14/09/13

O mito do policiamento de proximidade



Uma das ideias que vejo diversas vezes repetida nos programas autárquicos de esquerda é o do policiamento de proximidade. A sua defesa tende a surgir como alternativa, embora não se possa estabelecer uma relação antagónica, à videovigilância ou ao reforço do policiamento, medidas tendencialmente reivindicadas pelos partidos do centro e da direita.

A ideia merece alguma reflexão. Em primeiro lugar, porque o cenário da sua aplicação em alguns bairros habitados, a título de exemplo, por uma população mais envelhecida não nos parece difícil de imaginar (esperemos, no entanto, pela aplicação da lei das rendas nos próximos anos). Em segundo, e por mais remota que esta possibilidade possa parecer à primeira vista, o maior contacto entre autoridades policiais e habitantes de um bairro não implica, necessariamente, o mero contágio dos segundos por parte dos primeiros. O contrário também pode acontecer. Uma das lições do processo revolucionário de 74/75 é a da fabilidade das fronteiras que separavam as casernas militares do que acontecia ao redor.

Porém, basta ruírem as bases da paz social para que o projeto caia completamente por terra. A pertença a uma comunidade de bairro não se define por uma política de sorriso ou de delicadeza. Tampouco a questão se resolve com umas visitas ocasionais a casa ou por dois dedos de conversa no café. A pertença a uma comunidade implica uma escolha que, por vezes, é exclusiva. Não se podem garantir as condições necessárias ao cumprimento de uma ordem judicial de despejo e encontrar-se, simultaneamente, «próximo da comunidade». E, numa conjuntura de austeridade que assume proporções cada vez mais estruturais, a relação de compatibilidade entre lei e comunidade será cada vez mais difícil de conseguir. Ou se estará com uma ou se estará com a outra.   

1 comentários:

Anónimo disse...

Esquerda, Direita?

O Srº António Costa, simpático socialista, ofereceu recentemente à cidade um importante investimento social:

«As 27 câmaras que compõem o sistema de videovigilância do Bairro Alto começaram a ser instaladas em janeiro, depois de, no fim de 2012, a Câmara ter assinado contrato com a Navserver, a empresa que ganhou o concurso público, com um orçamento de cerca de 200 mil euros.»