04/09/18

Ainda sobre o antissemitismo no Labour. (Actualizado)

A polémica centrada no antissemitismo do Labour e, em particular, de Jeremy Corbyn, não para. Uma das mais recentes tomadas de posição - provavelmente a mais esclarecedora, entre todas - foi protagonizada pela deputada Margareth Hodge, já aqui referida pelas acusações feitas a Corbyn, acusando-o de ser racista e antissemita.
Para Hodge mesmo a adopção da definição de antissemitismo proposta pelo IHRA - que o Labour irá novamente discutir na próxima quinta-feira - não é suficiente para acalmar os criticios. Disse ela, numa conferência realizada no passado dia 2.09, promovida pelo Jewish Labour Movement, que:

It might have been enough three months ago, it might have just enabled us all to start talking to each other and bring trust again, but I think that moment has passed.(..) The problem is that he [Corbyn] is the problem. (...) Our party has been around for over 100 years, Corbyn has only been for three - three damaging years."


Não há nada como a clareza e a frontalidade. Há um objectivo claro e o antissemitismo é apenas a via mais eficaz para o concretizar. Um claro problema de gestão: depois de um bom diagnóstico, uma estratégia eficaz para concretizar um objectivo claro: afastar Corbyn.

Há quem não tenha a resiliência da senhora Hodge - nascida no Cairo, filha do industrial judeu Hans Oppenheimer, que saira de Estugarda para o Cairo, nos anos 30, para se juntar ao negócio familiar do aço. A família saiu depois do Cairo, temendo o clima de antissemitismo dominante, e fixou-se em Londres criando uma das maiores empresas mundiais de comércio e distribuição de produtos de aço.

Será o caso do deputado trabalhista Frank Field, um dos quatro deputados trabalhistas que possibilitaram a Theresa May a manutenção do seu governo, votando contra a orientação do partido e suportando o hard-brexit que vários deputados conservadores recusaram. Também ele acusou a liderança do Labour de racismo e antissemitismo, sendo por isso alvo de uma moção de desconfiança política da sua estrutura partidária. Em função desses acontecimentos o deputado anunciou que renunciava à reeleição. Trata-se de um deputado que apoiou o Brexit, quando o partido fez campanha pelo Remain, que sustentou com o seu voto a manutenção do Governo Conservador num momento crucial, e que, tem sido um critico,  desde sempre,  da forma branda como os trabalhistas abordam a questão dos migrantes. Defensor de políticas  nacionalistas. A critica ao antissemitismo parece ser, neste caso, apenas e só, uma manifestação de puro oportunismo político.

Do outro lado merece destaque a posição dos deputados do Parlamento de Israel representantes dos cidadãos árabes do Estado de Israel e os judeus que apoiam a paz e a democracia, que suportam políticamente a acção de Corbyn e que criticam a identificação entre ser-se contra a política de Israel e ser-se antissemita. A conflação odiosa a que se refere o Miguel Madeira no seu último post e que a direita extremista, no poder em Israel, promove despudoradamente.

Criticar o Estado de Israel e a sua política não pode ser comparado a qualquer manifestação de antissemitismo. Essa é a questão central do debate que tem sido utilizada pela ala conservadora, até agora dominante na sociedade britânica e no Labour, para desalojar Corbyn da liderança do Labour, ou, pelo menos, diminuir o mais possível as suas possibilidades de ganhar as próximas eleições.

ACTUALIZAÇÃO:  Está a decorrer uma reunião do NEC - uma espécie de Comissão Política do Labour, o Comité Executivo Nacional  - do Labour para proceder a uma clarificação da posição do partido relativamente à adopção ou não da definição de antissemitismo proposta pela IHRA. Será importante perceber se Corbyn mantêm a sua posição - que tem sido a posição oficial do Labour - ou se recua.

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