) O risco de apanhar a doença que a vacina em causa previne é muito baixo à partida

d) A vacina contra a doença A pode aumentar a probabilidade de contrair a doença B (p.ex., li algures que a vacinação contra a varicela nas crianças pode aumentar a probabilidade de infecções por herpes zoster nos adultos, ou coisa parecida)


Mas, se vermos bem, apenas o motivo a) e talvez o d) são motivos puramente "técnicos" para não incluir uma vacina no PNV - no caso de b) e c), incluir ou não incluir a vacina no PNV já implica fazer um juízo valorativo sobre se a redução de riscos compensa o dinheiro que se vai gastar com as vacinas, o que me parece uma decisão política e não puramente técnica (a função dos técnicos aí será sobretudo informar os decisores políticos - sejam eles o parlamento, o governo ou um hipotético referendo nacional cibernético - dizendo algo como "por um custo de X euros/anos, iremos ter menos Z pessoas doentes  por ano; agora decidam vocês se vale a pena"). Mesmo no caso d), de haver o risco de vacinar contra uma doença aumentar o risco de contrair outra, pode haver situações em que se imponha o tal juízo valorativo e não apenas técnico; p.ex, imagine-se que uma vacina reduzisse em 80% a probabilidade de contrair uma doença de risco mediano e aumenta em 30% a probabilidade de contrair uma doença grave - decidir se o risco ultrapassa o benefício nesse caso já me parece uma decisão mais política nesse caso.

Poderá perguntar-se se nessas questões que implicam fazer um juízo valorativo (vale a pena gastar muito dinheiro para prevenir um pequeno risco? vale a pena evitar a doença A mas aumentar o risco de contrair a doença B?) a decisão, mais do que técnica ou política não deveria ser individual (afinal, esses juízos têm muito de subjetivo) - estilo dar às famílias ou dinheiro que se gastaria com essas vacinas polémicas (p.ex., sob a forma de abono de família) e depois cada um decidiria se valia a pena pagar pela vacina ou gastar o dinheiro noutra coisa qualquer. Isso talvez faça sentido nalgumas situações, mas há pelo menos duas razões que justificam uma componente de decisão coletiva e não apenas individual nas vacinas: a principal é que a decisão de um individuo vacinar-se ou não por regra não o afeta só a ele - uma pessoa não vacinada representa um perigo também para as outras pessoas; e além disso, grande parte das decisões sobre vacinas são feitas numa idade em que o individuo a ser vacinado ainda não é autónomo (ou se calhar ainda nem fala ou anda), sendo tomadas pelos seus pais ou equivalentes e não pelo interessado principal.

01/12/18

Importantes mudanças em curso.

Angola está a mudar a partir do interior do MPLA e da sua liderança. João Lourenço está a fazer uma revolução a partir da Presidência da República. O discurso na abertura da 6ª sessão do comité central do MPLA é uma peça política que sinaliza essa transformação. A sociedade angolana vai democratizar-se e vai progredir. Haverá mais justiça social e menos desigualdade. O combate à corrupção, que durante décadas canibalizou os recursos de todos em favor de alguns influentes "camaradas", é o catalizador dessa mudança. Chegará o tempo em que o MPLA será substituído no poder. Mas, aí chegado, deixará um país mais democrático e mais próspero, melhor governado. Não é coisa menor, antes pelo contrário: João Lourenço meteu mãos a uma tarefa colossal. A sua coragem política parece ser capaz de rivalizar com a sua determinação tranquila e até suave. Um nome para a galeria dos grandes dirigentes africanos.

30/11/18

Interidentitarianismo proletário?

Henrique Raposo, no Expresso, escreve ("Graus de dor") que:
"A divisão de classe é a mais profunda de todas; é mais forte do que a questão racial, de género ou sexual, diz Quarry. Concordo. Mas a classe pode ser uma bênção paradoxal. Um negro pobre sofre mais por ser pobre do que por ser negro. Um gay pobre sobre mais por ser pobre do que por ser gay. Uma mulher pobre sofre mais por ser pobre do que por ser mulher. Eu não sou gay, negro ou mulher, mas sinto empatia imediata por estas personagens, porque partilham comigo um traço comum, a pobreza, o coming out enquanto filho ou filha de pobres. A pobreza, ao contrário das causas do politicamente correto, une diferentes homens e mulheres debaixo da mesma empatia."
Em primeiro lugar, um disclaimer - reconheço que tenho pouco autoridade para falar destas questões da opressão, porque (ao contrário do Henrique Raposo, que ao menos vem de famílias pobres), eu venho de uma coleção de privilégios: branco, homem, heterossexual, classe média-alta. O único aspeto em que se poderia dizer que eu poderia pertencer a um grupo desfavorecido seria a minha introversão (acerca do que poderíamos chamar "introvertion gap", ver aqui ou aqui), mas essa dimensão não costuma ter (pelo menos abertamente) relevância nas divisões políticas.

Mas o raciocínio de que  "a pobreza, ao contrário das causas do politicamente correto, une diferentes homens e mulheres debaixo da mesma empatia" (e até de que isso será uma bênção paradoxal) fará sentido? A mim parece-me que não há qualquer diferença entre a pobreza e qualquer outra categoria de desfavorecimento social nesse aspeto:  imagine-se que um negro pobre sofria mais por ser negro do que por ser pobre - ia poderíamos à mesma dizer que isso unia diferentes homens e mulheres debaixo da mesma empatia, já que criava algo em comum entre negros pobres e não-pobres (e um colunista negro de classe média poderia escrever, a respeito dos negros de outras classes sociais, sexos ou orientações sexuais, "Eu não sou gay, pobre ou mulher, mas sinto empatia imediata por estas personagens, porque partilham comigo um traço comum, a experiência da discriminação racial. A cor da pele, ao contrário das causas do marxismo, une diferentes homens e mulheres debaixo da mesma empatia.") Ou então o caso da "brigada do vison", as mulheres da alta sociedade novaiorquina que há uns 100 anos apoiavam as grevistas da indústria têxtil (em que portanto a categoria "sexo" levou-as a empatizar com mulheres de outra classe social)? Ou a fama que a subcultura gay tinha de um ambiente onde se juntavam homens de todas as origens sociais? Parece-me que essa espécie de internacionalismo interidentitarianismo proletário que Henrique Raposo está a evocar ("marxismo azul"?) não é algo especial, mas uma variante de um fenómeno mais vasto que pode acontecer com qualquer outra dimensão.

Generalizando, se alguém têm simultaneamente as características A, B e C, qualquer uma delas pode ser vista como uma categoria que une em vez de dividir - se a categoria A for a mais importante para a vida dessa pessoa, isso contribui para criar empatia com outras pessoas que também apresentam a característica A mas não as B ou C; mas se a mais importante for a B, é exatamente a mesma coisa - essa pessoa vai sentir empatia com outras pessoas que também tenham a característica B, mesmo que não tenham a A ou a C; e o mesmo para quem o mais importante seja a C. Seja qual for a característica mais importante na nossa vida, isso vai contribuir para empatizarmos com as pessoas que têm essa característica, mesmo que não tenham outras características que nós temos.

Pode-se argumentar que a pobreza une mais que a raça, sexo, orientação sexual, etc. porque os pobres são um grupo numericamente mais numeroso que a maior parte das outras "categorias oprimidas", logo se a pobreza for o ponto principal de sofrimento, isso vai-te fazer empatizar com mais gente, mas isso não acaba por ser largamente incidental? Afinal, poderíamos ter perfeitamente uma sociedade em que houvesse outros "grupos oprimidos" demograficamente maiores que os pobres (p.ex., não me surpreenderia se na África do Sul do apartheid houvesse mais negros do que pobres); e mesmo na sociedade ocidental atual, se se considerar que as mulheres são um grupo discriminado, serão uma categoria numericamente muito maior que os pobres (um aparte - quando, na altura de escrever o post, estava a pensar em exemplos de outras categorias que também unissem pessoas de origens diferentes, o primeiro exemplo que me ocorreu foi o a da "brigada do vison"; será coincidência ser também aquele em que a categoria em questão abrange mais gente?).

Já agora a teoria implícita de que as "causas do politicamente correto" não unem pessoas diferente também me parece idiota por outra razão - porque aqueles movimentos cujos detratores chamam "politicamente correto" ou "identity politics" sempre seguiram (mesmo antes da palavra "interseccionalidade" ter entrado na moda) a linha da aliança dos oprimidos, a ideia de que os vários grupos oprimidos ou discriminados são aliados naturais contra o poder da elite branca, rica, masculina, heterossexual, cis-género, etc, etc. (outro aparte - as mesmas pessoas que de manhã acusam os movimentos "politicamente corretos" de serem "identitários" e de quererem dividir as pessoas em grupos separados, à tarde ficam chocadas com slogans estilo "Gays for Palestine"). Isso é ainda mais relevante se termos em atenção que não é raro os maiores preconceitos contra grupos desfavorecidas virem até mais de outros grupos desfavorecidos do que das elites (até há uma espécie de variante da "lei de Murphy" sobre isso), algo que os ativismos "politicamente corretos" costumam tentar combater (até pelo desejo de ter a maior coligação possível do seu lado) - veja-se, por exemplo, a popularidade crescente (pelo menos no mundo anglo-saxónico) da expressão "pessoas de cor" (que por vezes até é usada incluindo minorias étnicas brancas, como judeus ou imigrantes gregos); admito que é discutível se isso tem algum impacto na realidade, ou se só influencia uma minoria de ativistas, enquanto vastas minorias silenciosas continuam a odiar a outra minoria étnica do lado (e ambas a votarem "não" nos referendos sobre o casamento de pessoas do mesmo sexo, e a baterem nas mulheres em casa), mas se assim o for é apesar do "politicamente correto" (que passa a vida a dizer que as minorias devem estar todas do mesmo lado), não por causa de.

29/11/18

Finalmente um momento de lucidez

Este post estava para ter como título o seguinte: "Where are you Mr Corbyn?". O desaparecimento do líder trabalhista, face ao desastre em que se transformou a negociação final do Brexit conduzido pela atarantada senhora May, chegou a parecer chocante. A contradição que manietou Corbyn tranformou o líder trabalhista numa caricatura algo grotesca daquilo que a sua acção política parecia anunciar. Corbyn quer o sol na eira e a chuva no nabal, quer os eleitores que votaram no Remain and Reform - pelo qual ele se bateu, com pouca convicção percebe-se agora - e aqueles que votaram no Leave e que são maioritários em áreas menos urbanas em que os trabalhistas são dominantes.
A proposta que Corbyn defende de um Brexit que preserva os direitos dos trabalhadores e as questões ambientais é uma brincadeira já que a UE não o irá admitir. A UE apenas é reformável a partir de dentro e sendo essa mudança liderada por um peso pesado. Como é o caso do Reino Unido, uma das maiores economias do mundo e um dos países mais desiguais à face da Terra. Era por isso que a campanha pelo Remain and Reform fazia tanto sentido.

Ainda faz. Clarificada esta questão e devolvido a Corbyn a liderança perdida - se é que o seu encanto não se perdeu nesta triste inacção em que se deixou enredar - o Labour tem um programa de governo que é a única esperança real de começar a desmantelar o poder das grandes corporações que domina as estruturas da UE e oprime os seus povos. Um programa de uma social-democracia que recupera a participação do Estado na economia e o seu reforço em sectores estratégicos, como a energia e os transportes, e que concretiza uma forte redistribuição da riqueza produzida. Isto tudo servido pela politização do dia a dia dos cidadãos, pela mudança de paradigma na vida dos partidos, de que o Labour é um bom exemplo, ou melhor o único exemplo no passado recente.

Vale por isso a pena prestar atenção à declaração de MacDonnell, um velho militante anti-UE, forte apoiante de Corbyn, responsável da parte mais interessante do seu programa económico, cuja declaração é, por isso, ainda mais relevante.

25/11/18

As versões sobre o 25 de novembro

Durante muito tempo, circularam principalmente duas versões sobre o "25 de Novembro" - a direita e o centro diziam que tinha sido um (fracassado) golpe de esquerda, e esta tem sido essencialmente a versão oficial; já a extrema-esquerda radical dizia que tinha sido um (vitorioso) golpe de direita, que teria ficado à espera de algum motim nalguma unidade militar "de esquerda" (como acabou por acontecer com os paraquedistas) para lançarem um golpe há muito planeado podendo-o apresentar como se fosse um contragolpe (e colocando as autoridades da altura entre a espada e a parede - "ou proclamam a lei marcial e deixam-nos conduzir as operações, ou então vão também de virada").

No entanto, nos últimos anos, entre a direita começou a ser moda comemorar o 25 de Novembro, considerando-o como tão ou mais importante que o 25 de Abril - porque é que eu digo "no entanto"? Porque parece-me que isso só faz sentido se aceitarmos a versão da extrema-esquerda radical sobre o que foi o 25 de Novembro.

Afinal, de acordo com a versão dos vencedores, no fundo não aconteceu quase nada: houve uma tentativa de golpe contra a ordem vigente, mas esse golpe foi derrotado e o país continuou no caminho em que já estava em marcha desde pelo menos a Assembleia do MFA em Tancos (em Setembro), que afastou Vasco Gonçalves (e, na prática, o PCP, que ficou reduzido a um ministro) do governo - não foi nenhum momento de viragem. Por essa versão, comemorar o 25 de Novembro faz tão sentido como faria nos últimos anos da monarquia comemorar-se o 31 de Janeiro (revolta republicana), na I República, a partir de 1920 comemorar-se o 13 de fevereiro (derrota da Monarquia do Norte), no Estado Novo comemorar-se o 18 de janeiro (revolta anarco-sindicalista e comunista contra os "sindicatos nacionais"), ou na antiga União Soviética comemorar-se o 18 de março (derrota dos revoltosos de Kronstadt) ou nos EUA o 9 de abril (rendição do exército confederado em Appomattox); até imagino que todas essas datas fossem ou sejam comemoradas, mas mais como eventos militares, não como significativos eventos políticos. Em resumo, os regimes políticos não comemoram com grande pompa e circunstância o dia em que revoltas contra eles são derrotadas.

Comemorar o 25 de Novembro como uma data tão ou mais importante que o 25 de Abril só faz sentido se se considerar que foi mesmo uma data de viragem e mudança, mas parece-me que isso só faz sentido se se aceitar uma versão parecida com a da extrema-esquerda sobre o que aconteceu nesses dias.

17/11/18

Mais coisa menos coisa o valor do Resgate, não foi?

Há histórias que nunca nos contam. Temos que ser nós a descobrir. A infantilização dos cidadãos leva a que possamos ser tratados como crianças. Podem então os nossos governantes evitar falar connosco de certas coisas: "isso não são histórias que se contem às criancinhas".

A única novidade da  notícia é a quantificação: 69 mil milhões de euros. Que número tão jeitoso. Há um lado inequivocamente libidinoso na economia da austeridade.

15/11/18

Palpite

A Itália vai sair da UE antes do Reino Unido

14/11/18

"Oligarquização" no Bloco de Esquerda?

Em primeiro lugar, declaro que apoiei a moção A para esta Convenção, já que, apesar de tudo, considerei que era a melhor linha no conjunto da estratégia do Bloco de Esquerda.

No entanto, há uma evolução que acho péssima - algumas alterações aos estatutos aprovadas, nomeadamente a revogação do artigo dos estatutos que determinava que: o "secretariado nacional e os secretariados das comissões coordenadoras concelhias, distritais e regionais que vierem a ser eleitos são sempre renovados em pelo menos um terço dos seus membros" e que "Nenhum dos seus membros exercerá funções por mais de dois mandatos consecutivos."

Isso é abrir a porta para o surgimento de uma casta de dirigentes que se perpetuem nos cargos, e ainda mais marcante no contexto de um partido que se destacou na luta contra os dinossauros autárquicos (e que portanto percebe bem a necessidade de regras a limitar a perpetuação em cargos, já que, por mais democrática que seja uma eleição, quem já está no poder tem sempre alguma vantagem). É verdade que em pequenos concelhos pode se difícil arranjar pessoas para ir rodando os membros dos secretariados, mas a nível distrital e sobretudo nacional duvido que esse problema exista (e em núcleos extremamente pequenos talvez fosse de equacionar em vez disso a possibilidade de não haver secretariado formal); e, além disso, é estranho que seja quando o partido parece estar a crescer (e portanto esse problema menos se colocaria) que se decide acabar com a limitação aos mandatos.

Há outra alteração que inicialmente me pareceu pior do que é, mas também não me tranquiliza - a substituição da regra que dizia que "A MN será composta, no momento da sua eleição, por um mínimo de 50% de membros que não sejam deputadas ou deputados, nacionais ou europeus, funcionárias ou funcionários do Bloco, ou exerçam cargos remunerados de assessoria a representantes eleitas e eleitos pelo Movimento." por "A MN será composta, no momento da sua eleição, por um mínimo de 60% de membros que não sejam  funcionárias ou funcionários do Bloco, ou exerçam cargos remunerados de assessoria a representantes eleitas e eleitos pelo Movimento"; inicialmente não reparei na mudança de 50% para 60% mas apenas na parte dos deputados deixarem de contar, e pareceu-me que serviria apenas para haver mais funcionários e assessores nos órgãos dirigentes (se há um limite para o número de deputados + funcionários + assessores, e os deputados deixam de contar, sobram mais lugares para funcionários + assessores); vendo melhor, não é necessariamente assim, já que por outro lado o máximo de funcionários+assessores baixou de 50% para 40%, portanto nesse ponto não é claro qual o efeito líquido dessa alteração - mas de qualquer maneira abre caminho a meter, se não mais funcionários, pelo menos mais deputados na Mesa Nacional. Isso provavelmente é feito a pensar na elevada probabilidade de eleger mais deputados nas próximas eleições, mas de qualquer maneira parece-me um passo para ter na Mesa mais profissionais da política e menos cidadãos comuns, com a sua vida e profissões, e que uma (?) vez por mês se metem no comboio para ir à reunião (e, aliás, talvez reforçando a tendência para o Bloco se concentrar no trabalho parlamentar e descurar a ação política nas ruas, bairros, locais de trabalho, etc.).

Uma nota final - poder-se-á perguntar porque é que eu só escrevo isso agora; afinal, antes da convenção o Bloco publicou dois cadernos de debates para onde os aderentes podiam mandar as suas contribuições; não teria feito melhor figura ter mandado este texto (adaptado ao momento) para lá antes da Convenção, para um sitio e numa altura em que ainda poderia influenciar alguma coisa em vez de escrever um post num blogue na semana a seguir, quando já não vai afetar nada? E realmente tinha feito melhor figura, mas só me lembrei que poderia ter apresentado um texto para os Debates agora, quando estava a escrever este.

07/11/18

As votações de ontem nos EUA

A respeito das votações tinha falado ontem:
Quanto à Alexandria Ocasio-Cortez, teve 78%, mais 3 pontos percentuais que os 74,8% os Democratas tinham tido em 2016.

06/11/18

As votações de hoje nos EUA

Como de costume, hoje há mais uma carrada de referendos nos EUA; entre eles temos:
Além disso, a título de curiosidade poderá ser de se ver os resultados no Distrito 14 de Nova Iorque, que era (e ainda é) representado no Congresso pelo presidente do grupo parlamentar dos Democratas, Joe Crowley, mas onde este foi derrotado nas primárias pela "insurgente de esquerda" Alexandria Ocasio-Cortez; ainda que a relevância seja puramente simbólica, será interessante ver se ele consegue mais ou menos do que os 74,8% que Crowley em 2016.

02/11/18

Sérgio Moro e outros ministros

Helena Matos parece achar que a nomeação de Sérgio Moro por Bolsonaro é equivalente à nomeação de um juiz da Audiencia Nacional (creio que o Supremo lá do sítio) para o governo espanhol.

Mas há uma diferença, pelo que vejo - o Moro está conotado com um processo judicial que objetivamente terá contribuído para a vitória de Bolsonaro (podendo levantar questões do tipo "a mulher de César...", a respeito da sua isenção nesse processo - toda a polémica com a nomeação do Moro anda à volta disso); já o Grande-Marlaska (de quem eu nunca tinha ouvido falar) não parece (pelo menos pelo que diz no artigo que Helena Matos linka) estar associado a processos relevantes (pelo menos relevantes ao ponto de serem referidos no perfil) que tenham beneficiado o PSOE (os processos relevantes dele parecem ter sido em casos contra a ETA, o que, no momento atual - em que o PSOE está aliado aos separatistas - até contaria como processos desfavoráveis ao atual governo).

29/10/18

E se falássemos um pouco de política?

"O que distingue a esquerda da direita é o caminho que escolhemos para reduzir o défice".

Declaração do Secretário Geral do PS e primeiro-ministro de Portugal, António Costa, ontem numa acção com militantes socialistas em Almada.

A direita moderada face à extrema-direita - as três fases

Fase 1 -  enquanto a extrema-direita tem poucos votos: "eles são uma espécie de socialistas; sim, eles são de esquerda como vocês"

Fase 2 - quando a extrema-direita já tem votos suficientes e uma representação parlamentar grande o bastante para afetar a formação de coligações de governo: "a culpa disto é da esquerda; a extrema-direita é uma reação contra os excessos do politicamente correto"

Fase 3 - quando a extrema-direita já é a única direita capaz de ganhar eleições: "isso de «extrema-direita» são fake news divulgadas pela comunicação social esquerdista; eles são conservadores-liberais à maneira anglo-saxónica"

28/10/18

"Os imigrantes que não se identificam com os nossos valores deveriam ir-se embora"

Esta conversa parece ter ganho adeptos à esquerda nos últimos dias.

No dia em que o Brasil vira as costas à Democracia. Acerca das razões que aqui nos conduziram.

Os diagnósticos sobre as razões que levam milhões de pessoas a escolher personagens como Bolsonaro, o obscuro deputado brasileiro adepto confesso da ditadura militar brasileira, são vários. Muitas delas serão claramente erróneas, já que pretendem ignorar as responsabilidades de quem governou em nome da esquerda, eleito para qualificar a democracia e tornar a sociedade mais justa.

Há muita gente à esquerda que relativiza e minimiza a importância que a corrupção desempenhou na degradação da situação brasileira. A corrupção que com o PT atingiu níveis brutais permitiu duas coisas: manter por mais tempo o PT no poder e impedir políticas de redistribuição efectiva da riqueza produzida. O PT associou uma corrupção estrutural -que não apenas manteve como em grandes sectores ampliou e expandiu -  com um assistencialismo quanto baste. Enquanto os grandes negócios permitiam aos poderosos, e aos seus amigos petistas da classe no poder, apropriarem-se da riqueza produzida no país, o PT, generosamente, ia distribuindo algumas migalhas pelos mais pobres sem com isso mostrar vontade de alterar a sua situação estrutural. O PT foi implacável quando foi necessário retirar os pobres do caminho para avançar com os grandes eventos. Vejam-se os grandes eventos como o Campeonato do Mundo de Futebol e a "limpeza" feita para libertar os terrenos.

O PT foi um partido que evoluiu no sentido dos partidos socialistas europeus que - abrigados sob a tenebrosa bandeira da terceira via de Blair  - escavacaram a social-democracia, liquidando os objectivos de melhorar a distribuição da riqueza, promover uma maior justiça social e igualdade, uma sociedade mais justa. Bem embalados pelas "campanhas mediáticas" de promoção das igualdades de género e de respeito pelas minorias - objectivos muito importantes mas que apenas favorecem os membros das classes favorecidas, cujos direitos são reconhecidos, sem alterar as condições de desigualdade presentes na sociedade - abandonaram os objectivos de combate às desigualdades estruturais e à sua correção.  Pelo meio foram cedendo aos ditames neoliberais colaborando na destruição do estado social ou, como aconteceu no Brasil, nunca passando este de um nível incipiente.

Por isso vale a penas escutar esta conversa entre Slavoj Zizek e Owen Jones. Na verdade Trump e Bolsonaro são consequências.  É em Clinton e em Lula -. como símbolos da corrupção do socialismo democrático - que temos de encontrar as razões para tudo estar a correr tão mal. Quem recebeu o poder das mãos do povo e não foi capaz de mudar a forma como se faz a política, continuando a fazer uma política para os poucos que gravitam em torno do poder.




27/10/18

Ler os Outros: "As quatro imposturas intelectuais da arquitectura contemporânea".

Uma boa abordagem de um autor que além do mais é arquitecto com formação na área do urbanismo. Escasseiam em Portugal este tipo de reflexões já que a "cultura" nacional, ou melhor dizendo, o acriticismo nacional disfarçado com roupagens "culturais", na área da arquitectura e do urbanismo, adopta uma linha de abordagem do tipo "life and style".

A impostura do espaço é a mais utilizada e os impostores apresentam-se "armados"  com uma capacidade inata para compreender e interpretar os espaços que lhes terá vindo do ... espaço. Mesmo aqueles incapazes de reflectir sobre os mecanismos de produção do espaço ou sobre a dimensão oculta dos diferentes tipos de espaço, são capazes de testemunhar a perfeita integração do mamarracho A ou B num determinado "contexto espacial", certificar que o edifício  estabelece um "perfeito diálogo" com o espaço", ou concluir que a rejeição suscitada por uma determinada proposta de organização do espaço interior das habitações resulta da ignorância irrecuperável dos seus moradores.

Tudo fruto da impostura da autoridade que é afinal a pura e dura exibição do poder. Poder adquirido junto de políticos mais ou menos ignorantes mas muito bem informados sobre o valor de mercado de cada um dos impostores e que não perdem a oportunidade para lhes prestar vassalagem.

Até porque por cá não é fácil encontrar alguém como Oriol Bohigas, o arquitecto e urbanista catalão que escreveu, no prefácio ao livro de Jordi Borja e Zaida Muxi,  "El espacio público: ciudad y ciudadanía"*, o seguinte:

"(...) Son los que mantienen que la ciudad moderna viene dada por modelos americanos en los que predomina el terreno desordenado, las acumulaciones comerciales, fuera de la ciudad, los núcleos-dormitórios sin calles ni tiendas, los strips, el dinamismo del antiurbanismo, la ville eclatée, el terrain vague y otras ideias erróneas más literarias que figurativas. No tengo nínguna duda de que esta tendencia explosiva y desordenada - discontínua - proviene de um sistema de uso del suelo impuesto por los interesses particulares del mercado por encima de las necesidades colectivas, cada vez más privadas del soporte de un control urbanístico. Lo curioso es que este hecho real ha acabado encontrando urbanistas y teóricos sociales que lo han elogiado como el auténtico sistema urbano de la modernidad, seguramente porque alrededor de toda realidad productiva- incluso las correspondientes al capitalismo liberal más salvaje - se forma rapidamente un ámbito de pensamiento justificador con gestos y argumentos que provienen - por costumbre retórica - del otro bando.
No es necesario decir que muchos arquitectos se suman a esta hipocresía general, a menudo por la necesidad de irse enrolando en los itinerarios productivos que tienen más éxito. Pero seguramente también por una razón profesionalmente más justificable y más digna: en el terreno desurbanizado, sin calles, ni preexistencias, sin identidades, es más posible hacer una arquitectura autónoma, liberada de condiciones, caprichosa hasta el infinito, es decir, una arquitectura que no tiene la obligación de responder a la realidad de una ciudad exigente. Una arquitectura grandiloquente y más fácil de proyectar. (...)".

* - Edição de 2004 da Electra de Barcelona.

17/10/18

A Península Arábica e desaparecimentos

O caso do desaparecimento do jornalista saudita Jamal Khashoggi fez-me lembrar que também desde 4 março de 2018 ninguém viu mais a sheika Latifa bint Mohammed Al Maktoum, filha do emir do Dubai. Nesse dia, o iate onde ela estava aparentemente a tentar fugir para os Estados Unidos foi abordado ao largo da Índia por uma operação conjunta das marinhas indiana e dos Emirados Árabes Unidos, e ela e os seus acompanhantes (uma amiga finlandesa e o dono do iate, um ex-espião francês com um passado algo agitado) foram levados para o Dubai. Os outros foram libertados, mas, ao que sei, nunca mais se soube nada dela.



A tirania do socialmente correto

As pessoas que costumam reclamar que "não se pode dizer nada que fica logo tudo ofendido" estão em polvorosa com o que alguém disse no Prós e Contras sobre não obrigar as crianças a beijar os avós.

10/10/18

A "normalização" do fascismo pela via eleitoral

A vitória de Balsonaro na primeira volta das eleições presidenciais no Brasil é, para dizer as coisas como elas são, a vitória de um candidato fascista numas eleições democráticas realizadas num país-continente que, até 1985, esteve sob o domínio de uma implacável ditadura militar.
Trinta anos depois da liberdade os Brasileiros, na sua maioria, parecem dispostos a apoiar um fascista, adepto confesso da ditadura e de personagens como Hitler.
Isto depois de em 2003 o PT ter chegado ao poder e Lula da Silva, o mais famoso operário metalúrgico, ter chegado à Presidência. Lula que viu Dilma Rousseff, uma antiga guerrilheira do tempo da ditadura militar, suceder-lhe na Presidência até ter sido destituída pela justiça militante que hoje domina o Brasil de braço dado com os militares.

Assistimos por estes tempos à ascensão do fascismo em várias regiões do mundo. Não através de golpes militares mas apenas e só através de vitórias eleitorais. Tal como Hitler, que chegou ao poder através das eleições, Orban, e agora Bolsonaro,  utilizaram  a via eleitoral para triunfar sobre os poderes decrépitos e corruptos que se especializaram em defraudar as expectativas da maioria da população.

A corrupção endémica, que o PT não apenas não combateu como até reforçou, não é um mal menor. É o caminho mais curto para a ascensão dos poderes ditatoriais. É um pretexto para que figuras menores, como Bolsonaro, ascendam ao poder, deixando as rédeas livres aos juízes - como Moro - e aos militares, que estão loucos por voltarem a dispor do poder e que aproveitam a degradação da democracia petista para violarem, no caso dos juízes, a separação dos poderes. O "povo" que vota Bolsonaro parece juntar sob o mesmo conjunto de interesses, aqueles que aspiram pelo regresso aos tempos em que os seus privilégios eram a lei e aqueles que se queixam - justamente - por o PT não ter promovido o fim da desigualdade extrema, que no Brasil é ainda mais chocante do que deste lado do Atlântico. O que torna ainda mais terrível a opção de voto que estes últimos fizeram, já que parece terem escolhido o caminho mais curto para regressarem ao passado tenebroso.

A via eleitoral tem um potencial enorme para todos os fascistas deste mundo. As políticas da responsabilidade social e da confiança, que não são mais do que políticas austeritárias, deixam  a maioria de fora da distribuição da riqueza e constituem a mais eficaz madrassa de recrutamento dos novos fascistas. Aumentos dos funcionários públicos em 5, 10 ou 15 euros, incapacidade para redistribuir de forma justa a riqueza produzida, como tem sido a regra por cá, com as esquerdas reunidas, criam condições para mais cedo do que tarde também irmos por aí. Até porque, como disse Cravinho recentemente, a corrupção é um mal endémico e um grande problema nacional relativamente ao qual existe um alargado consenso [isto digo eu]; não existe corrupção, apenas prácticas menos avisadas.

PS - dou como adquirido o facto de na segunda volta se verificar o triunfo do candidato fascista. O candidato do PT, o senhor Haddad, que aparece em campanha com o ar festivo de quem está a assistir a um enterro - o seu - teve a peregrina ideia de, logo após a confirmação da passagem à segunda volta, ter ido visitar Lula à prisão.


08/10/18

A CIDADE EM RECONSTRUÇÃO

Junto com a edição de Outubro do Le Monde Diplomatique pode ser adquirido o livro "A Cidade em Reconstrução. Leituras Críticas, 2008-2018" cuja edição é da responsabilidade da Outro Modo - Cooperativa Cultural. Esta obra recolhe contribuições de vários autores que durante este último decénio reflectiram sobre temas que vão da "Produção Social do Espaço Urbano Português - Tendências e Desafios", ao "Turismo,Gentrificação e Expulsão", passando pelas "Vulnerabilidades e Resistências em Contextos Urbanos Informais", pela "Habitação Pública. Políticas e Dinâmicas" e pela "Cidade Vivida". Os investigadores do Centro de Estudos Geográficos da Universidade de Lisboa e membros da Habita - Associação pelo Direito à Habitação e à Cidade, André Carmo, Eduardo Ascensão e Ana Estevens, organizaram a obra para a qual contribuem com textos da sua autoria.

Realizou-se, entretanto, no passado sábado, na Casa da Achada, a apresentação do livro, para a qual fizeram o favor de me convidar - tive a companhia da Professora Isabel Raposo, da Faculdade de Arquitectura da Universidade de Lisboa e da Rita Silva, dirigente e fundadora da Habita, figura destacada da luta pelo direito à habitação na cidade de Lisboa - a que se seguiu uma conversa sobre a magna questão da habitação na cidade com a participação da Maria de Lurdes Pinheiro, dirigente da Associação do Património e População de Alfama, do António Brito Guterres, investigador do DINAMIA/CET -ISCTE, e da arquitecta e cenógrafa, Ana Jara, entretanto empossada como vereadora substituta na Câmara de Lisboa, em representação do PCP.

Um bom debate, com casa cheia, com intervenções que nos mostram uma realidade que, como dizia o Chico Buarque a propósito da "dor da gente", não sai nos jornais. Histórias de luta e de resistência em curso na cidade de Lisboa, contra o exercício do poder autocrático dos que são eleitos para, como autarcas, exercerem o poder em defesa dos seus concidadãos, e optam por os ignorar.
 A velha história, já ressequida e requentada, dos que, para lá das proclamações mais ou menos retóricas,  apostaram todos os trunfos em ceder o passo ao Mercado, anulando ao limite a intervenção pública, demitindo a Administração de exercer a sua função de garante dos direitos sociais, mesmo aqueles que estão, supostamente, protegidos pela Constituição, como acontece com o direito à Habitação.

Volta a ser tempo de escutar Sérgio Godinho a recordar-nos que só há Liberdade a sério quando houver a paz, o pão, habitação, saúde, educação. Entretanto, vale a pena ler o livro já que, apesar da passagem do tempo, como tive oportunidade de dizer na minha intervenção, a actualidade de cada um dos textos não foi erodida. Talvez porque a cidade que está a ser "reabilitada" não seja aquela cidade que todos os diferentes autores gostariam de ver reconstruída. Uma cidade para todos.

05/10/18

Coerência entre a teoria e a prática

Os apoiantes ou militantes do  PSD e do CDS aproveitarem o feriado do 5 de outubro para, no fim de semana prolongado, irem viajar (ficando num alojamento local propriedade de um bloquista).

04/10/18

É pá Mário, não abuses, pá! Não deites tudo a perder, tem calma pá. Olha o Novo Banco, o dinheiro não dá para tudo, pá!

Governo avalia aumentos de 10 euros para todos os funcionários públicos

Mário Centeno descobriu a Quadratura do Círculo. A explicação, aguardada pela comunidade cientifica, vai ser apresentada junto com o Orçamento para 2019. Centeno vai financiar o aumento de 10 euros - ou outra enormidade da mesma ordem de grandeza - para todos os funcionários públicos com a continuidade de facto do congelamento das carreiras dos mesmos ... funcionários públicos. Com destaque para os professores, que são as vitimas mais conhecidas da paixão que o PS alimenta, há décadas, pela educação. A isso acresce o downgrade nas carreiras dos funcionários públicos licenciados antes de Bolonha. Sobra muito dinheiro para aplicar no Novo Banco ou noutro qualquer elemento sistémico da nossa desigualdade estrutural.


03/10/18

Ler os Outros: "Corrigir a desvalorização das ‘licenciaturas pré-Bolonha""

Um artigo do Engenheiro Sebastião Feyo de Azevedo sobre a "desvalorização das licenciaturas pré-Bolonha",  que foi concretizada pelo Governo Português.

Desvalorização é a opção do articulista, que se entende, dadas as regras de urbanidade que caracterizam a intervenção pública da Ordem dos Engenheiros e dos seus dirigentes. Eu acho, no entanto, que aquilo que o Estado Português fez tem outro nome: GAMANÇO. 

É disso que se trata. O Estado, como se fosse um Estado totalitário - e em muitas situações é-o, de facto -, resolve, ditactorialmente, desqualificar centenas de milhares de licenciados - cujas licenciaturas foram obtidas em universidades públicas, em cursos reconhecidos como de elevada qualidade e com provas dadas no exercício das suas profissões - transformando as suas licenciaturas em bacharelatos.

Um Estado que resolve apagar dois anos da formação universitária de centenas de milhares de pessoas - e mesmo assim favorecendo algumas formações em detrimento de outras, caso das engenharias - pode ser considerado um Estado democrático?

Há coisas que se fazem em Portugual que deixam qualquer um arrepiado. Suspeito que este tipo de violências não provocam qualuer arrepio a António Costa.

Declaração de Interesses: Sou licenciado em Engenharia Civil, ramo de Estruturas, pelo IST, desde 1981. Sou por isso Licenciado  em Engenharia Civil, pré-Bolonha. Sou  Mestre em Planeamento Regional e Urbano pela Universidade Técnica de Lisboa, desde 2005, isto é pré-Bolonha.

20/09/18

Porque será mais fácil a um governo de direita sair do euro

Ultimamente tem se vindo aos poucos a falar de uma possível crise orçamental ou da dívida italiana (via).

Se essa crise ocorrer (e é provável - o programa da coligação extrema-direita/extremo-centro que governa Itália inclui baixar os impostos e aumentar as prestações sociais, o que possivelmente poderá levar a um conflito com a Comissão Europeia ou o Eurogrupo, a uma redução dos ratings, etc.), suspeito que Itália mais facilmente poderá jogar a cartada "sair do euro e/ou lançar uma moeda própria" do que a Grécia ou Portugal.

A minha ideia - sobretudo imediatamente, quem ganha e quem perde se um país sair do euro e passar a usar uma moeda desvalorizada (ou se permanecer nele, mas passar a pagar aos funcionários públicos com uma moeda desvalorizada)?

- Ganha que tem vencimentos facilmente atualizáveis (em que pode subir o valor nominal para compensar a desvalorização da moeda)e perde quem tem vencimentos nominais fixos; ou seja, assim perderá mais serão as pessoas que vivem de receber juros de títulos ou depósitos (cujo rendimento é fixo), depois os assalariados (cujo vencimento só é atualizado de vez em quando), enquanto os empresários e trabalhadores por conta própria (que em principio podem subir os seus preços a qualquer momento) serão os mais beneficiados.

- Ganha que produz sobretudo bens transacionáveis (isto é, bens que são comercializados no mercado internacional), cuja competitividade aumenta com a desvalorização (e cujo preço, de qualquer maneira, é mais afetado pelos preços internacionais), e perde que produz bens não-transacionáveis (e que vai ter que pagar mais caro quando quiserem comprar bens transacionáveis). Assim, eu diria que quem trabalha na agricultura, industria extrativa ou transformadora e no desenvolvimento de alta tecnologia ganhará, e quem trabalha na construção civil e em grande parte do comércio e serviços perderá.

- Os trabalhadores do sector público serão prejudicados face aos do sector privado, já que os primeiros vão passar a receber na nova moeda, enquanto é possível que no sector privado se continue, formal ou informalmente, a usar o euro (assim, assumindo que a nova moeda desvaloriza, os rendimentos dos funcionários públicos desvalorizarão face aos dos privados).

Ou seja, dá-me a ideia que um país trocar o euro por uma moeda mais fraca iria, à partida, beneficiar mais (ou prejudicar menos) os empresários e o sector privado e menos os assalariados e os funcionários públicos; por outras palavras, mais o eleitorado da direita que o da esquerda; assim, a Liga italiana terá mais margem de manobra para, se for enconstada à parede pela UE, abandonar o euro (as empresas exportadoras do Norte de Itália - que suponho, entre empresários e trabalhadores, sejam a sua clientela eleitoral - até agradecerão) do que o Syriza grego.

Já agora, fará também algum sentido que em Portugal o PCP seja o mais anti-euro dos partidos da geringonça (face ao pré-euro PS e ao até há pouco tempo oscilante BE) - já que suspeito que o PCP tem uma maior base social entre os trabalhadores dos sectores transaccionáveis, enquanto o BE e o PS serão partidos mais dos trabalhadores dos serviços (pode-se contrapor que no Algarve - a região onde tradicionalmente tanto o PS como o BE têm a sua maior implantação eleitoral - grande parte do comércio e serviços é transacionável, devido ao turismo, mas duvido que a nível global isso afete muito).

19/09/18

Ler os Outros:" O alojamento local é o responsável pelo despovoamento da cidade de Lisboa?"

Hoje, no Público, Raul Lopes, professor universitário e economista, responde à pergunta, por ele formulada no título do artigo de opinião que assina, com um rotundo não.
O despovoamento verificado em Lisboa, em particular no seu centro histórico, não se deve ao aumento do turismo, nem tão pouco ao acréscimo de alojamento local (AL). [ o AL e o aumento tão acentuado do turismo são fenómenos recentes, pelo menos em Lisboa, pelo contrário o despovoamento da cidade é um processo que se iniciou no final da década de setenta do século passado]
A conclusão da reflexão do autor é, do meu ponto de vista, absolutamente correcta: "os problemas da falta de habitação resolvem-se com políticas de habitação (que aqui não abordámos), não se resolvem combatendo o AL".

Políticas de habitação que olhem para todo o tipo de necessidades dos diferents grupos sociais, isto é,  que procurem dar resposta a todos os segmentos da procura. Uma política de habitação que não ignore a geração dos recursos necessários para a financiar, digo eu, sob pena de, fazendo-o, ser apenas um inútil exercício retórico.

Voltando ao artigo - que, como o autor esclareceu, não pretendeu discutir as políticas de habitação - há uma conclusão que os dados apresentados igualmente legitimam: se o AL e o turismo não contribuiram para o despovoamento do centro histórico, também não constituíram uma oportunidade para inverter essa dinâmica. Ora esse deve ser um forte motivo de preocupação, e de debate, por parte dos responsáveis políticos: como é possível num contexto de crescimento tão acentuado do turismo e da procura do AL, com aumento exponencial do investimento na reabilitação urbana orientada para esse tipo de uso, continuarmos a assitir ao despovoamento da cidade?

Colocando esta questão estamos a questionar a política de reabilitação urbana que o Estado Português, em termos gerais, e o Munícipio de Lisboa, em particular, estão a concretizar. Que política é esta e a quem serve? Quem ganha e quem perde com esta política de reabilitação urbana?

17/09/18

Teletrabalho

Nos Ladrões de Bicicletas e no Esquerda.net, João Ramos de Almeida escreve (a propósito de uma recente proposta do CDS) sobre o teletrabalho. A preocupação de JRA parece-me ser sobretudo que a "flexibilização" do regime de teletrabalho leve a uma maior opressão dos trabalhadores pelos patrões.

No entanto, não me espantaria que no mundo real o maior problema com o teletrabalho fosse o oposto (e uma das causas de haver tão pouca gente nesse regime?) - os patrões desconfiarem dele, mesmo em situações que tal até pudesse ser mais vantajoso para eles em termos de maiores lucros e menos despesas.

Para começar, vou fazer um desvio por um tema que à primeira vista parece só remotamente relacionado - o clássico de Michael Kalecki, Political Aspects of Full Employment [pdf], onde o autor sugere que o patronato tende a ser contra políticas de pleno emprego, mesmo que tal leve a maiores lucros, já que o pleno emprego reduz a sua dominação social sobre os trabalhadores, que ficam com menos medo de ser despedidos:
We have considered the political reasons for the opposition to the policy of creating employment by government spending. But even if this opposition were overcome—as it may well be under the pressure of the masses—the maintenance of full employment would cause social and political changes which would give a new impetus to the opposition of the business leaders. Indeed, under a regime of permanent full employment, the 'sack' would cease to play its role as a disciplinary measure. The social position of the boss would be undermined, and the self-assurance and class-consciousness of the working class would grow. Strikes for wage increases and improvements in conditions of work would create political tension. It is true that profits would be higher under a regime of full employment than they are on the average under laissez-faire; and even the rise in wage rates resulting from the stronger bargaining power of the workers is less likely to reduce profits than to increase prices, and thus adversely affects only the rentier interests. But 'discipline in the factories' and 'political stability' are more appreciated than profits by business leaders. Their class instinct tells them that lasting full employment is unsound from their point of view, and that unemployment is an integral part of the 'normal' capitalist system.
Será que o mesmo raciocinio não poderá ser aplicado ao teletrabalho? Isto é, se os patrões (ou pelo menos parte deles) valorizarem mais o poder (a "disciplina nas fábricas") do que propriamente o dinheiro, terão alguma relutância em deixar os seus empregados trabalhar a partir de casa (onde ele não sabe bem o que eles estão fazendo nem como), mesmo que isso até possa parecer mais lucrativo; e se formos para as chefias intermédias, suspeito que a relutância ainda será maior - afinal, quase por definição pessoas que gostam de controlar outras (talvez uma combinação de "extroversão" e "conscienciosidade" no modelo dos big five?) tendem a estar sobre-representadas nas chefias intermédias (já que esses pessoas sentem-se mais motivadas para assumirem esses cargos), logo tenderão a desconfiar de quem peça para trabalhar a partir de casa.

Aliás, nos comentários ao seu post, JRA refere que em tempos esteve envolvido numa negociação laboral em que a administração da empresa se opôs ao alargamento do teletrabalho (os trabalhadores também se opuseram, mas num sistema - o que provavelmente significaria uma sociedade diferente - em que o teletrabalho fosse verdadeiramente opcional, não me parece que se verificassem as razões que ele apresenta para os trabalhadores se oporem: das duas uma, ou apenas uma minoria quereria teletrabalhar, e nesse caso quem não quisesse continuaria a ter muita gente no escritório para interagir, e se calhar até é de esperar - ou não? - que fossem os mais chatos que preferissem ficar em casa; ou a maioria preferiria teletrabalhar e aí... a maioria preferiria teletrabalhar).

Ainda a respeito disto - um artigo de há quase 15 anos de Chris Dillow, Capitalism and Presenteism (o link para os "two fantastic papers" já não funciona, mas creio que são estes: What Do Bosses Do? The origins and functions of hierarchy in capitalist production, Part I e Part II).

12/09/18

Os professores estão lixados.

A contagem integral do tempo de serviço dos professores - que ficou contemplada no Orçamento de 2018 - nunca será concretizada, a menos que os professores adoptem formas de luta eficazes e consigam mobilizar a classe  de tal forma que o PS possa temer os reflexos dessa mobilização nas próximas eleições.
O PCP e o BE já mostraram que não será por causa dos professores que o Orçamento de Estado para 2019 deixará de ser aprovado. A tomada de posição é surpreendente, mas releva de uma consciência muito nítida da posição frágil em que se colocaram, não apenas pelos disparates do passado recente (BE), mas também pela posição inicial de não integrarem o Governo (BE+PCP), mantendo-se num hibridismo algures entre serem oposição e apoiarem a Geringonça.

António Costa sabe muito bem que pode ignorar e desrespeitar os direitos dos professores. O seu contrato com Mário Centeno a isso obriga, e, pensando apenas em termos meramente eleitorais, ele admite poder minimizar os votos perdidos com a debandada dos professores,  recorrendo aos eleitores do centro e da direita, que  consideram os professores uns malandros que deviam trabalhar o dobro e ganhar metade.

Eleitores esses integrantes do grupo dos que devem aplaudir com mãos ambas o relatório cheio de  erros da OCDE - completado por notícias de jornais com títulos criteriosamente elaborados para conduzir o leitor a uma conclusão prévia, e que não fazem sequer justiça às peças escritas (aqui e aqui). Ou pelos eleitores que leiam editoriais, como aquele que é assinado hoje pelo director do Público, Manuel Carvalho, e concordem com aquilo que ali está escrito.

Os professores e a escola pública são um alvo a abater pelo centro direita, no qual se inscreve a liderança dos socialistas. [Vale a pena ler este artigo de opinião do Paulo Guinote]. A utopia que os anima - ou melhor dizendo a distopia - é um ensino maioritariamente gerido por empresas, com o Estado a fingir que garante a universalidade do acesso,  com uma classe dos professores muito mais mal paga, seja qual for o seu grau de qualificação. Até porque há uma verdade universal, que foi decretada há décadas por pessoas já com uma certa idade e muito poder : os novos professores - sobretudo os que receberem muito menos e tiverem menos direitos - são naturalmente muito  mais "qualificados".

O fim da Internet tal como a conhecemos?

European Parliament endorses upload filters and “link tax”, por Julia Reda:
The Parliament’s version of Article 13 (366 for, 297 against) seeks to make all but the smallest internet platforms liable for any copyright infringements committed by their users. This law leaves sites and apps no choice but to install error-prone upload filters. Anything we want to publish will need to first be approved by these filters, and perfectly legal content like parodies and memes will be caught in the crosshairs.

The adopted version of Article 11 (393 for, 279 against) allows only“individual words” of news articles to be reproduced for free, including in hyperlinks – closely following an existing German law.

08/09/18

Posição da "Esquerda Emancipatória" alemã sobre a "Aufstehen"

Posição da corrente Emanzipatorische Linke do Die Link sobre o movimento "Aufstehen":

Zur Gründung von „Aufstehen!“ „Wir brauchen eine mutige LINKE!“ (tradução via Google Translate):
Novas alianças [de esquerda] contra o pano de fundo da direita na Alemanha e na Europa são desejáveis, e alguns esperam que "[Aufstehen]" seja uma alternativa.
Somos fundamentalmente céticos aqui.

Porque "[Aufstehen]" aprofunda as [barreiras] na esquerda social mais do que ajuda a superá-las. O presente apelo fundador de "[Aufstehen]" [1] [apresenta] o "movimento de cobrança" com um "direito de asilo para os perseguidos" ligado à restrição da lei de asilo de 1993, um [recorte] mais nacional de política sociaias e uma [política anti-UE], também porque os criadores estão honestamente convencidos de que a variedade neoliberal do capitalismo enfraquece o Estado-nação e quer superar as fronteiras e as identidades nacionais. Isso é errado, tanto historicamente quanto analiticamente. A variedade neoliberal do capitalismo não quer "nenhuma fronteira , nenhuma nação ", mas apenas a supressão dos direitos sociais garantidos pelo Estado enquanto promove um [aparelho repressivo] forte (nacional!).

O adversário de "[Aufstehen]" não é o próprio capitalismo, mas o "capitalismo financeiro globalizado que dispensa corporações e pessoas ricas da responsabilidade social" [1]. A separação do capital em capitalismo financeiro globalizado do mal e o bom capital nacional produtivo, que percebe uma "responsabilidade social", torna a exploração, a alienação e a humilhação no capitalismo cotidiano algo bom ou pelo menos normal e enobrece-os Exploração e alienação do homem na produção de mais-valia.

Quando [se lê] na convocação inicial de "[Aufstehen]" [que] "Muitas questões pré-existentes, como a falta de habitação social, escolas sobrecarregadas ou falta de creches, agravaram[-se] ainda mais. No final, especialmente os já desfavorecidos sofrem "[1], então o ônus da imigração para partes da população é enfatizado unilateralmente e, dessa forma, os refugiados são um bode expiatório para as condições sociais. Isso mostra: "[Aufstehen]" quer fortalecer o campo de esquerda fazendo concessões ao clima político de direita dominante.

Se [Aufstehen]" quer "fortalecer o Estado" como um todo, eles são a favor de um projeto socialdemocrata de direita que, enquanto fortalece o aparato da violência, também tem aspectos sociais, mas também pode ser compartilhado por grupos antiliberais e conservadores.

Ao mesmo tempo, os movimentos feministas, não brancos e queer não são mencionados apenas em todo o chamado da fundação; eles não são levados a sério em sua importância para o desenvolvimento social e a negação desses movimentos e suas lutas tornam essa orientação para [a direita] anti-liberal ainda mais clara.

07/09/18

O "Deep State" e Trump

Lendo o tal artigo que alguém da administração Trump* publicou no New York Times, parece-me que o Deep State / Steady State está a tentar sabotar essencialmente o único ponto positivo de Trump (ser aparentemente menos belicista e militarista do que se esperaria de um Republicano), e de resto não têm grandes objeções a ele.

* Não sei porquê, lembrei-me de Franz von Papen

04/09/18

Ainda sobre o antissemitismo no Labour. (Actualizado)

A polémica centrada no antissemitismo do Labour e, em particular, de Jeremy Corbyn, não para. Uma das mais recentes tomadas de posição - provavelmente a mais esclarecedora, entre todas - foi protagonizada pela deputada Margareth Hodge, já aqui referida pelas acusações feitas a Corbyn, acusando-o de ser racista e antissemita.
Para Hodge mesmo a adopção da definição de antissemitismo proposta pelo IHRA - que o Labour irá novamente discutir na próxima quinta-feira - não é suficiente para acalmar os criticios. Disse ela, numa conferência realizada no passado dia 2.09, promovida pelo Jewish Labour Movement, que:

It might have been enough three months ago, it might have just enabled us all to start talking to each other and bring trust again, but I think that moment has passed.(..) The problem is that he [Corbyn] is the problem. (...) Our party has been around for over 100 years, Corbyn has only been for three - three damaging years."


Não há nada como a clareza e a frontalidade. Há um objectivo claro e o antissemitismo é apenas a via mais eficaz para o concretizar. Um claro problema de gestão: depois de um bom diagnóstico, uma estratégia eficaz para concretizar um objectivo claro: afastar Corbyn.

Há quem não tenha a resiliência da senhora Hodge - nascida no Cairo, filha do industrial judeu Hans Oppenheimer, que saira de Estugarda para o Cairo, nos anos 30, para se juntar ao negócio familiar do aço. A família saiu depois do Cairo, temendo o clima de antissemitismo dominante, e fixou-se em Londres criando uma das maiores empresas mundiais de comércio e distribuição de produtos de aço.

Será o caso do deputado trabalhista Frank Field, um dos quatro deputados trabalhistas que possibilitaram a Theresa May a manutenção do seu governo, votando contra a orientação do partido e suportando o hard-brexit que vários deputados conservadores recusaram. Também ele acusou a liderança do Labour de racismo e antissemitismo, sendo por isso alvo de uma moção de desconfiança política da sua estrutura partidária. Em função desses acontecimentos o deputado anunciou que renunciava à reeleição. Trata-se de um deputado que apoiou o Brexit, quando o partido fez campanha pelo Remain, que sustentou com o seu voto a manutenção do Governo Conservador num momento crucial, e que, tem sido um critico,  desde sempre,  da forma branda como os trabalhistas abordam a questão dos migrantes. Defensor de políticas  nacionalistas. A critica ao antissemitismo parece ser, neste caso, apenas e só, uma manifestação de puro oportunismo político.

Do outro lado merece destaque a posição dos deputados do Parlamento de Israel representantes dos cidadãos árabes do Estado de Israel e os judeus que apoiam a paz e a democracia, que suportam políticamente a acção de Corbyn e que criticam a identificação entre ser-se contra a política de Israel e ser-se antissemita. A conflação odiosa a que se refere o Miguel Madeira no seu último post e que a direita extremista, no poder em Israel, promove despudoradamente.

Criticar o Estado de Israel e a sua política não pode ser comparado a qualquer manifestação de antissemitismo. Essa é a questão central do debate que tem sido utilizada pela ala conservadora, até agora dominante na sociedade britânica e no Labour, para desalojar Corbyn da liderança do Labour, ou, pelo menos, diminuir o mais possível as suas possibilidades de ganhar as próximas eleições.

ACTUALIZAÇÃO:  Está a decorrer uma reunião do NEC - uma espécie de Comissão Política do Labour, o Comité Executivo Nacional  - do Labour para proceder a uma clarificação da posição do partido relativamente à adopção ou não da definição de antissemitismo proposta pela IHRA. Será importante perceber se Corbyn mantêm a sua posição - que tem sido a posição oficial do Labour - ou se recua.

03/09/18

Ainda sobre peculiares definições de antissemitismo

Também nos EUA - Anti-Israelism and Anti-Semitism: The Invidious Conflation, por  Sheldon Richman:
I and others have warned that enactment of the Anti-Semitism Awareness Act now before Congress would threaten free speech and free inquiry on America’s college campuses and beyond. As I’ve explained, this bill incorporates a conception – a “definition” plus potential examples – of anti-Semitism that conflates criticism of Israel’s founding and continuing abuse of the Palestinians with anti-Semitism for the purpose inoculating Israel from such criticism. Anti-Zionist Jews and others have objected to this conflation for over 70 years.

What makes us so confident in predicting a threat to free speech?

We are confident in part because Donald Trump’s assistant secretary of education for civil rights, who would enforce the legislation, is Kenneth L. Marcus, whose record makes him the poster boy for the invidious conflation.

Dima Khalidi, founder and director of Palestine Legalwrites in The Nation:

If this definition [of anti-Semitism] were adopted and implemented as Marcus would like, the DOE would be empowered to conclude that universities nurture hostile, anti-Semitic environments by allowing the screening of a documentary critical of Israel’s 50-year military occupation of Palestinian lands such as Occupation 101, a talk critical of Israeli policy by a Holocaust survivor, a mock checkpoint enacted by students to show their peers what Palestinian life under a military occupation is like, a talk on BDS [boycott-divestment-sanctions] campaigns for Palestinian rights, or student resolutions to divest from companies complicit in Israel’s human-rights abuses.

These aren’t hypotheticals. These speech activities were the subject of real legal complaints, filed or promoted by Marcus and his Brandeis Center against Brooklyn College (2013), University of California Berkeley (2012), and University of California Santa Cruz (2009). The complaints were filed to the same DOE office which Marcus has been nominated to head [and to which he has since been confirmed].

31/08/18

A responsabilidade sobre a crise argentina

Em novembro e dezembro de 2015, Antonio Costa e Mauricio Macri substituíram, respectivamente, Cristina Kirchner e  Passos Coelho como governantes dos respetivos países.

Face à atual crise argentina, muita gente diz que ainda é culpa dos governos do casal Kirchner, e ainda do default à dívida em dezembro de 2001 (sob o presidente interino Adolfo Rodriguez Saa). Curiosamente são os mesmos que, perante qualquer problema que exista neste momento em Portugal, recusam visceralmente que ainda possa ser culpa das políticas do governo anterior.

Claro que se pode perguntar se não se pode também dizer exatamente o inverso - em parte, mas creio que não com tanta intensidade (pode ser erro de perceção meu, mas parece-me que até se vê mais gente de direita a falar da crise argentina - e tentando defender o presidente atual - do que de esquerda).

Já agora, a ideia que a crise é culpa dos Kirchner parece muito difícil de conciliar com a "hipótese dos mercados eficientes" - afinal, "os mercados" sabem que políticas o governo argentino seguiu desde 2003 até 2015, logo (já em 2015) todos os efeitos dessas políticas já estariam incorporados no valor do moeda argentina, nos juros da sua dívida, etc. Assim, se em 2018 o peso argentino começou a desvalorizar, só pode ter sido por nessa altura (e não 3 ou 10 anos antes) ter havido alguma mudança de opinião dos investidores sobre as perspetivas da economia argentina.

29/08/18

Grécia. Porque celebra Centeno? Altos cargos e pequenos homens.

A propósito do texto que aqui escrevi sobre a lamentável declaração de Centeno suscitada pelo fim do resgate imposto pela Troika à Grécia, convêm recordar alguns aspectos não referidos no post, já que na data em que o escrevi eram ainda escassas as reacções.

Do lado da esquerda algumas figuras, associadas aos diferentes partidos que suportam a geringonça, manifestaram a sua discordência. Do lado do PS apenas João Galamba foi particularmente duro com a apreciação que fez do lamentável discurso. Numa declaração no Twiter o deputado em três linhas referiu o essencial do discurso de Centeno: "um vídeo lamentável que apaga o desastre que foi o programa de ajustamento grego e branqueia todo o comportamento das instituições europeias".  Claro que Galamba não obteve qualquer apoio explicito por parte de algum dos mais importantes dirigentes do PS. Apanhou, como era de esperar, com as normais acusações de radicalismo burguês proferidas por figuras menores do seu partido, as quais ainda não se recompuseram da traumática experiência da Geringonça. gente que anseia pelo regresso ao passado.

No Bloco coube a Mariana Mortágua e a José Gusmão fazerem as honras da casa. O PCP não se dignou a emitir qualquer opinião específica, já que, para os comunistas, o problema, em última análise, está na UE e, num plano ainda mais geral, na existência do capitalismo. O resto são pequenos detalhes de uma absoluta irrelevância.

Ninguém se lembrou de salientar a incoerência de um discurso político, e de um acordo político centrado na condenação da austeridade, com a declaração de Centeno. Percebe-se o incómodo: como afirmámos no primeiro post não é possível ser-se Presidente do Eurogrupo e ministro das Finanças de um Governo apostado no combate à austeridade. Sobretudo se no Eurogrupo o nomeado Presidente abdicar do que pensava, ou fingia pensar, quando combatia a austeridade, a nível interno.

Centeno tem mais do que uma face. É um facto. O Centeno que, em 2 de Dezembro de 2015, a propósito da propalada saída limpa, anunciada um ano antes por Pedro Passos Coelho, afirmou : "Hoje, caídas todas as máscaras, e levantados todos os véus, percebemos que a expressão  "saída limpa" foi um resultado pequeno para uma propaganda enorme", é a negação do Centeno que fez a declaração sobre o fim do resgate grego.

Propaganda enorme, disse ele. "Os gregos pagaram caro as más políticas do passado", diz ele agora, atribuindo aos erros próprios dos gregos as consequências da violenta punição que as instituições europeias lhes impuseram.

Apenas pequenos homens podem em cada momento vestir a fatiota que lhes destinam e falar de acordo com o guião de quem manda. Centeno falou como se fosse apenas uma máscara utilizada por wolfgang Schäuble, como fizera antes com Jeroen Dijsselbloem, para veicular a sua mensagem e louvar a sua política.

Isso mesmo referiu Viriato Soromenho Marques, num texto notável no Diário de Notícias. Centeno "o economista português que criticava as limitações estruturais da zona euro e que exibia os erros e os sacríficios inúteis das medidas de austeridade, eclipsou-se completamente". Há hoimens que são demasiado pequenos para os cargos que desempenham e que, por esse facto, são incapazes de assumir o poder de transformar a sociedade em que foram investidos. Homens pequenos que ficam para a história pelo mal que fizeram, quando tiveram a possibilidade de, mudando a política, melhorar a vida de milhões de europeus. Centeno não está para aí virado. Está preparado para subir mais alto na ortodoxia europeia e no sistema financeiro global. De que nos podemos queixar, nós portugueses que o temos como ministro das finanças ?

PS - o discurso de Centeno não "durou" mais do que meia semana na agenda da "Bolha Mediática". Há uma voragem da irrelevância e da vacuidade que tudo trucida à sua volta.