22/07/13

Que "aliança europeia contra a austeridade"?

Numa análise cuja leitura integral recomendo, o Frederico Aleixo escreve a linhas tantas: "É que se António José Seguro pretende uma aliança europeia contra a austeridade, uma mutualização da dívida ou um Banco de Fomento, então precisa de força negocial, necessita de parceiros". Há aqui vários problemas: o primeiro é o da vontade do PS não ter, nem merecer, qualquer credibilidade. O segundo é que, ainda que o PS estivesse empenhado numa "aliança europeia" contra a austeridade, ser-lhe-ia impossível ter nisso por parceiro uma força como o PCP, que proclama explicitamente entre os seus objectivos políticos a desagregação da UE. O terceiro é a indefinição do BE que, em matéria europeia, parece querer guardar o bolo e comê-lo: permanecer no euro e recusar as condições políticas de uma integração fiscal, orçamental e no plano dos direitos e liberdades constitucionais que lhe daria sentido.

Estes três problemas — como os Três Mosqueteiros — são quatro. O último, mas de certo modo prévio, é o seguinte: embora não possa ignorar ou alhear-se do que se passa na cena política oficial, uma aliança europeia contra a austeridade depende sobretudo do desenvolvimento de movimentos e iniciativas de base, nas ruas, nas empresas, um pouco por toda a parte, que sejam capazes de travar a ofensiva oligárquica e de contra-atacar, criando ao mesmo tempo formas de intervenção política democráticas auto-organizadas e marcando presença num espaço público, de deliberação e decisão, redefinido e alargado pela dinâmica das suas acções. Creio que é por aqui que passa o "separar das águas" a partir do qual poderemos analisar melhor quais os possíveis parceiros da democratização.

4 comentários:

João Valente Aguiar disse...

O que muita gente à esquerda não diz é que, no início da crise financeira, bastaria ter existido uma dívida federal ao lado da moeda única (e não a situação patética actual de 17 dívidas para uma moeda) para que os efeitos da crise na periferia europeia tivesse sido muito inferior. Claro que muitos problemas estruturais da economia portuguesa continuariam de pé e a crise seria relativamente previsível. Contudo, se não fossem os nacionalismos que sempre resistiram à integração europeia, os efeitos da crise teriam sido menos devastadores. E aqui não me refiro a uma qualquer métrica, mas a milhões de vidas que não teriam de passar pelo desemprego e por maiores dificuldades de vida. Mas, como quase sempre, a esquerda nacionalista não quer saber disso para nada. O seu nacionalismo não apenas colocará problemas se a crise se agravar mas esse mesmo nacionalismo (da esquerda à extrema-direita) também ajudou a uma construção europeia manca e que quem a está a pagar são os trabalhadores.

Abraço!

joão viegas disse...

Concordo, e mais ainda com o comentario do JVA. De certa maneira, estamos refens do projecto Europeu e, ao aceitar (ou favorecer) uma pausa, ainda que pelas melhores razões do mundo, caimos numa cilada perigosissima, armada pelos conservadores : eles sabem bem que podem contar com os PCs e os partidos da esquerda sectaria para pôr em cheque qualquer progresso no sentido da integração.

Vitoria total dos tristes Farages que pululam por ai...

A unica resposta esta onde diz o Miguel, nas forças vivas que deram peso ao BE, com as quais devemos trabalhar incansavelmente para pesar sobre a esquerda dos partidos socialistas. Europa social precisa-se. Urgentemente.

A minha leitura pessoal, e eu sei que é bastante polémica, é que o abandono do tratado Europeu foi um erro. Quando estamos a construir um edificio, ha uma altura em que toda a pedra é preciosa, por mais pindérica que pareça.

De resto, para ir ao encontro das saudaveis preocupações habituais deste blogue, acho que nos habituamos a olhar para os tratados de forma enviesada, como o fazemos para os partidos politicos : esperando ingenuamente que eles nos vão trazer tudo como se se tratasse de uma dadiva do céu.

Não é assim. O que importa acima de tudo é haver organização das forças do trabalho a nivel europeu. Havendo isso, os partidos, os tratados, as politicas, tudo vai acabar por ir (mais ou menos) ao sitio.

Ja que estamos a falar de Europa, saibamos ir buscar maximas de bom senso à sabedoria popular dos nossos parceiros. Proponho esta, italiana, a que sempre achei um sabor especial : "fidarse è bene, non fidarse è meglio".

Abraços

Boas

Anónimo disse...

Estes apelos às coligações já chateiam. Nisso o MVP é como todos os outros: vê na crise a iminência que quer ver, mais do que a evidência que se oferece. Não é preciso ir muito longe: como diz o JVA aqui em cima, as soluções não são nem complexas nem exigem restruturações profundas na arquitectura europeia. Esta ideia de que só há europeísmo quando se é favorável à "integração" (seja lá o que for o conteúdo disso) não procede. De qualquer forma, no mesmo barco já estaremos certamente, e não vejo qualquer negacionismo do PCP nem do BE. O que foi tirado terá que ser devolvido, não é o que diz o cartaz? Mandem vir a massa lá do Norte, pode ser em charters. Temos direito a ela.

Miguel Serras Pereira disse...

Anónimo de 23 de Julho de 2013 às 00:04

se ler melhor o que eu escrevi, verá que não se trata de qualquer apelo a qualquer coligação. Pelo contrário, tento demonstrar a inconsistência das propostas oficiais nesse sentido, e sublinho — no que por certo o JVA e o JV concordam comigo — que "uma aliança europeia contra a austeridade depende sobretudo do desenvolvimento de movimentos e iniciativas de base, nas ruas, nas empresas, um pouco por toda a parte, que sejam capazes de travar a ofensiva oligárquica e de contra-atacar, criando ao mesmo tempo formas de intervenção política democráticas auto-organizadas e marcando presença num espaço público, de deliberação e decisão, redefinido e alargado pela dinâmica das suas acções".

msp