06/09/20

Cidadania e Desenvolvimento - Ano 2030

Na sequência da reportagem da CMTV revelando que muitas crianças de famílias imigrantes não frequentam a disciplina de Cidadania e Desenvolvimento, André Ventura, líder da coligação CHEGA/PSD/CDS, exige que essas famílias percam acesso a subsídios (ou que sejam mesmo deportadas nos casos mais graves) e que os candidatos à naturalização tenham que fazer um exame com os conteúdos dessa disciplina, a fim de averiguar o seu grau de integração nos valores da sociedade portuguesa.

Também o Observador e o Expresso publicam vários artigos de opinião sobre o caso, marcando a importância de um chão comum de valores para a manutenção de uma sociedade livre e democrática, e como isso está a ser ameaçado pelo multiculturalismo relativista e pela balcanização identitária (como escreve um dos articulistas do Expresso "são estas situações, que toda a gente conhece mas a imprensa dita de referência e os bem-pensantes do Bairro Alto fingem ignorar, que levam as pessoas comuns, que cumprem as regras mas veem-se abandonadas pelo sistema, a votarem no Ergue-te").

Em contraponto, um investigador do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, em entrevista à RTP, apresenta a sua visão de que a filosofia estruturante da disciplina deriva de um paradigma iluminista-mecanicista, que apresenta como factos objetivos fenómenos e mundividências que só existem realmente numa perspetiva de intersubjetividades e de construções identitárias mediatizadas culturalmente, e que como tal é problemática, porque essa ideia de que é possível definir uma verdade objetiva independente das subjetividades e representações sociais é intrinsecamente ocidentalocentrica e (mesmo que alguns conteúdos até possam parecer "feministas") masculinocentrica; assim, considera que seria boa ideia suspender a cadeira (ou pelo menos todos os seus efeitos na avaliação) e repensá-la numa perspetivas de tornar a escola numa multi-escolas, genuinamente aberta aos várias saberes e culturas. No dia seguinte, aparece um post no Blasfémias divulgando todas as ligações entre o investigador e o Bloco de Esquerda.

Entretanto, um grupo de jovens de uma comuna ao pé da Almirante Reis divulgam (tanto por panfletos como por um texto viral na net) um manifesto apelando ao fim da escola ("A forma-valor começa na forma-escola"); do outro lado do espectro político e social, uma feminista de direita ex-NeverTrumper anuncia no Twitter que vai participar num novo projeto, junto com os seus antigos colegas de blogues do principio do século.

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