14/08/18

A entrevista ao Expresso de António Costa. A ideologia algures entre o Roblismo e o temor pró-austeritário da senhora comerciante de Viseu

António Costa deu uma extensa entevista ao Expresso do passado fim de semana. Uma extensa entrevista em pleno estio de que pouco ou nada se aproveitou. António Costa revelou ao mundo a importância que teve a conversa com uma senhora comerciante de Viseu. Essa conversa  permitiu-lhe antecipar a derrota nas eleições de 2015. Conversa que terá sido uma revelação: Costa percebeu a necessidade  de descansar as pessoas, deixar claro que os ganhos obtidos com a austeridade não iriam ser hipotecados por uma governação aventureira. Costa não disse mas todos nós entendemos que Mário Centeno é o alter ego de todas as todas as pessoas que pensam como a senhora comerciante de Viseu. Foi por isso que o chamou para o Governo, para as poder sossegar.

Percebida a mensagem da comerciante viseense, feita a necessária clarificação ideológica, Costa acha estar agora melhor colocado para conseguir a maioria absoluta que lhe fugiu em 2015.

Para que uma Geringonça rejuvenescida se possa afirmar, António Costa apenas identifica uma única condição a satisfazer: um reforço da posição do PS. Nada de novo. Em 2015 Costa recorreu ao BE e ao PCP para criar as condições de viabilização de um Governo do PS. Conseguiu esse objectivo.
Agora, com o reforço do PS -  a que Costa aspira e que de certo irá obter -, uma geringonça full sized será dispensável. Mas, Costa, magnânimo, promete ainda assim uma geringonça que, naturalmente, não assuste a senhora comerciante de Viseu.

Costa mostrou-se impiedoso com Robles e com o "Roblismo", a variante especulativa da actuação autárquica do BE na capital. Costa não esquece que o PS perdeu a maioria absoluta em Lisboa em grande parte devido ao crescimento do BE. O Roblismo é uma oportunidade que Costa não podia perder. Á falta de uma senhora comerciante de Lisboa avisada sobre estas coisas, define ele próprio as condições que lhe permitirão recuperar o precioso eleitorado da capital, que tinha delegado no BE a liderança do combate contra a especulação. Costa já afirmara que recusava o turismo enquanto agente transformador das cidades em parques de diversões. Mais de 2400 milhões de euros para garantir a coisa. Tendo Robles cedido ao vício é Costa, e não Medina - que carece do BE para a gestão corrente - a mostrar como se combate a especulação. Um único parágrafo basta para dizer tudo. Um parágrafo com  a máxima generalidade, com uma defesa intransigente do arrendamento acessível - seja lá isso o que for e acessível a quem- e um irresistível, diz ele, apelo fiscal aos senhorios para arrendarem abaixo do preço do mercado.

Não fosse a momentânea atrapalhação causada pela captura da virtude pelo vício e o BE poderia fazer uma de duas coisas: aplaudir o que Costa disse sobre as políticas públicas urbanas na cidade e o seu compromisso com uma política de habitação que combata a especulação; denunciar a falta de clareza e a falta de ambição de uma política que não responde à liderança do mercado especulativo e ao seu potencial destrutivo das cidades.

Assim, nenhum comerciante, como a senhora de Viseu, poderá ficar preocupado com a falta de clareza nos conceitos utilizados, com a ausência de calendarização e de financiamento da intervenção prevista, com a aparente morosidade na execução das políticas, nestes tempos de velocidade estonteante. Afinal, vai tudo continuar no mesmo caminho, na mesma dinâmica, ou na falta dela, embora possa parecer que os desiquilibrios estão a ser contrariados. Ver-se-á daqui a uns anos, embora se note todos os dias, com ou sem maioria absoluta, isto é, com ou sem geringonça.

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