30/04/19

Lições das eleições espanholas.

As eleições gerais espanholas colocam-nos perante algumas evidências que convinha não ignorarmos. Em primeiro lugar a proclamada implosão dos partidos do centro-esquerda - partidos socialistas, comprometidos de uma forma ou de outra com a Terceira Via - era manifestamente exagerada. Em segundo lugar a ascensão ao poder de "uma esquerda que conta", tipo Podemos, já viveu melhores dias. Em terceiro lugar a ascensão da direita xenófoba, racista, manifestamente pró-franquista, faz-se, preferencialmente, à custa da erosão da direita conservadora tipo PP e não necessariamente à custa dos sectores operários mais afectados pela globalização.

A ascensão do PSOE é consequência da estratégia do voto útil adoptada pelo seu líder. O PSOE não se candidatou com uma programa político capaz de promover alguma forma de mudança. Recebe por estes dias a unanimidade dos sectores políticos que valorizam a "moderação" política, seja lá isso o que for. Pese embora a decisão de aumentar muito significativamente o salário mínimo nacional, no essencial o PSOE continuará a ser um partido alinhado com as orientações dominantes na UE, tal como o seu congénere português. Limitou-se a gerir com habilidade a ameaça da ascensão da direita franquista e a explorar a previsível erosão do Podemos num processo mais ou menos autofágico. A memória do franquismo e o medo que o seu regresso - ainda que sob formas aceitáveis para o deputado Nuno Melo - impõe, funcionaram como um forte mobilizador eleitoral e como um toque a reunir contra o inimigo comum. O PSOE recolheu os maiores dividendos dessa ameaça.

Os fascistas do VOX viram o seu crescimento atenuado, face às previsões muito optimistas que apontavam para quase 70 deputados, em parte porque o Ciudadanos foi capaz de se constituir como uma alternativa real ao PP. Uma alternativa no centro direita, com expressão nacional e apenas com menos 200 mil votos. Com excepção dos sectores irredutivelmente franquistas, que durante anos se abrigaram sob o chapéu de chuva do PP, os restantes sectores não foram sensíveis ao apelo do "Espanha primeiro" e da Espanha una e indivisível, que o VOX  mimetizou dos slogans de Trump.

O Podemos pia mais fino. O partido evoluíra, no espaço de dois anos, de um conjunto alargado de  organizações  populares de base,  com uma forte intervenção social, capaz de organizar novas formas de promover e refundar a democracia participativa e deliberativa, para a terceira força política espanhola, com uma representação parlamentar de 69 deputados, abrangendo mais de 20 % do eleitorado. Mais do que o BE e o PCP juntos nos seus melhores dias, para se ter a noção da sua dimensão.

No período mais recente o Podemos despiu-se das suas anteriores tentações basistas e optou por trocar as opções participativas e uma intervenção política fundada e construída a partir do poder dos militantes pela promoção e "institucionalização" da liderança de Pablo Iglésias. Uma liderança "top-to-bottom" em tudo semelhante a qualquer outro partido tradicional. Um pouco à imagem do BE em Portugal, diga-se. Esta mudança foi feita com o reforço do poder pessoal de Iglésias e o afastamento de todos os fundadores que tinham questionado as suas orientações. O poder adquiriu até contornos endogâmicos com Iglésias a nomear a sua companheira para líder parlamentar depois de ter afastado Iñigo Errejón em 2017.

Esta evolução custou ao Podemos mais de um quarto dos votos, uma perda de um milhão e trezentos mil votos, e retira-lhe a possibilidade de contribuir para construir uma Geringonça já que os seus votos juntos com os do PSOE não asseguram a maioria parlamentar. Em 2016 o Podemos ficou a escassos 370 mil votos do PSOE e agora viu essa diferença alargar-se para três milhões e setecentos mil votos. Dez vezes mais. Mesmo assim há quem celebre o resultado.

Uma eventual Geringonça ficará sempre à mercê dos independentistas catalães e o PSOE pode - e parece ir nesse sentido -  sentir-se tentado a manter um governo de um só partido, com apoios pontuais, incluindo do sector tradicional da direita, na expectativa de nova vitória nas europeias e de uma maioria absoluta - à custa do Podemos, principalmente - numas novas eleições gerais.

A esquerda à esquerda dos socialistas perdeu grande parte do fulgor que a caracterizou nos anos duros da austeridade e da luta contra a orientação política imposta pela UE. Passados esses tempos de denuncia falha estrondosamente a construção de uma verdadeira alternativa. Apesar da conquista das duas principais cidades de Espanha - Barcelona e Madrid - o Podemos parece poder cada vez menos. Talvez seja esse o preço a pagar por ter optado por se tornar um partido cada vez mais igual aos restantes com o seu líder máximo,a sua corte de deputados e quadros políticos mediatizáveis e os militantes de base reservados para as eleições internas e outras pequenas liturgias.








1 comentários:

pvnam disse...

O PROBLEMA DO POLITICAMENTE CORRECTO NÃO É A JUSTIÇA SOCIAL NEM A SITUAÇÃO AMBIENTAL... MAS SIM O FACTO DE SEREM NAZIS:
- o politicamente correcto não se limita a ser globalista: ele não suporta a existência de outros [a existência de povos autóctones a sobreviver pacatamente no planeta]; ora, chamando o boi pelos nomes: o politicamente correcto é NAZI!
.
.
.
PNR's e afins não sejam parvos: não há tempo a perder com a elite neo-esclavagista, urge o SEPARATISMO-50-50!
.
Ao mesmo tempo que reivindica para si regalias acima da média (trata-se de pessoal que está num patamar acima da mão-de-obra servil), a elite neo-esclavagista quer ter ao seu dispor mão-de-obra servil ao desbarato.
.
Mais:
-» Na América do Sul (por exemplo) foram chacinadas Identidades Autóctones para lhes roubarem os territórios... e agora estão a vender milhões de hectares a multinacionais [a elite neo-esclavagista fala nestes holocaustos? Népia!];
-» Em pleno século XXI tribos da Amazónia têm estado a ser massacradas por madeireiros, garimpeiros, fazendeiros com o intuito de lhes roubarem as terras... muitas das quais para serem vendidas posteriormente a multinacionais [a elite neo-esclavagista fala nestes holocaustos? Népia!].
.
{uma nota: pululam por aí muitos investidores da mesma laia dos construtores de caravelas: reclamam que os seus investimentos precisam de muita mão-de-obra servil para poderem ser rentabilizados}
.
Mais:
-» A elite neo-esclavagista em conluio com a alta finança (lucram milhares de milhões em especulação financeira) e em conluio com migrantes que se consideram seres superiores no caos... não falam na introdução da Taxa-Tobin como forma de ajudar os mais pobres... querem é que a ajuda aos mais pobres seja feita através da degradação das condições de trabalho da mão-de-obra servil.
.
.
.
-» Por um planeta aonde povos autóctones possam viver e prosperar ao seu ritmo;
-» E por uma sociedade que premeie quem se esforce mais (socialismo, não obrigado)... mas que, todavia, no entanto... seja uma sociedade que respeite os Direitos da mão-de-obra servil;
---» Todos Diferentes, Todos Iguais... isto é: todas as Identidades Autóctones devem possuir o Direito de ter o SEU espaço no planeta --»» INCLUSIVE as de rendimento demográfico mais baixo, INCLUSIVE as economicamente menos rentáveis.
.
.
Nota 1: Os 'globalization-lovers', UE-lovers. smartphone-lovers (i.e., os indiferentes para com as questões políticas), etc, que fiquem na sua... desde que respeitem os Direitos dos outros... e vice-versa.
-»»» blog http://separatismo--50--50.blogspot.com/.
.
Nota 2: Os Separatistas-50-50 não são fundamentalistas: leia-se, para os separatistas-50-50 devem ser considerados nativos todas as pessoas que valorizam mais a sua condição 'nativo', do que a sua condição 'globalization-lover'.
.
Nota 3: É preciso dizer NÃO à democracia-nazi! Isto é, ou seja, é preciso dizer não àqueles... que pretendem democraticamente determinar o Direito (ou não) à Sobrevivência de outros!!!
.
Nota 4: Urge dizer à elite deste sistema o mesmo que foi dito aos antigos esclavagistas: a não existência de mão-de-obra servil ao desbarato não vai ser o fim da economia... VÃO CONTINUAR A EXISTIR MUITAS OPORTUNIDADES DE NEGÓCIO (nomeadamente introduzindo mais tecnologia)!