23/09/13

Vários momentos, o momento: as relações laborais no país da austeridade

Em Portugal, o período de férias é conhecido por silly season, um termo representativo de algumas notícias e debates acerca de temas e/ou acontecimentos de pouca relevância, que noutra altura do ano nem sequer viriam a público. O conceito é, por isso, útil, na medida em que categoriza qualquer assunto como irrelevante, independentemente do seu cariz. Este artigo parte exatamente de algumas peças de alegada importância duvidosa e que suscitaram pouco ou nenhum debate. O tema convocado é o trabalho, assinalando estas notícias pequenos momentos de um momento total, desenvolvidos à sua medida e imagem, com poucas ou mesmo nenhumas nuances.

1.
Na primeira metade de 2013, menos 195 mil trabalhadores passaram a ter a sua condição laboral regulada por contratos coletivos de trabalho, correspondendo ao valor mais baixo de sempre. A redução, que no espaço de uma década atingiu os 80%, prende-se não só com a diminuição do número de convenções coletivas publicadas mas igualmente com o menor número de portarias de extensão. Herança de um período em que o Estado procurava intervir de forma mais assertiva nas empresas, estes dispositivos garantiam, como o próprio nome indica, a extensão das regalias a trabalhadores não filiados nos sindicatos signatários dessa convenção, assegurando desta forma a igualdade de condições no setor. Impulsionada pela crescente ausência dos sindicatos em empresas cada vez mais pequenas, logo, com um cada vez menor número de trabalhadores – algo já diversas vezes aqui analisado (veja aqui) – a diminuição do número de contratos coletivos apresenta contornos interessantes. De acordo com fonte da União Geral de Trabalhadores, verifica-se agora uma predominância de acordos de empresa e acordos coletivos (celebrados por um grupo de empresas).

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