07/07/13

João Valente Aguiar publica no Passa Palavra a segunda parte da sua análise sobre o PCP e a ameaça nacionalista

Se, como escrevia há dias o colectivo do Passa Palavra, "jogar toda a luta política no destino que se dê ao actual governo é uma aposta errada, porque se insere unicamente num desejo de renovação das elites no interior da classe dominante. São ingénuos os que crêem que um qualquer governo de esquerda poderá sequer minorar a austeridade. Só um vasto movimento internacional de base, auto-organizado pelos trabalhadores em torno das suas necessidades prementes e concretas, poderá criar condições para uma real alternativa emancipatória", digamos que a segunda parte do artigo que, também no Passa Palavra, o João Valente Aguiar agora publica,  ajuda a compreender, ao mesmo tempo que mostra como a via assim proposta para vencer a austeridade é radicalmente enganadora, a lógica mais vasta em que se inscrevem as razões que levam o PCP — e, a seu reboque, os adeptos de uma ou outra versão de salvação nacional por via do reforço da soberania do Estado português — a tentar imprimir a todas as acções que promove ou em que participa um cariz tão acentuadamente eleitoralista…  

Aqui fica uma passagem da segunda parte do artigo do João:



Para desgraça da esquerda e dos trabalhadores, os capitalistas já andam a preparar uma união bancária e uma unificação gradual e progressiva das instituições e dos poderes ao nível europeu. E a esquerda, em vez de transnacionalizar as lutas e ultrapassar as fronteiras na organização de classe, pelos vistos prefere andar entretida a difundir ainda mais o nacionalismo nas suas hostes. Se um dia, uma qualquer Frente Nacional fascista açambarcar as regiões de maior votação do Partido Comunista e se, um dia, a esquerda perder a luta nas ruas contra o avanço de uma aliança fascizante entre a polícia e uns quaisquer coxinhas, veremos nessa altura a esquerda clamar contra o surgimento de um inimigo que só é inesperado porque foi alimentado precisamente pelos que nessa altura serão agredidos pela criatura que ajudaram a criar à sombra das suas costas. Todas as acções políticas têm consequências profundas que escapam quase sempre aos olhares mais superficiais e litúrgicos. Só o mergulho da esquerda no tanque do nacionalismo a impede de ver o seu próprio papel na nacionalização da classe trabalhadora.

(…)

Entretanto, de modo a expandir a discussão, penso que não estarei a ser deselegante se transcrever as palavras que um amigo e notável intelectual me enviou sobre o assunto:

«Não acho, sinceramente, que se corra o risco de o PCP se tornar poder em condições de ditar o que quer que seja. Posso estar muitíssimo enganado, mas o dado de fundo das últimas duas décadas do PCP era a perda de influência em todos os sectores laborais à excepção do funcionalismo público. O problema é mesmo levarem água ao moinho nacionalista, banalizarem certas ideias e, num futuro eventualmente não muito distante, perderem sectores importantes da sua militância para um projecto autoritário mais consequente e com mais hipóteses de triunfar, que evite todos os traços exteriores do fascismo para desenvolver com sucesso os seus aspectos estratégicos: Desvalorização cambial, agravamento da mais-valia absoluta, aumento da repressão e reforço da intervenção económica do Estado e da acção repressiva do Estado».

O que este amigo comentou parece-me constituir um ponto de contacto entre o que eu e o José Nuno escrevemos e que é bastante profícuo para uma crítica consequente e correcta da esquerda nacionalista. Mais do que discutir se o PCP será ou não poder, ou em que condições, é a compreensão do seu potencial de difusão de temas e de propostas que podem ser apropriadas por um projecto mais à direita e que, no final das contas e do processo, podem redundar num novo fascismo. Que naturalmente não teria essa designação e que muito provavelmente afogaria em sangue as fileiras da esquerda nacionalista. Na concorrência entre nacionalismos, o que se situa mais à esquerda dificilmente resiste às investidas do seu competidor mais à direita, resultando quase sempre na necessidade da sua aniquilação ou, na melhor das hipóteses, da sua secundarização.

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1 comentários:

miguel disse...

O que é que impede o João Valente Aguiar e seus correligionários de "transnacionalizar as lutas e ultrapassar as fronteiras na organização de classe"?