A contagem integral do tempo de serviço dos professores - que ficou contemplada no Orçamento de 2018 - nunca será concretizada, a menos que os professores adoptem formas de luta eficazes e consigam mobilizar a classe de tal forma que o PS possa temer os reflexos dessa mobilização nas próximas eleições.
O PCP e o BE já mostraram que não será por causa dos professores que o Orçamento de Estado para 2019 deixará de ser aprovado. A tomada de posição é surpreendente, mas releva de uma consciência muito nítida da posição frágil em que se colocaram, não apenas pelos disparates do passado recente (BE), mas também pela posição inicial de não integrarem o Governo (BE+PCP), mantendo-se num hibridismo algures entre serem oposição e apoiarem a Geringonça.
António Costa sabe muito bem que pode ignorar e desrespeitar os direitos dos professores. O seu contrato com Mário Centeno a isso obriga, e, pensando apenas em termos meramente eleitorais, ele admite poder minimizar os votos perdidos com a debandada dos professores, recorrendo aos eleitores do centro e da direita, que consideram os professores uns malandros que deviam trabalhar o dobro e ganhar metade.
Eleitores esses integrantes do grupo dos que devem aplaudir com mãos ambas o relatório cheio de erros da OCDE - completado por notícias de jornais com títulos criteriosamente elaborados para conduzir o leitor a uma conclusão prévia, e que não fazem sequer justiça às peças escritas (aqui e aqui). Ou pelos eleitores que leiam editoriais, como aquele que é assinado hoje pelo director do Público, Manuel Carvalho, e concordem com aquilo que ali está escrito.
Os professores e a escola pública são um alvo a abater pelo centro direita, no qual se inscreve a liderança dos socialistas. [Vale a pena ler este artigo de opinião do Paulo Guinote]. A utopia que os anima - ou melhor dizendo a distopia - é um ensino maioritariamente gerido por empresas, com o Estado a fingir que garante a universalidade do acesso, com uma classe dos professores muito mais mal paga, seja qual for o seu grau de qualificação. Até porque há uma verdade universal, que foi decretada há décadas por pessoas já com uma certa idade e muito poder : os novos professores - sobretudo os que receberem muito menos e tiverem menos direitos - são naturalmente muito mais "qualificados".
12/09/18
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3 comentários:
Uma classe privilegiada a ganhar 35% mais que a maioria da função pública que se julgam a casta superior!
Senhor Anónimo, e mentiroso, o seu comentário foi publicado apenas para servir de triste exemplo do tipo de comentário acéfalo que nada contribui para o debate.
É necessário que as pessoas percebam a importância da escola pública e a sua insubstituibilidade, enquanto é o único bastião da sociedade que tem por função ministrar ensino, aprendizagem, formação, educação, num plano científico de universalidade, estando proibida, aliás, de se colocar ao serviço de bandeiras, religiões, clubes, partidos, grupos de interesses, clientelas e negócios, contrariamente a tudo o resto que conhecemos na sociedade em que vivemos, altamente partidarizado e manipulado por grupos de interesses, económicos, religiosos, financeiros, políticos, desportivos, corporativos. Nestes aspetos, a escola pública é e não pode deixar de ser um grande obstáculo e contraponto, das múltiplas estruturas e instituições da sociedade civil, cuja lógica de negócio não serve e pode pôr em causa os interesses coletivos supra partidários, supra clubísticos... Se a escola pública fizesse um bocadinho de marketing, que não deve, muita coisa seria vista melhor e como deve ser vista.
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