19/04/18

O DRAMA DA FALTA DE HABITAÇÃO EM LISBOA - Quem falou em Rendas Acessíveis?

A Câmara de Lisboa, através da SRU - Sociedade de Reabilitação Urbana, empresa municipal - promoveu um leilão para arrendamento de oito (!!!) apartamentos reabilitados na zona da Ajuda.  Numa lógica tipica do funcionamento do Mercado, sendo a oferta tão escandalosamente exígua num quadro de enormíssima necessidade, o preço oferecido pelas pessoas subiu imenso. A renda acessível passou apenas a ser uma etiqueta desprovida de qualquer sentido.

Os preços base que se situavam na ordem dos 350 euros/mês para um T1, subiram para mais do dobro. A Câmara de Lisboa, alertada pelo DN, terá informado que vai anular o o concurso. anula o  concurso mas não anula nem resolve o problema, nem sequer o atenua.

Qual será a solução para este tão complicado problema da falta de habitação em Lisboa? Problema não apenas para os mais necessitados - esses são espacialmente segregados desde há muitas décadas - mas também para todos os outros: os trabalhadores por conta de outrem, os jornalistas, os enfermeiros, os médicos, os engenheiros, os arquitectos, os artistas, os motoristas, os professores, os funcionários públicos, os advogados, os sociólogos, os carpinteiros - ainda vivem carpinteiros em Lisboa? - os taxistas - onde vivem os taxistas de Lisboa? - os educadores de infância, os empregados dos restaurantes - onde vivem os empregados dos restaurantes de Lisboa? - os escritores, os funcionários das televisões, os homens e mulheres da rádio, os terapeutas, e muitas mais profissões com os seus homens e mulheres, os que vivem sózinhos ou os que vivem em família, com ou sem filhos.

Onde vivem estas pessoas? Que qualidade de vida lhes oferece a bela cidade de Lisboa? De que  isenções fiscais beneficiam por passarem toda a vida a lutar contra o tempo, contra o salário exíguo, contra as filas nos transportes e a sua má qualidade, contra as filas no trânsito, contra os acessos entupidos, contra a segunda circular que tantas vezes parece o "entupimento supremo", contra o horário da escola das crianças, contra os broncos que planeiam os horários partindo do pressuposto que pessoas com a vida como a delas não existem. De que isenções fiscais beneficiam, ou vão beneficiar, por o Estado, e aqueles que o servem - e dele se servem - ser incapaz de lhes proporcionar, ao longo de quarenta anos de vida activa, uma casa acessível, próximo do local onde há 40 anos contribuem para fazer funcionar a cidade de Lisboa. Essa mui bela e desejada Lisboa, uma cidade que não é, de facto, para todos.   Uma cidade  "For the Few, Not for the Many".

Há soluções e há recursos. Falta apenas a vontade política.

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