21/01/14

Falta de pachorra, legião global e (re)educação para a cidadania

Notícia em El País:

Dasha Zhukova, pareja del millonario ruso Roman Abramovich, se ha visto envuelta en una polémica por fotografiarse sentada en una silla con la forma de una mujer de raza negra contorsionada y sin apenas ropa. La imagen fue publicada el lunes, justamente el día que se celebra en honor de Martin Luther King, ilustrando una entrevista que la prestigiosa galerista dio a la web Buro 24/7, propiedad de su amiga Miroslava Duma. Las críticas que la acusaban de racismo llegaron enseguida.

Dasha Zhukova é, ao que parece, milionária e companheira de milionário. E, sem dúvida, qualquer incipiente política de igualização de rendimentos e democratização da economia não poderá deixar de a tornar alvo de expropriação, até pôr o seu voto no mercado e o seu poder económico em pé de igualdade com os dos restantes cidadãos. Mas não é racista por se sentar numa "cadeira com a forma de uma mulher de raça negra contorcida e quase sem roupa", como o não seria, por exemplo, por só ter tido de facto — como diria o João Viegas — comércio sexual com não-brancos. Também não seria machista por se sentar numa cadeira com a forma de um falo alado ou não numa pose de aparente submissão aos seus (dele, falo) sortilégios, ou por eventualmente seguir o meu mau exemplo e se dirigir aos participantes numa assembleia de bairro chamando-lhes "cidadãos", sem registar explicitamente o facto de a assembleia em causa ser composta não apenas por homens.  O que não há é pachorra para aturar tanta etiqueta de boas maneiras edificantes, e a dúvida que fica é a de saber como, sem recurso aos métodos "siberianos" que por princípio e imperativo de sobrevivência própria exclui, poderia qualquer empresa de democratização efectiva (re)educar para a cidadania os espíritos censórios, que, ao contrário do escasso punhado de  coronéis da velha censura, tendem a tornar-se legião global.

1 comentários:

joão viegas disse...

Ola,

Concordo.

E' certo que não podemos cair no angelismo e que devemos saber que a liberdade de expressão, mesmo artistica, pode às vezes ser instrumentalizada e desvirtuada para esconder um comportamento racista. Mas em regra geral, é bastante facil identificar um comportamento genuinamente racista (ou machista, ou xenofobo, etc). As vitimas habituais desses comportamentos, por exemplo, sabem muito bem distinguir...

Quando começamos a confundir tudo, corremos um risco importante, o de acreditar a ideia de que "afinal de contas, não é assim tão facil identificar o racismo, ou o machismo, etc.".

De uma forma mais ou menos consciente, esta ambiguidade é quase sempre o que esta por tras das indignações baratas e mal dirigidas.

Querem deitar a cadeira ao lixo para lutar contra o racismo ? Sugiro que deixem a cadeira em paz, mas que vão ver de mais perto qual é a cor do trabalhador que recolhe o lixo...

Abraços