Uma boa abordagem de um autor que além do mais é arquitecto com formação na área do urbanismo. Escasseiam em Portugal este tipo de reflexões já que a "cultura" nacional, ou melhor dizendo, o acriticismo nacional disfarçado com roupagens "culturais", na área da arquitectura e do urbanismo, adopta uma linha de abordagem do tipo "life and style".
A impostura do espaço é a mais utilizada e os impostores apresentam-se "armados" com uma capacidade inata para compreender e interpretar os espaços que lhes terá vindo do ... espaço. Mesmo aqueles incapazes de reflectir sobre os mecanismos de produção do espaço ou sobre a dimensão oculta dos diferentes tipos de espaço, são capazes de testemunhar a perfeita integração do mamarracho A ou B num determinado "contexto espacial", certificar que o edifício estabelece um "perfeito diálogo" com o espaço", ou concluir que a rejeição suscitada por uma determinada proposta de organização do espaço interior das habitações resulta da ignorância irrecuperável dos seus moradores.
Tudo fruto da impostura da autoridade que é afinal a pura e dura exibição do poder. Poder adquirido junto de políticos mais ou menos ignorantes mas muito bem informados sobre o valor de mercado de cada um dos impostores e que não perdem a oportunidade para lhes prestar vassalagem.
Até porque por cá não é fácil encontrar alguém como Oriol Bohigas, o arquitecto e urbanista catalão que escreveu, no prefácio ao livro de Jordi Borja e Zaida Muxi, "El espacio público: ciudad y ciudadanía"*, o seguinte:
"(...) Son los que mantienen que la ciudad moderna viene dada por modelos americanos en los que predomina el terreno desordenado, las acumulaciones comerciales, fuera de la ciudad, los núcleos-dormitórios sin calles ni tiendas, los strips, el dinamismo del antiurbanismo, la ville eclatée, el terrain vague y otras ideias erróneas más literarias que figurativas. No tengo nínguna duda de que esta tendencia explosiva y desordenada - discontínua - proviene de um sistema de uso del suelo impuesto por los interesses particulares del mercado por encima de las necesidades colectivas, cada vez más privadas del soporte de un control urbanístico. Lo curioso es que este hecho real ha acabado encontrando urbanistas y teóricos sociales que lo han elogiado como el auténtico sistema urbano de la modernidad, seguramente porque alrededor de toda realidad productiva- incluso las correspondientes al capitalismo liberal más salvaje - se forma rapidamente un ámbito de pensamiento justificador con gestos y argumentos que provienen - por costumbre retórica - del otro bando.
No es necesario decir que muchos arquitectos se suman a esta hipocresía general, a menudo por la necesidad de irse enrolando en los itinerarios productivos que tienen más éxito. Pero seguramente también por una razón profesionalmente más justificable y más digna: en el terreno desurbanizado, sin calles, ni preexistencias, sin identidades, es más posible hacer una arquitectura autónoma, liberada de condiciones, caprichosa hasta el infinito, es decir, una arquitectura que no tiene la obligación de responder a la realidad de una ciudad exigente. Una arquitectura grandiloquente y más fácil de proyectar. (...)".
* - Edição de 2004 da Electra de Barcelona.
27/10/18
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