22/08/20

"Trabalho comunitário" versus "emprego garantido"

Uma coisa que tenho pensado é até que ponto aquelas ideias à André Ventura de "trabalho comunitário para quem está no RSI" e a ideia do "job guarantee" ("emprego garantido") que tem entrado na moda na esquerda anglo-saxónica (defendido, p.ex., pela Alexandra Ocasio-Cortez) não serão mais parecidos do que ambos os lados gostariam de admitir.

Para quem não sabe, o "job guarantee" consiste em o estado disponibilizar empregos a quem os queira, o que significa que ninguém ficaria involuntariamente desempregado, e por outro lado alguém que estivesse descontente com o seu emprego no sector privado teria sempre a hipótese de ir para um desses "empregos garantidos", o que aumentaria o poder negocial dos trabalhadores face aos patrões.

A grande diferença, claro, é o valor da remuneração - um subsidio mínimo na proposta de "trabalho comunitário", e um salário provavelmente ao nível do salário mínimo no "emprego garantido", mas mesmo isso talvez não seja assim tão líquido: imagino facilmente um governo de direita a baixar os salários e/ou agravar as condições de trabalho dos "empregos garantidos" para os tornar em algo parecido com o "trabalho comunitário"; e também imagino muito facilmente um governo de esquerda a equiparar o subsidio do trabalho comunitário ao salário de uma profissão equivalente na admnistração pública, com o argumento "trabalho igual, salário igual" (diga-se que também imagino um governo de esquerda a chegar ao poder e a integrar extraordinariamente essas pessoas na função pública, talvez naquelas vagas a "extinguir quando vagar").

Ainda sobre o "emprego garantido" (e sem concordar com tudo o que ele diz), recomendo esta perspetiva crítica de Scott Alexender, Basic Income, Not Basic Jobs: Against Hijacking Utopia.

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