29/08/18

Grécia. Porque celebra Centeno? Altos cargos e pequenos homens.

A propósito do texto que aqui escrevi sobre a lamentável declaração de Centeno suscitada pelo fim do resgate imposto pela Troika à Grécia, convêm recordar alguns aspectos não referidos no post, já que na data em que o escrevi eram ainda escassas as reacções.

Do lado da esquerda algumas figuras, associadas aos diferentes partidos que suportam a geringonça, manifestaram a sua discordência. Do lado do PS apenas João Galamba foi particularmente duro com a apreciação que fez do lamentável discurso. Numa declaração no Twiter o deputado em três linhas referiu o essencial do discurso de Centeno: "um vídeo lamentável que apaga o desastre que foi o programa de ajustamento grego e branqueia todo o comportamento das instituições europeias".  Claro que Galamba não obteve qualquer apoio explicito por parte de algum dos mais importantes dirigentes do PS. Apanhou, como era de esperar, com as normais acusações de radicalismo burguês proferidas por figuras menores do seu partido, as quais ainda não se recompuseram da traumática experiência da Geringonça. gente que anseia pelo regresso ao passado.

No Bloco coube a Mariana Mortágua e a José Gusmão fazerem as honras da casa. O PCP não se dignou a emitir qualquer opinião específica, já que, para os comunistas, o problema, em última análise, está na UE e, num plano ainda mais geral, na existência do capitalismo. O resto são pequenos detalhes de uma absoluta irrelevância.

Ninguém se lembrou de salientar a incoerência de um discurso político, e de um acordo político centrado na condenação da austeridade, com a declaração de Centeno. Percebe-se o incómodo: como afirmámos no primeiro post não é possível ser-se Presidente do Eurogrupo e ministro das Finanças de um Governo apostado no combate à austeridade. Sobretudo se no Eurogrupo o nomeado Presidente abdicar do que pensava, ou fingia pensar, quando combatia a austeridade, a nível interno.

Centeno tem mais do que uma face. É um facto. O Centeno que, em 2 de Dezembro de 2015, a propósito da propalada saída limpa, anunciada um ano antes por Pedro Passos Coelho, afirmou : "Hoje, caídas todas as máscaras, e levantados todos os véus, percebemos que a expressão  "saída limpa" foi um resultado pequeno para uma propaganda enorme", é a negação do Centeno que fez a declaração sobre o fim do resgate grego.

Propaganda enorme, disse ele. "Os gregos pagaram caro as más políticas do passado", diz ele agora, atribuindo aos erros próprios dos gregos as consequências da violenta punição que as instituições europeias lhes impuseram.

Apenas pequenos homens podem em cada momento vestir a fatiota que lhes destinam e falar de acordo com o guião de quem manda. Centeno falou como se fosse apenas uma máscara utilizada por wolfgang Schäuble, como fizera antes com Jeroen Dijsselbloem, para veicular a sua mensagem e louvar a sua política.

Isso mesmo referiu Viriato Soromenho Marques, num texto notável no Diário de Notícias. Centeno "o economista português que criticava as limitações estruturais da zona euro e que exibia os erros e os sacríficios inúteis das medidas de austeridade, eclipsou-se completamente". Há hoimens que são demasiado pequenos para os cargos que desempenham e que, por esse facto, são incapazes de assumir o poder de transformar a sociedade em que foram investidos. Homens pequenos que ficam para a história pelo mal que fizeram, quando tiveram a possibilidade de, mudando a política, melhorar a vida de milhões de europeus. Centeno não está para aí virado. Está preparado para subir mais alto na ortodoxia europeia e no sistema financeiro global. De que nos podemos queixar, nós portugueses que o temos como ministro das finanças ?

PS - o discurso de Centeno não "durou" mais do que meia semana na agenda da "Bolha Mediática". Há uma voragem da irrelevância e da vacuidade que tudo trucida à sua volta.

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