Num artigo de opinião que aparece na edição de ontem do jornal Público, Filipe Duarte Santos descreve como os agentes que procuram consolidar ou incrementar o seu Poder, estão a lidar com a emergência duma sociedade cada vez mais interligada, e com os enormes fluxos de informação daí resultantes. A importância que tais agentes, desde aqueles que estão formalmente associados a Estados, aos que actuam directamente em prol de interesses privados, dão ao acesso à imensa quantidade de informação produzida em cada momento torna-se óbvia, quando se constata o modo como o governo dos EUA reagiu às revelações de Edward Snowden, ou a escala do esforço colocado na tentativa de enfraquecimento duma nova lei de protecção de dados no seio da União Europeia. Este esforço, aparentemente liderado pelas empresas que gerem uma parte significativa da informação digital gerada, demonstra a falsidade das suas promessas de respeito pela privacidade dos utilizadores das suas plataformas. Em parte, tal resulta da pressão que os mais variados Estados colocam sobre essas empresas para permitir, nem que seja de modo não-oficial ("não quero saber, nem vou dificultar"), o acesso à informação existente nos seus servidores.
Independentemente das tentativas que possam surgir para impedir, ou meramente mitigar, o desenvolvimento de instrumentos de aquisição e análise de todo o tipo de informação digital, é óbvio que se revelarão completamente ineficientes. Existe uma convicção de tal modo enraizada de que mais informação equivale a mais Poder, que nenhum agente determinado em manter ou expandir o seu Poder parará perante imposições legais. O que podemos assim esperar no futuro, provavelmente não muito distante, é o aparecimento de instrumentos cada vez mais sofisticados, com vista à aquisição de dados imediatamente após a sua produção, e análise em tempo real (ou seja, suficientemente rápida para permitir uma reacção à informação colectada). Uma das áreas onde tal evolução tem ocorrido com mais rapidez é na área da especulação financeira. A quantidade de dados potencialmente relevantes para a elaboração duma reacção optimizada tendo em conta objectivos pré-definidos, e a rapidez com que esta tem de ser tomada, inevitavelmente levará ao desenvolvimento de algoritmos capazes de imitar os atributos da inteligência humana. O objectivo do super-analista será o motor mais relevante para o desenvolvimento do velho sonho, ou pesadelo, conhecido por inteligência artificial. Será então possível alocar um espião-analista a cada ser humano, incubido de vigiar e interpretar todas as comunicações digitais por ele efectuadas.
No entanto, não desesperemos. Nenhum sistema é invulnerável. E à medida que a importância atribuída à informação digital crescer, é expectável uma diminuição do esforço colocado na aquisição e controlo da informação partilhada por meios "analógicos". Se hoje cada vez mais insurreições nascem da partilha de informação por meios digitais, é provável que no futuro o seu sucesso resida na informação que é trocada fora desses meios. Preparemo-nos.
25/07/13
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